terça-feira, 8 de novembro de 2011
Escrever é preciso.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Da janela dele.
A meninada costuma se aproximar e fazer uma abordagem rápida, certos de que se não for assim as pessoas se desviam logo com passos ainda mais rápidos do que os deles. Passos rápidos, cabeças baixas. Eu não costumo andar assim e lá ia observando ao meu redor. Ao ensaiar uma aproximação, o menorzinho deles cruzou diretamente com meu olhar e pareceu se assustar. Eu sorri. Ele pareceu se assustar de novo. Mas também sorriu e se aproximou perguntando se eu não daria algo para ele comer.
Enquanto eu mexia na minha bolsa pensando se deveria dar dinheiro, comida ou nada, me assentei em uma das mesas dispostas ali na calçada, com ele na frente me olhando. O curioso é que havia uma centena de olhares sobre nós dois, vindos de dentro da lanchonete. E eles eram de preocupação, de medo, como se eu estivesse a um segundo de ser atacada por aquela criaturinha na minha frente. Me olhavam como se eu fosse a vítima, sem lembrar que a vítima era ele. Sim, vítima de um mundo que separa com um vidro duas realidades que existem ao mesmo tempo sem se misturar.
A verdade é que enquanto eu ouvia aquela criança inteligente e esperta me responder que não tem pai, que sua mãe trabalha de dia e de noite, que não ia comprar drogas porque só cheira (não sei exatamente o que) quando está com muita fome, que às vezes vai à escola de manhã, que quando crescer quer ter um computador e ser jogador de futebol e que ele é proibido de entrar no McDonald’s, eu só conseguia pensar que tem coisa muito errada e fora do lugar. Me deu uma espécie de tristeza cheia de raiva. Cheia de vontade de entrar naquela lanchonete, tirar todo mundo lá de dentro e colocar aquela criança assentada na mesa que quisesse com um “McLanche ‘muito’ Feliz” na frente.
Aquelas mesmas pessoas que andam de olhar abaixado fora da lanchonete, levantam seus olhares quando estão dentro. Aí vêm os governantes com uma dezenas de teorias à respeito de dar ou não comida ou dinheiro para estas crianças que moram ou vivem nas ruas. Mas quer saber? Para mim, são um bando de covardes e inertes. A turma dos olhares abaixados e os governantes. Eu segui meu coração. Quis dar alguma coisa para aquela criança. Nem que fosse um segundo da minha atenção e uns trocados. Não é tão diferente assim das bolsas-qualquer-coisa inventadas como paliativo de uma doença social crônica.
Poxa, aquele menininho assentado na minha frente com os braços escondidos de frio dentro da camiseta relaxada não é capaz de fazer a ninguém um terço do mal que é feito diariamente a ele. Ele é colocado à margem de uma sociedade inteira, que não o encara nos olhos, para fugir daquilo que ele representa. E quando eu falei de covardes e inertes nem eu mesma sei exatamente a que estaria me referido. Talvez da falta de vontade das pessoas de mudar o mundo, fazer trabalho voluntário, revoluções, rebeliões, fazer ao menos nossa parte. Talvez da volta para casa, da virada de costas, do abaixar de olhar como se isso tudo não fosse um problema nosso. Porque é isso que todo mundo faz todo dia, é isso que aquele bando de gente tomando Coca-Cola estava fazendo ali.
Por um segundo eu olhei para o mundo com os olhos daquele pequeno garoto que teve que aprender a se virar sozinho e é só uma estatística para a maioria das pessoas. Por um segundo eu olhei pela janela dele. E quer saber? O que eu vi não foi bom. E pior foi imaginar que é a única paisagem que ele tem para olhar todos os dias. A janela dele não mostra outra coisa, nunca. Eu só acho que estas crianças tinham que estar brincando. Que Luiz Otávio (ou Pedro ou João) tinha que estar em uma roupa quentinha e não com seus bracinhos escondidos de frio na camiseta velha. Tinha que ter uma cama, um chuveiro. Um livro. Um carrinho. Uma bola. Tinha que ter um pouquinho de amor e algum lugar para onde correr quando as coisas não estiverem boas. E na maior parte do tempo não estão.
Ainda na dúvida entre comida e dinheiro, entendi que queria mesmo era dar um abraço naquele humaninho pequeno com olhinhos de jabuticaba. Mas não dei. Coloquei cinco reais na mão dele e assisti ele correr até a farmácia ali na frente, comprar um pacote de biscoitos, depois voltar correndo para me devolver o troco, que eu seguramente não aceitei. Passei a mão na sua cabecinha e fui embora depois que ele sorriu para mim e voltou gritando e correndo para o encontro dos seus companheiros de difícil estrada.
