terça-feira, 8 de novembro de 2011

Escrever é preciso.


Um dias destes uma leitora me escreveu perguntando sobre o vazio no blog. Utilizando das suas palavras, minhas expressões seriam uma libertação das dela. Sim, já fazia dias que não escrevia. Digo, havia dias que não publicava. Escrevo, escrevo, mas não publico. Escrever é só a tentativa de me encontrar. Publicar é abrir minha janela e correr o risco de me perder. Isso eu acho que quem passou umas duas ou três vezes por aqui já entendeu. O problema é quando a janela fechada se torna uma questão de necessidade. Escrever foi um compromisso firmado comigo mesma de que eu ia me mostrar como sou, sem medo de que as pessoas não gostassem do que veriam e sem a menor pretensão de que necessariamente gostassem. Quebrar este compromisso pressupõe falta de coragem. E quando o assunto é a maneira como as pessoas me enxergam o medo não condiz muito comigo. Só eu sou capaz de dizer os caminhos que tenho que internamente percorrer para me encontrar. Só dentro de mim eu entendo tudo aquilo de bom e ruim que há no mundo. São muitas perguntas, muitas inquietações. Passo por muitos lugares antes de definir exatamente aquilo que sou e para onde estou indo. E isso não pode, portanto, depender de como me enxergam. Felicidade é uma questão de ser. Não posso simplesmente ceder. Hoje, diante do pedido–cutucão–sacudida da leitora eu percebi que não dá para fugir de mim mesma. Não gostar do que eu vejo quando olho para mim em algum momento da minha vida não pode jamais implicar em uma renúncia deste tamanho. Ou talvez até possa. No fim das contas já entendi que o que se vê daqui é a paisagem, a casca. Sou e vou além daí, muito além. Não limitaria minha existência às definições. As sempre tão limitadoras definições, que eu repudio mesmo. Sou mais que um ato, um gesto ou um mês. Sou o que eu faço com repetição, sou o que eu quiser ser. Descobri sozinha que quem precisa me aceitar do meu jeito sou eu e aqui dos meus aninhos de experiência não é hora de desacreditar de algo que me segura em pé. Para as outras pessoas sou personagem de uma cena apenas, de uma capitulo só. Não é o bastante. Não me aceito tão pequena, tão justa, tão enquadrada a um conceito ou a um rótulo. Também não pratico preconceitos e por isso não os aceito. Não pratico pequenezas e também não as aceito. Não aceito superficialidades quando o assunto são seres humanos. Preciso tentar entender as razões da minha existência e a dos outros também. Por isso não aceito posições sem justificativas. Justificativas sem fundamentos. Fundamentos que não sejam baseados em verdades. Verdades absolutas demais tem sempre tendência a serem mentiras. Me dou o direito de viver bem, do meu jeito, em paz e aprendi a só brigar com minha consciência, que é quem na prática me oferece o mapa para a liberdade que eu busco. Uma liberdade não afeta a convenções, tabus ou julgamentos. A relação entre minha paz e minha liberdade é assunto para outra hora. Agora é apenas a hora de dizer que eu voltei. Sem nunca ter ido a lugar nenhum. Escrever é preciso.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Da janela dele.


Fim de tarde e fui resolver umas questões fora do escritório. Saí tranquila, feliz da vida e cruzei com uma turminha de crianças reunida perto do McDonald’s. Meninos da rua. Eram três. Os maiores aparentavam ter em torno de seus nove anos, o menor eu diria que não passava de sete. Não é raro que eles estejam por lá, pedindo umas moedas ou um pouco de atenção. As pessoas costumam dar. Moedas. Atenção não.

A meninada costuma se aproximar e fazer uma abordagem rápida, certos de que se não for assim as pessoas se desviam logo com passos ainda mais rápidos do que os deles. Passos rápidos, cabeças baixas. Eu não costumo andar assim e lá ia observando ao meu redor. Ao ensaiar uma aproximação, o menorzinho deles cruzou diretamente com meu olhar e pareceu se assustar. Eu sorri. Ele pareceu se assustar de novo. Mas também sorriu e se aproximou perguntando se eu não daria algo para ele comer.

Enquanto eu mexia na minha bolsa pensando se deveria dar dinheiro, comida ou nada, me assentei em uma das mesas dispostas ali na calçada, com ele na frente me olhando. O curioso é que havia uma centena de olhares sobre nós dois, vindos de dentro da lanchonete. E eles eram de preocupação, de medo, como se eu estivesse a um segundo de ser atacada por aquela criaturinha na minha frente. Me olhavam como se eu fosse a vítima, sem lembrar que a vítima era ele. Sim, vítima de um mundo que separa com um vidro duas realidades que existem ao mesmo tempo sem se misturar.

A verdade é que enquanto eu ouvia aquela criança inteligente e esperta me responder que não tem pai, que sua mãe trabalha de dia e de noite, que não ia comprar drogas porque só cheira (não sei exatamente o que) quando está com muita fome, que às vezes vai à escola de manhã, que quando crescer quer ter um computador e ser jogador de futebol e que ele é proibido de entrar no McDonald’s, eu só conseguia pensar que tem coisa muito errada e fora do lugar. Me deu uma espécie de tristeza cheia de raiva. Cheia de vontade de entrar naquela lanchonete, tirar todo mundo lá de dentro e colocar aquela criança assentada na mesa que quisesse com um “McLanche ‘muito’ Feliz” na frente.

Aquelas mesmas pessoas que andam de olhar abaixado fora da lanchonete, levantam seus olhares quando estão dentro. Aí vêm os governantes com uma dezenas de teorias à respeito de dar ou não comida ou dinheiro para estas crianças que moram ou vivem nas ruas. Mas quer saber? Para mim, são um bando de covardes e inertes. A turma dos olhares abaixados e os governantes. Eu segui meu coração. Quis dar alguma coisa para aquela criança. Nem que fosse um segundo da minha atenção e uns trocados. Não é tão diferente assim das bolsas-qualquer-coisa inventadas como paliativo de uma doença social crônica.

Poxa, aquele menininho assentado na minha frente com os braços escondidos de frio dentro da camiseta relaxada não é capaz de fazer a ninguém um terço do mal que é feito diariamente a ele. Ele é colocado à margem de uma sociedade inteira, que não o encara nos olhos, para fugir daquilo que ele representa. E quando eu falei de covardes e inertes nem eu mesma sei exatamente a que estaria me referido. Talvez da falta de vontade das pessoas de mudar o mundo, fazer trabalho voluntário, revoluções, rebeliões, fazer ao menos nossa parte. Talvez da volta para casa, da virada de costas, do abaixar de olhar como se isso tudo não fosse um problema nosso. Porque é isso que todo mundo faz todo dia, é isso que aquele bando de gente tomando Coca-Cola estava fazendo ali.

Por um segundo eu olhei para o mundo com os olhos daquele pequeno garoto que teve que aprender a se virar sozinho e é só uma estatística para a maioria das pessoas. Por um segundo eu olhei pela janela dele. E quer saber? O que eu vi não foi bom. E pior foi imaginar que é a única paisagem que ele tem para olhar todos os dias. A janela dele não mostra outra coisa, nunca. Eu só acho que estas crianças tinham que estar brincando. Que Luiz Otávio (ou Pedro ou João) tinha que estar em uma roupa quentinha e não com seus bracinhos escondidos de frio na camiseta velha. Tinha que ter uma cama, um chuveiro. Um livro. Um carrinho. Uma bola. Tinha que ter um pouquinho de amor e algum lugar para onde correr quando as coisas não estiverem boas. E na maior parte do tempo não estão.

Ainda na dúvida entre comida e dinheiro, entendi que queria mesmo era dar um abraço naquele humaninho pequeno com olhinhos de jabuticaba. Mas não dei. Coloquei cinco reais na mão dele e assisti ele correr até a farmácia ali na frente, comprar um pacote de biscoitos, depois voltar correndo para me devolver o troco, que eu seguramente não aceitei. Passei a mão na sua cabecinha e fui embora depois que ele sorriu para mim e voltou gritando e correndo para o encontro dos seus companheiros de difícil estrada.

E sei que ele soube que eu não estava com medo dele como a maioria das pessoas. E que tenho um medo enorme do que ele representa na sociedade em que vivo. E também soube que a vida dele e a minha seguiriam iguais quando eu virasse as costas, mas de alguma forma ele se sentiu bem ao meu lado e eu também me senti assim. Por um segundo eu fiz parte do mundo dele, ou ele parte do meu, não sei ao certo. Sei só que as crianças não deveriam estar nas ruas. Nunca.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Vintes e poucos anos.

Ela tem seus vinte e poucos anos e entrou correndo em casa. Os olhos cheios de água. Jogou a bolsa no sofá. Se atravessou na cama. Um short jeans velho. A camiseta preferida. O rabo-de-cavalo se desfazendo. O travesseiro foi o ombro para as lágrimas. Aquelas que desceram fácil fazendo lembrar sua primeira infância, quando o choro era freqüente. No rádio a música dizia que se eles não tivessem feito tudo tão depressa podiam ter vivido um amor Grand’ Hotel. Já faz tempo que ela não chorava assim. Desta vez, o coração dela foi partido.

Ela tem seus vinte e poucos anos e cresceu cercada de pessoas que acreditavam que ela era de cristal e quebrava fácil. Cresceu com seu castelo cercado de muros altos. Era o castelo de uma princesa. Ela morava no lugar mais seguro, no alto da torre. Por isso se tornou o tipo de garota que acreditava nas pessoas. Em boa intenção. Em promessas cumpridas. Acreditava que sempre seria o centro do mundo daqueles a quem dedicou algum tipo de amor. Acreditou também que nunca alguém ia partir seu coração. Acreditou que as pessoas escolhidas para dividir sua vida iam cuidar dela.

Ela tem seus vinte e poucos anos e ele não cuidou. Logo ele. Não agiu bem. Disse umas palavras ruins. A fez algum mal. A fez sentir coisas que havia prometido que não faria. A qualquer uma, a ela jamais. Ele chamou isso de mostrá-la a realidade. Ela desejou que ele nunca tivesse devolvido seus pés ao chão. O odiou por uns instantes por tirar aquilo que mais amava em si mesma: a capacidade de achar que todas as pessoas fariam sempre de tudo para vê-la feliz. Ela fez isso por ele enquanto pôde.

Ela tem seus vinte e poucos anos e naquele dia soube que se é difícil ver alguém saindo da sua vida, mais difícil ainda é perceber que o faz simplesmente por não precisar mais de você. Ela levantou da cama, se olhou no espelho. Os olhos vermelhos, o cabelo atrapalhado. Olhou para seus livros e lembrou de quantas histórias bonitas de amor e amizade eram contadas ali. Se deu o direito de só estar definitivamente em uma história se se parecesse com a dos livros. Lembrou de estar no colo de seu pai alguns anos antes e dele descrever qual o tipo de homem a mereceria um dia. Depois de trabalhador, honesto, inteligente, a descrição terminava com algo mais ou menos assim: “tem que ter certeza do tipo de jóia que tem em mãos”. Ele não tinha.

Não foi por acaso que ela cresceu a princesa do papai. Não é por acaso que a vida dela é um conto de fadas. Não vai ser por acaso que o final dela vai ser feliz. E foi ali mesmo, de frente de sua imagem triste no espelho que ela pensou: ele vai lembrar de mim.


Ela, assim como eu, não sabia tirar as pessoas da sua vida. Mas vai aprender. A gente sempre aprende.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Me basto, às vezes.



Quem me conhece é bem capaz de compreender quantas coisas eu teria a escrever em dias como estes. E teria mesmo. Certamente se houvesse um limite de caracteres eu os ultrapassaria. Mas não vou. Não quero. Prefiro meu silêncio, falar sobre coisas simples.


Especialmente hoje, um dia diferentemente difícil, por coincidência ou não recebi mais convites do que costumam aparecer em quintas-feiras. Shopping com as amigas, japonês, chopperia, bar, boate, ver filme sem legenda na casa do melhor amigo, ligação de duas flores da minha vida. E, então, logo eu que não sei dizer não a quem eu gosto, disse. Disse um não silencioso, diferente de quando os tenho que dar cheios de pesar. E eu também não sei se tantos convites foram um sinal para que me lembrasse de quanto carinho as pessoas tem pela minha vida. Ou apenas a sensação delas de que não seria um bom dia para eu estar sozinha. Depois de pensar onde é que eu deveria estar defini que por hoje minha companhia me bastaria. Saber que não estou sozinha por hoje me bastou. Por hoje.