E sei que ele soube que eu não estava com medo dele como a maioria das pessoas. E que tenho um medo enorme do que ele representa na sociedade em que vivo. E também soube que a vida dele e a minha seguiriam iguais quando eu virasse as costas, mas de alguma forma ele se sentiu bem ao meu lado e eu também me senti assim. Por um segundo eu fiz parte do mundo dele, ou ele parte do meu, não sei ao certo. Sei só que as crianças não deveriam estar nas ruas. Nunca.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Vintes e poucos anos.
Ela tem seus vinte e poucos anos e cresceu cercada de pessoas que acreditavam que ela era de cristal e quebrava fácil. Cresceu com seu castelo cercado de muros altos. Era o castelo de uma princesa. Ela morava no lugar mais seguro, no alto da torre. Por isso se tornou o tipo de garota que acreditava nas pessoas. Em boa intenção. Em promessas cumpridas. Acreditava que sempre seria o centro do mundo daqueles a quem dedicou algum tipo de amor. Acreditou também que nunca alguém ia partir seu coração. Acreditou que as pessoas escolhidas para dividir sua vida iam cuidar dela.
Ela tem seus vinte e poucos anos e ele não cuidou. Logo ele. Não agiu bem. Disse umas palavras ruins. A fez algum mal. A fez sentir coisas que havia prometido que não faria. A qualquer uma, a ela jamais. Ele chamou isso de mostrá-la a realidade. Ela desejou que ele nunca tivesse devolvido seus pés ao chão. O odiou por uns instantes por tirar aquilo que mais amava em si mesma: a capacidade de achar que todas as pessoas fariam sempre de tudo para vê-la feliz. Ela fez isso por ele enquanto pôde.
Ela tem seus vinte e poucos anos e naquele dia soube que se é difícil ver alguém saindo da sua vida, mais difícil ainda é perceber que o faz simplesmente por não precisar mais de você. Ela levantou da cama, se olhou no espelho. Os olhos vermelhos, o cabelo atrapalhado. Olhou para seus livros e lembrou de quantas histórias bonitas de amor e amizade eram contadas ali. Se deu o direito de só estar definitivamente em uma história se se parecesse com a dos livros. Lembrou de estar no colo de seu pai alguns anos antes e dele descrever qual o tipo de homem a mereceria um dia. Depois de trabalhador, honesto, inteligente, a descrição terminava com algo mais ou menos assim: “tem que ter certeza do tipo de jóia que tem em mãos”. Ele não tinha.
Não foi por acaso que ela cresceu a princesa do papai. Não é por acaso que a vida dela é um conto de fadas. Não vai ser por acaso que o final dela vai ser feliz. E foi ali mesmo, de frente de sua imagem triste no espelho que ela pensou: ele vai lembrar de mim.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Me basto, às vezes.
Quem me conhece é bem capaz de compreender quantas coisas eu teria a escrever em dias como estes. E teria mesmo. Certamente se houvesse um limite de caracteres eu os ultrapassaria. Mas não vou. Não quero. Prefiro meu silêncio, falar sobre coisas simples.
Especialmente hoje, um dia diferentemente difícil, por coincidência ou não recebi mais convites do que costumam aparecer em quintas-feiras. Shopping com as amigas, japonês, chopperia, bar, boate, ver filme sem legenda na casa do melhor amigo, ligação de duas flores da minha vida. E, então, logo eu que não sei dizer não a quem eu gosto, disse. Disse um não silencioso, diferente de quando os tenho que dar cheios de pesar. E eu também não sei se tantos convites foram um sinal para que me lembrasse de quanto carinho as pessoas tem pela minha vida. Ou apenas a sensação delas de que não seria um bom dia para eu estar sozinha. Depois de pensar onde é que eu deveria estar defini que por hoje minha companhia me bastaria. Saber que não estou sozinha por hoje me bastou. Por hoje.
Dizem que todos os dias de nossas vidas devemos fazer coisas que nos façam sentir bem. Eu fiz. Resolvi passear comigo mesma. Em plena quinta-feira comi uma promoção-do-cheddar-com-coca-comum-batata-frita-e-molho-barbecue; lendo o livrinho indicado aqui ao lado, com roteiro apropriado ao momento. Depois ao invés de voltar de táxi como eu faria na situação atual (meus pais estão viajando e eu não dirijo), resolvi pegar um ônibus. E quer saber? Não estou enlouquecendo, mas eu não queria descer. Não queria que acabasse o trajeto, porque o barulho do motor me embalou e cochichou baixinho no meu ouvido que tudo sempre acaba bem e que a vida é boa demais para nos permitirmos tantos incômodos. Daí eu cheguei sozinha em casa, não tem ninguém por aqui hoje além das minhas coisas, da minha vida. Meus pais viajaram e foram de coração partido acreditando que eu precisava deles neste momento. Se enganaram. Eu nunca precisei tanto de que eles não estivessem por aqui.