Dizem que todos os dias de nossas vidas devemos fazer coisas que nos façam sentir bem. Eu fiz. Resolvi passear comigo mesma. Em plena quinta-feira comi uma promoção-do-cheddar-com-coca-comum-batata-frita-e-molho-barbecue; lendo o livrinho indicado aqui ao lado, com roteiro apropriado ao momento. Depois ao invés de voltar de táxi como eu faria na situação atual (meus pais estão viajando e eu não dirijo), resolvi pegar um ônibus. E quer saber? Não estou enlouquecendo, mas eu não queria descer. Não queria que acabasse o trajeto, porque o barulho do motor me embalou e cochichou baixinho no meu ouvido que tudo sempre acaba bem e que a vida é boa demais para nos permitirmos tantos incômodos. Daí eu cheguei sozinha em casa, não tem ninguém por aqui hoje além das minhas coisas, da minha vida. Meus pais viajaram e foram de coração partido acreditando que eu precisava deles neste momento. Se enganaram. Eu nunca precisei tanto de que eles não estivessem por aqui.


E cá estou. Meus livrinhos aqui ao lado. Meus sapatos perto da porta da sala. Eu. O barulhinho destas teclas ecoando pela casa afora. Um pilha de dez comédias românticas que eu não tive coragem de assistir sozinha. Não ainda. Talvez amanhã. Silêncio. Até consigo pensar que faltam umas risadas, umas vozes, uns amores, amigos e vinhos. Peguei o telefone. Ia arrumar companhia para acabar com esta calmaria. Depois mudei de idéia. Fiquei a pensar que ninguém mais pode me ser uma companhia tão boa quanto eu mesma. Não vou entrar nesta de me arrepender de não estar distraindo minha cabeça por aí. Ou mesmo por aqui. Melhor lugar para os meus pensamentos é em mim. Tentei acabar um email que não saiu. Pensei. Dormi fora da hora e acordei querendo respostas que estão dentro de mim. Ainda acredito que as terei em tempo e lugar certos. Agradeci a Deus por me dar sabedoria, paciência e serenidade. E tive a ousadia de pedir um pouco mais ainda.


Há dias em que me basto. Há outros que não. Que nos próximos minhas companhias sejam capazes de me lembrar que a vida é hoje. E não há tempo para parar no tempo. Seguindo em frente, um dia de cada vez.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Ciclos hormonais.

Qual a razão pela qual as pessoas entram em nossas vidas? E por que saem? Me lembro bem daquele início de tarde quando a vi pela primeira vez e parece que foi ontem. Já fazem mais de dois anos. Um dos meus melhores irmãos decidiu ir passar uns tempos fora do país. E isso tem a ver com o assunto de hoje porque além de irmão também é meu chefe. Então, com ele longe alguém precisava fazer o trabalho duro em seu lugar. A escolhida foi ela. Lembro de sua chegada, com um sorriso tímido, adentrando no que se tornou a nossa sala. Me lembro de ter pensado: bonita, simpática e parece boazinha. Logo nas primeiras semanas eu descobri que não a achava nem simpática, nem boazinha. Metida. Imaginei ali que não seríamos amigas. Me enganei feio.

Sob todas as óticas aquela que me deu o apelido de esquisitinha me surpreendeu. Okey, eu já cresci e não é para eu me tornar esta manteiga derretida cada vez que se mudar um vizinho do bairro, um colega de trabalho for embora, ou uma amiga tiver que morar fora. Afinal de contas, ela não está vai a lugar nenhum, não é? Só está saindo da minha rotina. Mas o problema é este. Eu não gosto que mexam na minha rotina. Ela sabe disso. Não gosto destas mudanças. Poxa, durante dois anos aquela esquisitinha foi a pessoa com que eu passei mais tempo dos meus dias. E a gente dividiu um caminhão de experiências que eu não quero deixar de viver. Foram muitos almoços, foram muitas tardes, foram muitas discussões jurídicas e trocas de conhecimento. Foram muitas risadas, ora abafadas, ora escandalosas. A gente se ensinou umas coisas, sobre o direito e sobre a vida. Compartilhou o que há de pior e melhor em nós. Nos ajudamos, profissionalmente e emocionalmente. Quantas vezes eu corri pra ela. Mesmo sem que ela soubesse. Como eu fui feliz em ter a maior confidente da história ali ao alcance dos meus bracinhos magricelos. Tão perto que quando eu precisei de socorro nem foi necessário gritar. Bastou um cochicho ou um olhar. E ela ouviu mil histórias, as mesmas por mais de uma vez, ouviu minhas contradições, ouviu os sonhos da minha vida mudarem como mudei de roupa. Também trocamos dicas de moda. E de maquiagem. E de manuais de direito. Ela me achou louca e esquisita, mas sei que também me achou equilibrada e doce. E que me amou por tudo isso. E ela agüentou - com uma doçura que acho que nem ela sabe que possui - minhas manias, humores e crises. Primeiro aprendi a gostar dela apesar do que ela é. Depois, gostei dela exatamente em razão do que ela é. Ela mata barata, troca o galão de água, arruma eletrodomésticos, sabe cozinhar, dirige bem, mora sozinha, não sabe se vai casar, nem se vai ter filhos, vai ser promotora, vai fazer doutorado, detesta fazer escolhas, é tão preocupada com a balança quanto eu, acha que pizza emagrece, só lê livros jurídicos, faz dancinhas estranhas, fala um monte de besteiras. Os dias iam passando e eu me perguntando como é que duas pessoas tão diferentes podiam ser tão parecidas no fim da história? Ela: um pé no chão; eu: um pé no céu. Ela: dúvidas; eu: certezas. Ela: criminalista má; eu civilista louca. Ela: razão; eu: emoção. Ela: de gêmeos; eu: de leão. Ela: minha amiga; eu: a dela. E foi assim que hoje, entalada, querendo evitar o abraço de despedida, descobri que nossos pés e gênios trocaram muitas vezes de lugar, sem que nós pudéssemos perceber. Meu pé foi ao chão, o dela ao céu. Minhas certezas viraram dúvidas, as dúvidas dela certezas. Minhas emoções foram racionais; as razões dela emotivas.
Diz a sabedoria popular que quando duas mulheres se tornam muito amigas seus períodos hormonais acontecem ao mesmo tempo. Depois de dividir tortas holandesas, brigadeiros, lanches, sobremesa e sorvetes percebi que nossos desejos não eram coincidências. A gente sobreviveu por pouco, porque - sim -, na última sexta-feira juntas nós descobrimos: agora nossos ciclos menstruais são iguais. Vim registrar minha despedida aqui, pois apesar de saber que ela não concorda com metade do que eu digo, sei também que ela sempre vem ver as coisas estranhas que eu tenho a falar sobre a vida. No fim das contas está respondida a pergunta lá de cima. Deu para entender um pouco porque é que certas pessoas entram em nossas vidas. Só não dá para entender porque é que uma hora elas têm que sair. Vou sentir saudades.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Parte da minha graça.

Me dizem às vezes que eu pareço meio maluquinha. Por vezes, por muitas vezes tento não mostrar isso. Seguro daqui e dali e até que passa. Convenço alguns. Mas é só me conhecer um pouquinho e exala um pouco desta coisa meio biruta. É que parte da minha graça fica mesmo aí. Em uns impulsos, no exagero, na paixão, na luta por viver feliz até quase perder o ar, por dar gargalhadas, altas, quase inconvenientes, por ser um excesso em pessoa, por ter idéias loucas. Eu sou um exagero. Quero crescer assim, sem perder esta parte minha. Sem perder isso meio criança, meio princesa, meio moleca, meio maluca, de pedra, de amor. Quero amar até cansar. Mesmo que isso te canse também. Meu amor só tem graça fora de mim. Não cabe no peito. Amo sem economia. Aprendi em casa e quero usar, quero gastar. Quero que as pessoas entendam, vejam o que há em mim. Mas se não quiserem entender, não precisam também. Sigo nesta onda meio pirada. É uma piração boa. Já ouvi dizer que vicia. Que faz falta depois. Que dá saudade em tardes vazias. Se não for nada disso, não faz mal. Eu só quero é viver assim. Cansei de agir de acordo com o que convém. Fazer e falar só se for do meu jeito. Gosto que as pessoas sintam que há algo vivo perto de mim, dentro de mim. Gosto que me façam sentir da mesma forma. Ninguém morre de amor; não diria o mesmo da falta dele. Então é para isso que eu vivo. Para me acabar de tanto amar. Para viver uma vida inteira em um segundo. Para ouvir as mesmas músicas mil vezes. Para cantar alto. Para despejar quilos de sonhos impossíveis em cada uma das minhas pessoas. Para rir de tudo, até do que não tem graça. Para encarar as verdades de frente com a naturalidade e aceitação necessárias para sobreviver. Para me achar uma louca apaixonada e no instante seguinte achar que eu sou até bem normalzinha. Para ser uma eterna otimista. Para amar quanto for possível. Responsável, mas livre. De ninguém, mas do papai. Imperfeita, mas justa. Recatada, mas despudorada. Meio maluquinha, mas feliz. Ao meu modo.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Prometo tentar.

Tenho ido a muitos casamentos recentemente. Primeiro eram as festas de quinze anos, depois as formaturas, agora estou na fase dos casamentos. Que sob certa ótica nego um pouco as convenções todo mundo já está cansado de saber. E isso, provavelmente, não vai evitar que eu vá para o altar, com cerimônia, bouquet, vestido, padrinhos.

Mas tem algo que me incomoda mais a cada casamento que vou e sempre me faz cochichar no ouvido dele, que normalmente está ao meu lado. Está lá o padre a celebrar a missa e põe cada um dos noivos para dizer, querendo ou não querendo, que: "promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-o e respeitando-o até que a morte os separe."

Neste momento, fico com uma vontadezinha lá no fundo de levantar a mão e dizer: "Você me dá um minutinho, seu padre? Preciso de esclarecer isso melhor porque acho que tem algo errado aí."

Infelizmente minha mania de querer tudo tão bem explicado, tão em seus devidos lugares, não me permite abstrair e aceitar que faz parte da tradição. Não dá para simplesmente dizer aquilo ali, como parte do teatro, sem reparar no que significa realmente. Se é para viver a tradição, que seja sentindo o que cada parte daquilo representa de verdade. E é por isto, que se eu for dizer alguma coisa em um momento que é para ser tão especial, vai ter que ser algo em que eu acredite.

Eu não falo nada por falar e olha que eu falo até muito. Gosto de que as pessoas tenham a compreensão exata do que sinto, preciso, vivo ou respiro. Por isso não acho que casamento seja o lugar mais adequado para que se prometa algo que não se pode garantir que vá cumprir. Não vai dar para constar isso no meu casamento não e se tiver ao meu alcance serei obrigada a fazer umas adaptações.

Porque espera aí. Quer dizer que perante Deus, no que chamam da casa dele, e na frente de centenas de pessoas, no dia em que se escolhe viver feliz para sempre, você vai prometer, sem queimar a cara, uma coisa que você nem sabe se pode cumprir? Porque você vai me desculpar, mas não sabe não.

Você pode prometer que vai tentar. Aí sim. Porque não faria sentido algum que uma dupla que escolhe se submeter a uma das convenções mais tradicionais da história não vá tentar. Claro que vai. Só que vou me valer da lógica do método matemático que resolve muitos problemas na vida: tentativa-e-erro. Você vai tentar, por diversos caminhos, a cada vez de um modo diferente fazer seu par feliz. E vai ter que cometer erros, e aprender com eles, até atingir o melhor que pode ter da sua relação. Tentando-e-errando.

Então, se não sabe se vai cumprir, não promete. Não diante de tantas pessoas que só querem seu bem. Não olhando nos olhos dele. E que fique claro que não se trata de falta de romantismo, ao contrário. Ainda acredito em príncipe e princesa. Ainda acredito em felizes para sempre. Mas tenho que ser prática, tenho que aceitar que há muitos caminhos a serem percorridos e muitas coisas a serem compreendidas antes de duas pessoas entenderem como poderão se completar e se fazer realmente felizes. Se é que poderão.

Então, a quem estará no meu casamento, não espere que eu prometa algo que eu não tenho certeza de poder cumprir. Eu não sei se vou ser sempre fiel e nem quero que ele me prometa que irá, se também não sabe. Eu não sei se vou amá-lo para sempre, porque ninguém tem certeza da eternidade de um amor. Eu não sei se estarei ao seu lado em todas as alegrias, tampouco em todas as tristezas. Nem ele sabe. Então não me peça para prometer. E não me prometa.