E cá estou. Meus livrinhos aqui ao lado. Meus sapatos perto da porta da sala. Eu. O barulhinho destas teclas ecoando pela casa afora. Um pilha de dez comédias românticas que eu não tive coragem de assistir sozinha. Não ainda. Talvez amanhã. Silêncio. Até consigo pensar que faltam umas risadas, umas vozes, uns amores, amigos e vinhos. Peguei o telefone. Ia arrumar companhia para acabar com esta calmaria. Depois mudei de idéia. Fiquei a pensar que ninguém mais pode me ser uma companhia tão boa quanto eu mesma. Não vou entrar nesta de me arrepender de não estar distraindo minha cabeça por aí. Ou mesmo por aqui. Melhor lugar para os meus pensamentos é em mim. Tentei acabar um email que não saiu. Pensei. Dormi fora da hora e acordei querendo respostas que estão dentro de mim. Ainda acredito que as terei em tempo e lugar certos. Agradeci a Deus por me dar sabedoria, paciência e serenidade. E tive a ousadia de pedir um pouco mais ainda.
Há dias em que me basto. Há outros que não. Que nos próximos minhas companhias sejam capazes de me lembrar que a vida é hoje. E não há tempo para parar no tempo. Seguindo em frente, um dia de cada vez.
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Ciclos hormonais.
Sob todas as óticas aquela que me deu o apelido de esquisitinha me surpreendeu. Okey, eu já cresci e não é para eu me tornar esta manteiga derretida cada vez que se mudar um vizinho do bairro, um colega de trabalho for embora, ou uma amiga tiver que morar fora. Afinal de contas, ela não está vai a lugar nenhum, não é? Só está saindo da minha rotina. Mas o problema é este. Eu não gosto que mexam na minha rotina. Ela sabe disso. Não gosto destas mudanças. Poxa, durante dois anos aquela esquisitinha foi a pessoa com que eu passei mais tempo dos meus dias. E a gente dividiu um caminhão de experiências que eu não quero deixar de viver. Foram muitos almoços, foram muitas tardes, foram muitas discussões jurídicas e trocas de conhecimento. Foram muitas risadas, ora abafadas, ora escandalosas. A gente se ensinou umas coisas, sobre o direito e sobre a vida. Compartilhou o que há de pior e melhor em nós. Nos ajudamos, profissionalmente e emocionalmente. Quantas vezes eu corri pra ela. Mesmo sem que ela soubesse. Como eu fui feliz em ter a maior confidente da história ali ao alcance dos meus bracinhos magricelos. Tão perto que quando eu precisei de socorro nem foi necessário gritar. Bastou um cochicho ou um olhar. E ela ouviu mil histórias, as mesmas por mais de uma vez, ouviu minhas contradições, ouviu os sonhos da minha vida mudarem como mudei de roupa. Também trocamos dicas de moda. E de maquiagem. E de manuais de direito. Ela me achou louca e esquisita, mas sei que também me achou equilibrada e doce. E que me amou por tudo isso. E ela agüentou - com uma doçura que acho que nem ela sabe que possui - minhas manias, humores e crises. Primeiro aprendi a gostar dela apesar do que ela é. Depois, gostei dela exatamente em razão do que ela é. Ela mata barata, troca o galão de água, arruma eletrodomésticos, sabe cozinhar, dirige bem, mora sozinha, não sabe se vai casar, nem se vai ter filhos, vai ser promotora, vai fazer doutorado, detesta fazer escolhas, é tão preocupada com a balança quanto eu, acha que pizza emagrece, só lê livros jurídicos, faz dancinhas estranhas, fala um monte de besteiras. Os dias iam passando e eu me perguntando como é que duas pessoas tão diferentes podiam ser tão parecidas no fim da história? Ela: um pé no chão; eu: um pé no céu. Ela: dúvidas; eu: certezas. Ela: criminalista má; eu civilista louca. Ela: razão; eu: emoção. Ela: de gêmeos; eu: de leão. Ela: minha amiga; eu: a dela. E foi assim que hoje, entalada, querendo evitar o abraço de despedida, descobri que nossos pés e gênios trocaram muitas vezes de lugar, sem que nós pudéssemos perceber. Meu pé foi ao chão, o dela ao céu. Minhas certezas viraram dúvidas, as dúvidas dela certezas. Minhas emoções foram racionais; as razões dela emotivas. Diz a sabedoria popular que quando duas mulheres se tornam muito amigas seus períodos hormonais acontecem ao mesmo tempo. Depois de dividir tortas holandesas, brigadeiros, lanches, sobremesa e sorvetes percebi que nossos desejos não eram coincidências. A gente sobreviveu por pouco, porque - sim -, na última sexta-feira juntas nós descobrimos: agora nossos ciclos menstruais são iguais. Vim registrar minha despedida aqui, pois apesar de saber que ela não concorda com metade do que eu digo, sei também que ela sempre vem ver as coisas estranhas que eu tenho a falar sobre a vida. No fim das contas está respondida a pergunta lá de cima. Deu para entender um pouco porque é que certas pessoas entram em nossas vidas. Só não dá para entender porque é que uma hora elas têm que sair. Vou sentir saudades.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Parte da minha graça.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Prometo tentar.
Mas tem algo que me incomoda mais a cada casamento que vou e sempre me faz cochichar no ouvido dele, que normalmente está ao meu lado. Está lá o padre a celebrar a missa e põe cada um dos noivos para dizer, querendo ou não querendo, que: "promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-o e respeitando-o até que a morte os separe."
Neste momento, fico com uma vontadezinha lá no fundo de levantar a mão e dizer: "Você me dá um minutinho, seu padre? Preciso de esclarecer isso melhor porque acho que tem algo errado aí."
Infelizmente minha mania de querer tudo tão bem explicado, tão em seus devidos lugares, não me permite abstrair e aceitar que faz parte da tradição. Não dá para simplesmente dizer aquilo ali, como parte do teatro, sem reparar no que significa realmente. Se é para viver a tradição, que seja sentindo o que cada parte daquilo representa de verdade. E é por isto, que se eu for dizer alguma coisa em um momento que é para ser tão especial, vai ter que ser algo em que eu acredite.
Eu não falo nada por falar e olha que eu falo até muito. Gosto de que as pessoas tenham a compreensão exata do que sinto, preciso, vivo ou respiro. Por isso não acho que casamento seja o lugar mais adequado para que se prometa algo que não se pode garantir que vá cumprir. Não vai dar para constar isso no meu casamento não e se tiver ao meu alcance serei obrigada a fazer umas adaptações.
Porque espera aí. Quer dizer que perante Deus, no que chamam da casa dele, e na frente de centenas de pessoas, no dia em que se escolhe viver feliz para sempre, você vai prometer, sem queimar a cara, uma coisa que você nem sabe se pode cumprir? Porque você vai me desculpar, mas não sabe não.
Você pode prometer que vai tentar. Aí sim. Porque não faria sentido algum que uma dupla que escolhe se submeter a uma das convenções mais tradicionais da história não vá tentar. Claro que vai. Só que vou me valer da lógica do método matemático que resolve muitos problemas na vida: tentativa-e-erro. Você vai tentar, por diversos caminhos, a cada vez de um modo diferente fazer seu par feliz. E vai ter que cometer erros, e aprender com eles, até atingir o melhor que pode ter da sua relação. Tentando-e-errando.
Então, se não sabe se vai cumprir, não promete. Não diante de tantas pessoas que só querem seu bem. Não olhando nos olhos dele. E que fique claro que não se trata de falta de romantismo, ao contrário. Ainda acredito em príncipe e princesa. Ainda acredito em felizes para sempre. Mas tenho que ser prática, tenho que aceitar que há muitos caminhos a serem percorridos e muitas coisas a serem compreendidas antes de duas pessoas entenderem como poderão se completar e se fazer realmente felizes. Se é que poderão.
Então, a quem estará no meu casamento, não espere que eu prometa algo que eu não tenho certeza de poder cumprir. Eu não sei se vou ser sempre fiel e nem quero que ele me prometa que irá, se também não sabe. Eu não sei se vou amá-lo para sempre, porque ninguém tem certeza da eternidade de um amor. Eu não sei se estarei ao seu lado em todas as alegrias, tampouco em todas as tristezas. Nem ele sabe. Então não me peça para prometer. E não me prometa.