Eu quero que me prometa é que se me magoar, vai pedir perdão. Que se estiver ruim, vai passar. Que vai ter bom humor. Que não vai me responsabilizar pelo que não sair bem. Que sou a melhor amiga que já teve. Que moletom ainda é a roupa em que me acha mais bonita. Que eu sempre poderei usar minhas saias curtas. Que nunca vai deixar o trabalho sufocar nossa rotina. Que teremos uma rotina. Que vai me levar café na cama. Que vai levantar de madrugada para olhar nossos filhos. Que vai matar as baratas e trocar o chuveiro queimado. Que vai abrir a porta do carro. Que vai fazer supermercado comigo. Que vai me tratar sempre como princesa.

Só te peço isso: prometa coisas que possa garantir que vai cumprir, que dependam só de você. Prometa que no dia do nosso casamento vai me olhar com os mesmos olhos de carinho de tantas vezes, arrumar minha franja e me deixar saber que você vai fazer o que for possível para que a nossa vida seja boa. Prometa tentar. E isso eu prometo também.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Esquecer para viver.

Eu nunca contei sobre o dia em que soube da morte do meu irmão. Nunca falei sobre isso. Bom, não tinha falado, até então. Estes últimos dias ando meio estranha, meio confusa. Uma grande e louca amiga foi me fazer companhia em casa. Engraçado como algumas pessoas parecem ter o dom de nos libertar de certas coisas. A tal amiga me liberta do que há de pior e melhor em mim. Neste dia não foi diferente. E lá fui eu. Puxar da memória, - de um lugar onde eu nunca mais passei -, as sensações do pior dia da minha vida. Não, não vou revivê-las agora, enquanto escrevo. O que eu posso dizer é que o pior dia da minha vida também representa um marco. O marco que alterou o meu modo de ver, de viver, de amar. Não sou uma pessoa pior, nem melhor que antes em função do que tive que passar, mas sou, definitivamente, alguém que investe nos seres humanos, nos quais passei a depositar uma esperança maior do que antes. Aprendi. Aprendi a amar sem ressalvas, a me jogar de cabeça, a não me arrepender. Aceitei. Aceitei minhas fraquezas, meus defeitos, meus erros. Amei. Amei até o final, sem hora de acabar, uma vida inteira em um segundo. Não é fácil entender como dias como aquele se processam na mente. Mas são momentos que nunca mais se quer lembrar e que também não se quer esquecer.

Me lembro do amigo que me levou para casa,
com uma expressão de dor que resisti a enxergar, enquanto tentava me prometer, - sem conseguir -, que meu irmão estava bem. Existe uma carta pronta para ele, há cinco anos, que nunca foi entregue. Ele é a pessoa que eu sempre quero ver quando duvido que as coisas possam ficar bem na minha vida. É que sua lembrança me dá segurança, segurança de que, pior do que está não vai ficar. Me lembro também do olhar do meu pai, que me deu a notícia sem ter que dizer sequer uma palavra. Me lembro de nesta hora sucumbir à dor e ir para o chão. Me lembro da primeira ligação que recebi, daquele loiro tatuado. E da primeira que fiz, para uma velha amiga Milú. Me lembro de enviar uma mensagem para um amigo, sem nunca ter tido resposta. Me lembro da voz da mãe da Ana. Me lembro da minha prima Dani me deitando no colo, mexendo nos meus cabelos e me pedindo para dormir um pouco. Me lembro da expressão do Thiago ao chegar da faculdade. Me lembro dos gritos da minha avó. Me lembro do meu amigo Dani chegando quando todos já haviam ido embora e de não querer sair dos seus braços. Me lembro de procurar na voz das pessoas um conforto que não cheguei a ter. Me lembro de acordar sem ter conseguido dormir, na cama dos meus pais, com o choro deles me dizendo que não tinha sido um sonho ruim. Me lembro de outras tantas coisas e, principalmente, das pessoas, dos olhares, de todo amor (e dor) que havia ali.


Me lembro de coisas que prefiro esquecer. E esqueço. Esqueço para poder viver.

terça-feira, 10 de maio de 2011

De volta para mim.

Entrei no meu blog para me visitar e percebi que há bastante tempo não venho aqui escrever...Hum, que saudade de mim! Foram muitos dias sem estar tão perto assim de mim mesma. Eu me faço falta, sabia? Me senti sozinha estes dias longe. Mas quer saber? Às vezes sou um saco. Tem horas que não suporto minhas chatices, minhas contradições, meus pensamentos, meu modo de falar, meus vestidos curtos, a cor dos meus esmaltes. Tem momentos que não aguento minhas opiniões, meu humor, minhas risadas, minha voz. Ai me afastei. Ir embora, nunca. Estive a me observar, ali, de uma distância suficiente para me socorrer se precisasse. Mas sabe que estar longe também é uma maneira de me compreender, de entender minha vida, o que eu quero, o que eu busco? E só entendendo isso eu sou capaz de escolher minhas pessoas, coisas, lugares, sonhos. Só sabendo aonde eu quero ir dá pra saber por onde terei que passar; ou pelo menos dá para imaginar. Ando com muitas coisas a dizer, mas ou falta ou sobra inspiração e aí não saiu, não fluiu, não foi desta vez. Vai ficar para outra hora, minhas opiniões vão ficar para outra hora. Por agora vim dizer a quem interesse saber que ainda sou viva, que trabalho enobrece, que academia faz mais bem para a cabeça do que para o corpo, que determinadas condutas a meu favor só eu mesma posso tomar, que viver na minha concepção é algo bem além do que ensina a biologia. Vim dizer que certas coisas ou pessoas têm que ser sim retiradas das nossas vidas. Mesmo que for da minha, mesmo de mim, que digo que não sei fazer isso. Mesmo sentindo, mesmo me perdendo. Não faz mal, aguardo o segundo seguinte para me reencontrar. Coisas e pessoas se vêm e se vão e é algo que tenho que aceitar. Não dá para lutar sempre contra as mesmas coisas. Não pela vida inteira. Ao menos se houver me servido para algo, valeu. Se a roupa me deixou bonita, se a amiga me fez dar umas risadas, se o cara me deu uns frios na barriga, se o livro me ensinou uma palavra nova: então, valeu! Se é a hora de jogar fora, as roupas, os livros ou as pessoas, que seja! Sempre melhor pensar assim. Sempre melhor acreditar nisso. Mas só quero para mim o que me faça muito bem. Tão bem que eu não consiga evitar. Estou estranha hoje. Mas estou feliz. Estranha, porque o post pareceu seco, pareceu enxutinho demais para ser eu escrevendo. É que estive fora este dias, lembra? Mas agora estou de volta. De volta para mim.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Caberá só a mim entender.