Eu quero que me prometa é que se me magoar, vai pedir perdão. Que se estiver ruim, vai passar. Que vai ter bom humor. Que não vai me responsabilizar pelo que não sair bem. Que sou a melhor amiga que já teve. Que moletom ainda é a roupa em que me acha mais bonita. Que eu sempre poderei usar minhas saias curtas. Que nunca vai deixar o trabalho sufocar nossa rotina. Que teremos uma rotina. Que vai me levar café na cama. Que vai levantar de madrugada para olhar nossos filhos. Que vai matar as baratas e trocar o chuveiro queimado. Que vai abrir a porta do carro. Que vai fazer supermercado comigo. Que vai me tratar sempre como princesa.
Só te peço isso: prometa coisas que possa garantir que vai cumprir, que dependam só de você. Prometa que no dia do nosso casamento vai me olhar com os mesmos olhos de carinho de tantas vezes, arrumar minha franja e me deixar saber que você vai fazer o que for possível para que a nossa vida seja boa. Prometa tentar. E isso eu prometo também.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Esquecer para viver.
Me lembro do amigo que me levou para casa, com uma expressão de dor que resisti a enxergar, enquanto tentava me prometer, - sem conseguir -, que meu irmão estava bem. Existe uma carta pronta para ele, há cinco anos, que nunca foi entregue. Ele é a pessoa que eu sempre quero ver quando duvido que as coisas possam ficar bem na minha vida. É que sua lembrança me dá segurança, segurança de que, pior do que está não vai ficar. Me lembro também do olhar do meu pai, que me deu a notícia sem ter que dizer sequer uma palavra. Me lembro de nesta hora sucumbir à dor e ir para o chão. Me lembro da primeira ligação que recebi, daquele loiro tatuado. E da primeira que fiz, para uma velha amiga Milú. Me lembro de enviar uma mensagem para um amigo, sem nunca ter tido resposta. Me lembro da voz da mãe da Ana. Me lembro da minha prima Dani me deitando no colo, mexendo nos meus cabelos e me pedindo para dormir um pouco. Me lembro da expressão do Thiago ao chegar da faculdade. Me lembro dos gritos da minha avó. Me lembro do meu amigo Dani chegando quando todos já haviam ido embora e de não querer sair dos seus braços. Me lembro de procurar na voz das pessoas um conforto que não cheguei a ter. Me lembro de acordar sem ter conseguido dormir, na cama dos meus pais, com o choro deles me dizendo que não tinha sido um sonho ruim. Me lembro de outras tantas coisas e, principalmente, das pessoas, dos olhares, de todo amor (e dor) que havia ali.
Me lembro de coisas que prefiro esquecer. E esqueço. Esqueço para poder viver.
terça-feira, 10 de maio de 2011
De volta para mim.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Caberá só a mim entender.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Minutos de silêncio.
Meus pais sempre trabalharam na área de educação. Ganharam a vida assim. E sei que na verdade ganharam muito mais. Sei que professores e quem trabalha assistindo as crianças crescerem é que aprendem de verdade. As crianças aprendem a ler, aprendem os números, aprendem geografia. Mas as lições aprendidas por quem ensina, estas sim, são lições para uma vida inteira. Sei que meus pais são pessoas melhores em razão da carreira que escolheram. E também sei que sempre viverão para isso. De alguma maneira eu os invejo porque minha carreira não tem certas doses de sensações que eles vivem diariamente.
Hoje, foi dia de tragédia. Dia de clima ruim. Dia de chegar no trabalho e assistir a olhares distantes, a um silêncio triste e decepcionado com a notícia que nos deu bom dia. “Crianças foram mortas por atirador dentro de escola.” A sala de aula e a escola são lembranças boas. Pelo menos pra mim são. São lembranças das primeiras amizades. Dos primeiros amores. Das primeiras vitórias. Vitórias... O que se viu acontecer hoje dentro daquela escola é a maior derrota do ser humano. É o pior lugar onde se pode estar. É o fundo do poço. Se isso não fosse ruim demais para se dizer do fundo do poço.
Poxa, crianças são o que, seguramente, restou de bom para o mundo. Crianças nos devolvem o que ainda há de inocência dentro de nós. Nos permitem o real, espontâneo, puro. Puras. Crianças são puras. São felizes. E nada é mais gostoso do que a sensação que me remete as risadas soltas dadas pelos pátios e salas de aula. Criança ri de tudo. De nada. Criança ri, sorri, corre, brinca. Criança acredita. Criança alcança. Criança só quer chocolate. Ou colo. Ou dar as mãos. Criança canta. Encanta. Eu me amo o dobro quando consigo ser a criança que eu insisto em ser. É difícil imaginar de onde vem coragem para tirar por um segundo sequer o sorriso da boca de uma criança. Não é coragem, é covarde. Perto de onde trabalho tem uma escola. Toda vez que passo ali só consigo ter esperança. Só consigo acreditar em um futuro bom. Porque acho mesmo que aqueles rostinhos carregam uma responsabilidade enorme consigo.
Eventos como os de hoje partem meu coração. Me tiram as palavras. Elas que normalmente transbordam, em dias como hoje, restam entaladas. Entala a garganta, o coração. Aperta um nó dentro do peito. Como desculpa (que procuro para tudo), só posso tentar crer que este “cara” não freqüentou uma sala de aula. Não aprendeu as palavras, os números. Nem o amor. E ele só deve ter colocado em prática o que aprendeu em algum lugar por aí. Hoje o post não é desabafo, não é necessidade. É só um registro de uma energia muito positiva que de coração eu passei o dia enviando às famílias que eu nem conheço, mas que, definitivamente, devem ter passado pelo pior dia de suas vidas. Muito triste. Qualquer hora ainda vamos compreender um sentido ou uma razão para dias como este.
Sem inspiração, por hoje é só. Minutos de silêncio.
Paz e amor (sem clichê). Paz e amor para o mundo.
segunda-feira, 28 de março de 2011
Um jeito de levar a vida.
segunda-feira, 21 de março de 2011
(Não) são só palavras.
sexta-feira, 11 de março de 2011
Só mais uma de amor.
Ela iria.
Estava calor, tinha biquíni, caipivodka, cerveja, churrasco. E também um celular tocando esquecido em cima da mesa daquele quiosque. O bobo alegre a olhou de dentro da piscina e com um olhar inocente a pediu pra interromper a música do Charlie Brown Jr. que servia de toque pro seu celular, o fazendo parecer mesmo um carinha sempre na área, com escritório na praia.
Ela, prestativa e doce, foi atender. Na tela do celular, a caixa de entrada das mensagens anunciou um contato freqüente, quase infindável, entre ele e uma desconhecida de nome não familiar. Enquanto ele ria e se divertia na piscina, ela variou entre a náusea, ânsia e os enjôos que a separavam de um universo do que não fazia parte. A opção correta era apertar o "xiszinho" lá no cantinho direito e imaginar que aquela estranha não se tratava de ninguém que merecesse atenção naquela tarde feliz de sábado.
Mas só que o botão “Sair” é para os fortes, para os equilibrados, para os sensatos. É para quem tem motivos e amor suficientes para segurar esta onda. Ela não tinha. E não era, nem uma coisa, nem outra, nem outra; nem equilibrada, nem forte, nem amada. Ela era apenas uma louca apaixonada aguardando ansiosa o sapo virar príncipe. E eu já disse que ela ainda não sabia, mas nunca viria a acontecer.
Aquela caixa de entrada guardava detalhes íntimos de um outro casal, formado com a ajuda do par que ela achava ser dela. Achava, mas não era. Detalhes íntimos, carinhos, palavras, ritmos e cores parecidas com as que ele utilizava para encantá-la. Era outra história, construída e vivida ali, à sombra da dela. Ou ela é que teria estado à sombra da outra história? Ela é que teria sido a coadjuvante, o personagem secundário da vida dele?
Ela foi embora. Deixou o copo pela metade, a bolsa de praia, um coração espatifado e os sonhos de viver uma história só dela. Tudo ao som daquela musiquinha antiga tocando na versão em pagode, que ensinava que o amor não precisa de ser uma história com princípio, meio e fim...Ou precisa? Ela nem olhou pra trás. Virou as costas e foi. E o que nunca veio a começar, acabou ali. Daquela tarde de sábado em diante nunca mais ela foi dele, nunca mais ela se permitiu ser aquela menina que viveu uma história-de-não-amor. E foi assim que tudo terminou.
Ela sentia saudades, às vezes.
Me lembro de ouvir dizer, depois deste dia, que ela chorou, escondida, naquele banheiro de higiene duvidosa. Era domingo, era samba e ela não conteve as lágrimas após ouvir dizer da boca do recém conhecido menino de boina, all star e fala mansa que ela era linda e que seus olhos tinham algo diferente que ele não sabia o que era.
Ela sabia. Era o brilho pertencente aos donos de corações partidos.
E lá foi ela, atrás de novos amores.
terça-feira, 1 de março de 2011
Eu só não aceito.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Estrela no teto.
Hoje estava aqui, esperando baixar um arquivo e dei uma espreguiçadinha, estiquei, balancei os cabelos e olhei pra cima. Tudo automático, coisa que se faz todo dia. No teto deste quarto em que já estive por tantos anos, vi, pequenininha, esquecidinha, já pintada da cor nova do teto, uma estrelinha.