Eu sempre achei que fosse a dor que me fizesse escrever. Hoje entendo que escrevo quando compreendo bem aquilo que sinto. Quando consigo entender realmente porque determinadas coisas me fazem tão bem e outras tão mal. Agora entendo porque preciso de liberdade e porque minha liberdade só faz sentido se eu tenho para onde voltar. Agora entendo que meus sonhos não são à toa, mas sim o passaporte para me levar aonde eu desejar. Agora entendo que posso esperar o que eu quiser das pessoas, pois se não receber em troca o que espero o problema é inteiramente meu. Agora entendo que mesmo que alguém prometa que as coisas nunca mudarão entre nós, isso não é necessariamente verdade. Agora entendo como seria necessário aprender a tirar as pessoas da minha vida, mesmo que eu talvez nunca venha a aprender. Agora entendo quanto preciso de me entender. Pra aceitar tudo isso e outras tantas coisas em mim. Entendi que minha inspiração é sinônimo de compreensão, de entendimento, de conhecimento. E que ninguém mais precisa entender nada disso além de mim. Lembra? Lembra que você não precisa entender muitas coisas a meu respeito? Eu preciso de muito pouco de você e compreensão não está entre minhas opções. O que eu peço é menos e se você não tiver para me dar, só caberá mesmo a mim entender.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Meus gostos IV...

Gosto de almoçar sozinha, de sobremesa de maracujá com chocolate, de paz no coração.

Gosto, mais ainda, de fazer aquilo que gosto em boa companhia.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Minutos de silêncio.

Meus pais sempre trabalharam na área de educação. Ganharam a vida assim. E sei que na verdade ganharam muito mais. Sei que professores e quem trabalha assistindo as crianças crescerem é que aprendem de verdade. As crianças aprendem a ler, aprendem os números, aprendem geografia. Mas as lições aprendidas por quem ensina, estas sim, são lições para uma vida inteira. Sei que meus pais são pessoas melhores em razão da carreira que escolheram. E também sei que sempre viverão para isso. De alguma maneira eu os invejo porque minha carreira não tem certas doses de sensações que eles vivem diariamente.

Hoje, foi dia de tragédia. Dia de clima ruim. Dia de chegar no trabalho e assistir a olhares distantes, a um silêncio triste e decepcionado com a notícia que nos deu bom dia. “Crianças foram mortas por atirador dentro de escola.” A sala de aula e a escola são lembranças boas. Pelo menos pra mim são. São lembranças das primeiras amizades. Dos primeiros amores. Das primeiras vitórias. Vitórias... O que se viu acontecer hoje dentro daquela escola é a maior derrota do ser humano. É o pior lugar onde se pode estar. É o fundo do poço. Se isso não fosse ruim demais para se dizer do fundo do poço.

Poxa, crianças são o que, seguramente, restou de bom para o mundo. Crianças nos devolvem o que ainda há de inocência dentro de nós. Nos permitem o real, espontâneo, puro. Puras. Crianças são puras. São felizes. E nada é mais gostoso do que a sensação que me remete as risadas soltas dadas pelos pátios e salas de aula. Criança ri de tudo. De nada. Criança ri, sorri, corre, brinca. Criança acredita. Criança alcança. Criança só quer chocolate. Ou colo. Ou dar as mãos. Criança canta. Encanta. Eu me amo o dobro quando consigo ser a criança que eu insisto em ser. É difícil imaginar de onde vem coragem para tirar por um segundo sequer o sorriso da boca de uma criança. Não é coragem, é covarde. Perto de onde trabalho tem uma escola. Toda vez que passo ali só consigo ter esperança. Só consigo acreditar em um futuro bom. Porque acho mesmo que aqueles rostinhos carregam uma responsabilidade enorme consigo.

Eventos como os de hoje partem meu coração. Me tiram as palavras. Elas que normalmente transbordam, em dias como hoje, restam entaladas. Entala a garganta, o coração. Aperta um nó dentro do peito. Como desculpa (que procuro para tudo), só posso tentar crer que este “cara” não freqüentou uma sala de aula. Não aprendeu as palavras, os números. Nem o amor. E ele só deve ter colocado em prática o que aprendeu em algum lugar por aí. Hoje o post não é desabafo, não é necessidade. É só um registro de uma energia muito positiva que de coração eu passei o dia enviando às famílias que eu nem conheço, mas que, definitivamente, devem ter passado pelo pior dia de suas vidas. Muito triste. Qualquer hora ainda vamos compreender um sentido ou uma razão para dias como este.

Sem inspiração, por hoje é só. Minutos de silêncio.

Paz e amor (sem clichê). Paz e amor para o mundo.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Um jeito de levar a vida.


Sempre se espera muito do outro. Sempre esperam muito de mim. Sou a primeira da fila sempre ali, a me observar. A achar que eu podia ser melhor. É isso que costumar vir à minha cabeça: podia ter me saído melhor. O trabalho, a prova, o conselho. Como filha, amiga, namorada. Como pessoa. Eu acredito nas pessoas, mas o ser humano é muito imperfeito. É mesquinho, egoísta. Sente inveja, luxúria. É fútil, leviano. Eu também sou humana. Também tenho sentimentos com os quais, digo, contra os quais luto constantemente. Sempre esperando ser melhor. Como os outros esperam. Mas e se eu não puder? E se não conseguir? E se minhas imperfeições não permitirem que eu seja tudo aquilo que sonho, quero, preciso ser. Esta imperfeição não é só minha. A aflição também não deveria ser. Quantas vezes você já parou para pensar se é tudo aquilo que finge ser, que acredita ser? Mesmo não sendo. Autoconhecimento é a palavra da minha vida. E assusta. Me conhecer tanto assusta. É que nem sempre ao me olhar assisto o que quero. Tem que ter muito equilíbrio para enxergar que cada um de nós é um ser humano tão falível quanto o colega da mesa ao lado, da cadeira ao lado, da casa ao lado. Quem nunca teve a sensação de estar estragando tudo? De ter colocado tudo a perder? De ter ocupado tempo demais com as coisas ou pessoas erradas? Conheço poucas pessoas preocupadas em se conhecer e se entender. Poucas e, em certa medida, eu diria até que azaradas. Autoconhecimento é o máximo, mas tem um preço. Nem sempre sei se vale. Se olhar no espelho e ver além do corte de cabelo, da cor do batom ou da maquiagem custa caro. Todo olhar é uma janela. Por trás de todo olhar tem uma alma, uma vida. Por trás de toda vida tem um ser imperfeito, com defeitos. Meu espelho me mostra isso. E se olhar bem o seu também vai mostrar. Quem se olha e gosta demais do que vê está olhando sem enxergar, lendo sem interpretar, vivendo sem aprender. Quem me conhece já me ouviu dizer que eu me aceito imperfeita, e me perdoei assim, como Martha às suas impurezas. E me aceito mesmo. Só não nego que por vezes acho o fardo pesado. Não faço tipo. Me mostro o que eu sou. É o que tem para hoje, então toma. Goste ou não. E pago o preço por me aceitar. Por dar a cara a tapa. Por assumir as conseqüências. E é uma droga que quem deposite as maiores expectativas sobre mim ainda seja eu mesma. E que nem sempre possa superá-las. Esperam que eu seja a melhor. E nem sempre eu vou poder ser. Mas é assim que eu vou viver. Pra ser melhor. Porque viver pra ser melhor também é um jeito de levar a vida.