Sim, uma estrelinha. Lembra daqueles adesivos de estrela feitos para colar na parede, que brilhavam no escuro? É. O quarto dele passou longos anos da nossa infância com o teto cheio delas. Eram muitas e lindas. Agora é só uma, mas tem um brilho eterno.
Me lembro de papai chegando em casa com uma cartela delas e de termos passado a noite assentadinhos lado a lado, no chão do quarto, perninhas de índio, com olhinhos brilhantes assistindo nosso pai em cima da cadeira, colando as estrelinhas no teto, nos olhando de minuto em minuto, com aqueles já conhecidos, - e naquele tempo mais radiantes que nunca -, olhos de diamante.
Me lembro, ainda, que durante anos e anos, quase todos os dias antes de dormir, eu e meu irmão apagávamos a luz do seu quarto e passávamos uns minutos ali, olhando as estrelas, como se fossem mesmo o céu, como se o teto daquele quarto pudesse ter a dimensão do infinito do universo. E acho mesmo que podia.
Depois das estrelas, ainda vieram uns adesivinhos verdes, esquisitos, acho que eram Et’s. Hoje pode parecer engraçado, mas era tudo parte da magia, de um dia-a-dia cheio de fantasia, mágica e pequenos marcos feitos para nunca serem esquecidos. Pra você pode ser só um adesivo bobo no teto, pra mim é parte dos dias mais felizes que já vivi.
Por alguns anos foi meu programa preferido, meu lugar seguro. Olhar aquele teto brilhante a cada noite, cheio de estrelas e seres verdes de outros planetas, era uma mistura doce de ansiedade e felicidade, que plena assim, só mesmo as crianças têm. Felicidade plena para quem a vida se resume a viver, sorrir, amar e ver estrelas no teto do quarto.
Depois, passou o tempo, as estrelas se tornaram só adesivos infantis e foram tirados dali. Menos esta. Menos uma estrelinha que tantos anos depois, está aqui, solitária, esquecida, a me olhar, a nos olhar diariamente, sem que eu sequer houvesse reparado. Agora, serve para me lembrar que muito fica pra trás, mas há sensações que sempre vão existir, no coração, nas memórias, nos sinais, nas lembranças. E se existem sinais, pra mim este é um deles.
É só uma lembrança. Uma lembrança suave. E até um pouco dolorida. Mas é o que eu tenho de mais valor por hoje.
Uma estrela no teto.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
A-normal.
E a palavra de hoje é equilíbrio.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Ou não?
Hoje, sem motivo aparente, passei a noite inteira acordada. Literalmente, inteira. Minha pressão é baixinha, não sou de ter problemas para dormir, mas hoje nada me fez pregar o olho. Desisti. Fingi que noite era dia. Aí li, vi televisão, acendi a luz, rolei na cama, pensei na vida, escrevi umas coisas sem sentido, outras nem tão sem sentido assim, mudei de livro, liguei o ventilador, quis ir pra cama dos meus pais, não fui, fiquei assentada na cama olhando pro nada, desliguei o ventilador, chorei vendo um filme bobo, vi o dia amanhecer! Não sei se chorei de desespero – porque não conseguir dormir dá um certo desespero – ou porque possa haver algo me incomodando que eu não saiba.
Mal eram 9:00 horas e eu liguei em uma repartição pública para pedir uma informação. Ó GOD! De onde que eu tirei a idéia de fazer isso logo hoje? Vontade de mandar um palavrão, para o tal, mas como não pratico este espécie de não-gentileza, me limitei a dizer: "O Sr. é muito mal-educado, obrigada por nada, Marcelo. Tchau!". No pensamento a frase se completou: ("Você devia me tratar com carinho e fazer minha vontade porque hoje eu estou muito tristinha"). Mas também não falei isso e desliguei com um ímpeto de ir até a tal Vara, rasgar todos os processos e ir embora. Okey, eu sei que se ainda quero advogar mais uns anos, é bom que eu consiga me conter um pouco.
Tenho um pouco de preguiça de não acordar legal e não é preguiça de me aguentar. É preguiça do resto. É que hoje em dia parece proibido não estar bem. Sou obrigada a usar meu melhor sorriso, mesmo se eu não quiser. Me deixa, que coisa. Quer algo mais natural do que isso? Do que não estar afim de viver um dia como todos os outros? Tem graça viver, mas hoje eu não estou afim. Tenho o direito, ou não? Tenho o direito de acordar assim, sem ter que ouvir que não tenho problemas suficientes ou que eu deveria procurar um médico.
Com todo respeito, mas se sua resposta for sim, louco é você! Eu entendo minhas tristezas, ou pelo menos, tento entender. Pior é você aí, que finge não as ter, finge não as entender ou as esconde tão bem a ponto de acreditar que de fato não as tem. Guardar tristeza faz um mal danado. Tudo bem, também não gosto de quem se faz de vítima, potencializa problemas, é pessimista ou mal-humorado. Mas gosto menos ainda de quem disfarça tristeza com sorriso amarelo achando que engana alguém além de si mesmo.
Então, aí vou eu, pronta para ficar quietinha, caladinha. Pronta para olhar com olhos de quem quer atenção e carinho; de mãe, dele, do amigo, da chefe, da esquisitinha da mesa da frente, também conhecida como uma das maiores confidentes da história, da amiga morando em Santos, de pai, do Thor e do Lilico. Vou, pronta pra aceitar que hoje não estou legal e que isso é essencial para vida fluir. Com hora e lugar para que tudo seja mesmo como tem que ser.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Não dê nome à sua felicidade.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Eu que preciso.
Não, vocês não precisam entender nada disso.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
A dor do outro.
Falo sobre a morte do meu irmão, falo sobre religião, política e relacionamentos. Falo sobre já ter tido o coração partido e falo dos meus sonhos. Falo da minha família, do mundo encantado em que vivo. Falo sobre desejo, vontade e sexualidade. Falo sobre fidelidade, amizade e simplicidade. Falo sobre indignação, diferença e futilidades.
Mas difícil é falar sobre um medo que é do outro. Sobre algo que eu não experimentei e que parece tão distante de mim que eu preferiria negar, fingir que não existe.
Hoje, o assunto não sou eu. Hoje, faz uma semana que eu criei coragem para assistir às notícias sobre o estrago que as chuvas vêm causando. E, sinceramente, preferia não estar vendo. Mas não deu pra fingir que não estava acontecendo, apesar de me saber fraca porque é isso que eu gostaria de ter feito. Não olhar, pra não doer.
O fato é que enxergar esta dor nas pessoas e imaginar o que elas vem passando me desnorteia um pouco. Cada imagem parte meu coração em mil pedaços e me faz sentir uma dor que não é minha. Cada história contada, cada olhar cheio de sonhos destruídos, vidas esvaziadas, dor de perder quem se ama.
Da minha casa, do sofá da minha casa, é muito confortável olhar pro lado e ver meus pais, meus cães, saber que minhas fotos, cartas e roupas estão no meu armário, que tem água e comida na cozinha e que meu acordar amanhã trás mais uma manhã de paz, muito trabalho e uma felicidade simples, mas plena.
Eu não vou entrar na discussão técnica sobre o cenário, nem discutir os causadores, os problemas, o que poderia ter sido feito pra evitar. Não. Hoje o post é só um jeito de desafogar o vazio que assistir televisão tem me causado.
E será que eu tenho o direito de me sentir angustiada por eles? Será que eu, aqui feliz, sem um problema sequer nesta minha doce vida tenho o direito de me sentir tão triste com uma dor que não é minha? É solidário ou egoísta? É humano ou é confortável? Afinal de contas estou aqui, na minha vida. E vida é o que eles perderam. Casa, pessoas, coisas, fotos. Tudo. E nenhum de nós é capaz de mensurar o que estas pessoas devem estar sentindo.
Cada ser humano tem seu porto seguro! E ao perdê-lo? O que resta, o que sobra? Para algumas pessoas resta apenas a ausência e o sentido passa a ser somente uma busca. Uma busca muito triste e incessante por corpos, para que se ainda for possível garantir dignidade a alguém, que seja aos mortos. Ou pelo menos é nisso que se procura acreditar.
Ainda assim, tem gente lá, por força ou estado de choque, aparentemente, com mais força no olhar, com mais estrutura para suportar esta situação do que nós, do que eu.
Eu vou voltar pra mim vida. Vou lá, trabalhar, respirar, comer, sorrir, abraçar, viver. E o que me ocupa é uma espécie de culpa. E pareça estranho como soa na minha cabeça, mas eu preciso dizer. É uma culpa por estar tão feliz, por não poder, ainda que quisesse, compartilhar um sentimento que é deles. Assistir a tudo me garante uma felicidade intensa. Me garante valorizar bem mais a zona de conforto em que vivo.
É felicidade, satisfação, pena, culpa, solidariedade, compaixão. É intenso. É sufocante.
Nestas horas, vale agradecer pelo que há aqui. E pedir a Deus pelo que há lá.