segunda-feira, 21 de março de 2011

(Não) são só palavras.

Eu não escrevo por prazer. Nem porque eu gosto. Quer dizer, não é só por prazer, nem só por gostar. Eu escrevo mesmo porque eu preciso. Porque me encontro, me acho, me coloco, me recoloco. Porque é o caminho mais curto até mim. Escrevo quando tenho algo a dizer. E quando não tenho nada a dizer também. É sempre uma maneira de me encontrar. Tudo que eu sinto vem parar aqui. Bom ou ruim. Doce ou rude. Azeda ou feliz. Pesado ou leve. Em palavras ou em entrelinhas. Em posts ou em ausências. É que não escrevo pelos outros. É por mim. É pra mim. Pelo menos primeiro é assim. Às vezes me dizem: “escreve mais; fala sobre isso ou aquilo; não fica tanto tempo sem postar.” É que eu não posso. Não é uma escolha. Toda ausência tem um sentido. Todas as palavras novas também. Entende? Não é uma opção. É sempre um processo. Escrever é. Publicar, também. É um jeito de me entender, de te entender. De te fazer me entender. Ou des-entender. É uma forma de não dizer. E uma forma de ao mesmo tempo dizer. Eu sou na essência uma mistura de tudo aquilo – e de todos aqueles - que já vivi. Aqui, sempre vai então haver esta minha história contada em fragmentos. Em pedaços pequenos ou imensos do que já passei. Aqui há minha já confessada mistura – que é mistério ou seu oposto - entre o ver, o viver e o inventar. E se é verdade, experiência ou invenção você vai ter que adivinhar. Eu não me entrego. Não tão fácil assim. Não por tão pouco. Quando se encontrar aqui, em mim, nas minhas palavras, questione se se trata mesmo de algo sobre você. Quando não se encontrar, procure melhor, é aí então que você deve estar. Um dia destes me perguntaram porque é que eu escrevo. Dentre meus vários motivos, o principal é que é uma maneira te me ter por perto de mim mesma. Também é uma maneira de me ter por perto de você. Pra quem me quiser tão perto assim.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Só mais uma de amor.

Ela era dele. Ele não era dela. Não era segredo pra ninguém, no fundo, acho que nem pra ela própria. Aquela morena apaixonada, cheia de sonhos de princesa com um sorriso escancarado e inocente, carregava dezenas de ilusões depositadas sobre aquele com características de sapo, que nunca viraria príncipe. Mas quem iria saber que não?

Ela iria.

Estava calor, tinha biquíni, caipivodka, cerveja, churrasco. E também um celular tocando esquecido em cima da mesa daquele quiosque. O bobo alegre a olhou de dentro da piscina e com um olhar inocente a pediu pra interromper a música do Charlie Brown Jr. que servia de toque pro seu celular, o fazendo parecer mesmo um carinha sempre na área, com escritório na praia.

Ela, prestativa e doce, foi atender. Na tela do celular, a caixa de entrada das mensagens anunciou um contato freqüente, quase infindável, entre ele e uma desconhecida de nome não familiar. Enquanto ele ria e se divertia na piscina, ela variou entre a náusea, ânsia e os enjôos que a separavam de um universo do que não fazia parte. A opção correta era apertar o "xiszinho" lá no cantinho direito e imaginar que aquela estranha não se tratava de ninguém que merecesse atenção naquela tarde feliz de sábado.

Mas só que o botão “Sair” é para os fortes, para os equilibrados, para os sensatos. É para quem tem motivos e amor suficientes para segurar esta onda. Ela não tinha. E não era, nem uma coisa, nem outra, nem outra; nem equilibrada, nem forte, nem amada. Ela era apenas uma louca apaixonada aguardando ansiosa o sapo virar príncipe. E eu já disse que ela ainda não sabia, mas nunca viria a acontecer.

Aquela caixa de entrada guardava detalhes íntimos de um outro casal, formado com a ajuda do par que ela achava ser dela. Achava, mas não era. Detalhes íntimos, carinhos, palavras, ritmos e cores parecidas com as que ele utilizava para encantá-la. Era outra história, construída e vivida ali, à sombra da dela. Ou ela é que teria estado à sombra da outra história? Ela é que teria sido a coadjuvante, o personagem secundário da vida dele?

Ela foi embora. Deixou o copo pela metade, a bolsa de praia, um coração espatifado e os sonhos de viver uma história só dela. Tudo ao som daquela musiquinha antiga tocando na versão em pagode, que ensinava que o amor não precisa de ser uma história com princípio, meio e fim...Ou precisa? Ela nem olhou pra trás. Virou as costas e foi. E o que nunca veio a começar, acabou ali. Daquela tarde de sábado em diante nunca mais ela foi dele, nunca mais ela se permitiu ser aquela menina que viveu uma história-de-não-amor. E foi assim que tudo terminou.

Ela sentia saudades, às vezes.

Me lembro de ouvir dizer, depois deste dia, que ela chorou, escondida, naquele banheiro de higiene duvidosa. Era domingo, era samba e ela não conteve as lágrimas após ouvir dizer da boca do recém conhecido menino de boina, all star e fala mansa que ela era linda e que seus olhos tinham algo diferente que ele não sabia o que era.

Ela sabia. Era o brilho pertencente aos donos de corações partidos.

E lá foi ela, atrás de novos amores.

terça-feira, 1 de março de 2011

Eu só não aceito.


Que leio três ou quatro livros de cada vez e demoro meses para terminar, a maioria já sabe. Um dos que estava a ler nas férias de fim de ano me irritou e me pôs para pensar. O autor faz uma gracinha e me fez acreditar que um dos personagens principais tinha morrido. E fez isso no fim do que, se não me engano, era o penúltimo capítulo. Eu, que estava ali, na beira da piscina, com meu chapéuzinho para cobrir o rosto de branquela, lendo feliz da vida, sem soltar o livro desde o dia em que cheguei, me deparei com esta informação: Daniel morreu. Levantei, coloquei o livro em cima da mesa e fiquei lá, revoltada, chiliquenta, mal humorada, com o olho cheio de água. Fiquei com raiva do Carlos Ruiz Zafón. Fui nadar, andar de bicicleta, reforçar o protetor, p. da vida. Só conseguia pensar: "Não vou ler a parte que falta. Não aceito".

É que não aceito mesmo. Não aceito finais-não-felizes. Deveria ser obrigatório que livros com histórias tristes tivessem continuação. Assim não ia ser triste o final. Talvez só o meio ou o início. Se a chateação vem no meio do livro também não faz mal. Ainda sobra tempo de ajeitar a vida e mudar o rumo da história. Mas o final-não-feliz atrapalha meus sonhos coloridos e me deixa contrariada, como eu, definitivamente, prefiro nunca estar. Eu só não aceito. E acho que nem nunca vou aceitar. Vivo atrás do final feliz e só paro quando chegar lá. Não me importo com o que acontece no meio do caminho e você também não deveria se importar. Só sossego quando puder viver aquela paixão até o final, quando alcançar a presidência da empresa, quando acordar com meus três filhinhos correndo pela casa. Só paro quando estiver em absoluta paz e não colecionar nenhum desafeto ou inimizade. Só deixo de insistir quando chegar no lugar para onde estou indo, quando puder morrer de tanto amor em mim, quando tiver todo conhecimento que me couber. Só aceito quando a vida me olhar e com todas as cores possíveis me der a certeza de que o final é ali, o mais feliz que possa ser.

Só aceito quando puder ser do meu jeito. E como felicidade é escolha de cada um, meu final feliz é também escolha minha. Eu que defino quando chegar lá. Eu que opto pelas minhas maneiras de alcançar o final. Eu só não aceito. E não aceitei daquela vez. No fim daquele dia, entendi que eu não podia mudar o destino daquela turma, porque ele, literalmente, já estava escrito. Voltei para história, pensando: "vou encarar, ler e depois procuro um livro com final mais alegre". Estava bem ali, na página seguinte: o final feliz. Eu não precisava de ter esperado o dia todo para descobrir que a felicidade daquele pessoal estava bem debaixo do meu nariz. Mas foi bom assim. É exercício que as pessoas deviam praticar mais. Não aceitar nada que não pareça ser exatamente um bom final feliz. Eu só paro quando estiver no final e quando ele for tão espetacularmente bom quanto possa, em sua totalidade e simplicidade, ser.

Se o final feliz é uma escolha, faça a sua.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Estrela no teto.

O quarto do meu irmão virou o quarto de computador. Foi melhor assim. Mudar as coisas de lugar diminui a estranheza de não tê-lo mais aqui. O armário, aos poucos, foi esvaziado e dele, guarda apenas uma ou outra camiseta preferida. A cama mudou de lugar. O computador veio para cá. Um mural de fotos, uns livros, outra cor na parede. Pronto. Algumas mudanças. Necessárias. Algo aqui, algo ali foi mantido igual. Melhor assim também.



A mudança desconstrói umas sensações que não são boas para se viver todo dia. E os detalhes preservados mantêm aquelas sensações sem as quais não seríamos capazes de viver. Cada qual com sua função: a mudança e os detalhes.

Hoje estava aqui, esperando baixar um arquivo e dei uma espreguiçadinha, estiquei, balancei os cabelos e olhei pra cima. Tudo automático, coisa que se faz todo dia. No teto deste quarto em que já estive por tantos anos, vi, pequenininha, esquecidinha, já pintada da cor nova do teto, uma estrelinha.

Sim, uma estrelinha. Lembra daqueles adesivos de estrela feitos para colar na parede, que brilhavam no escuro? É. O quarto dele passou longos anos da nossa infância com o teto cheio delas. Eram muitas e lindas. Agora é só uma, mas tem um brilho eterno.

Me lembro de papai chegando em casa com uma cartela delas e de termos passado a noite assentadinhos lado a lado, no chão do quarto, perninhas de índio, com olhinhos brilhantes assistindo nosso pai em cima da cadeira, colando as estrelinhas no teto, nos olhando de minuto em minuto, com aqueles já conhecidos, - e naquele tempo mais radiantes que nunca -, olhos de diamante.

Me lembro, ainda, que durante anos e anos, quase todos os dias antes de dormir, eu e meu irmão apagávamos a luz do seu quarto e passávamos uns minutos ali, olhando as estrelas, como se fossem mesmo o céu, como se o teto daquele quarto pudesse ter a dimensão do infinito do universo. E acho mesmo que podia.

Depois das estrelas, ainda vieram uns adesivinhos verdes, esquisitos, acho que eram Et’s. Hoje pode parecer engraçado, mas era tudo parte da magia, de um dia-a-dia cheio de fantasia, mágica e pequenos marcos feitos para nunca serem esquecidos. Pra você pode ser só um adesivo bobo no teto, pra mim é parte dos dias mais felizes que já vivi.

Por alguns anos foi meu programa preferido, meu lugar seguro. Olhar aquele teto brilhante a cada noite, cheio de estrelas e seres verdes de outros planetas, era uma mistura doce de ansiedade e felicidade, que plena assim, só mesmo as crianças têm. Felicidade plena para quem a vida se resume a viver, sorrir, amar e ver estrelas no teto do quarto.

Depois, passou o tempo, as estrelas se tornaram só adesivos infantis e foram tirados dali. Menos esta. Menos uma estrelinha que tantos anos depois, está aqui, solitária, esquecida, a me olhar, a nos olhar diariamente, sem que eu sequer houvesse reparado. Agora, serve para me lembrar que muito fica pra trás, mas há sensações que sempre vão existir, no coração, nas memórias, nos sinais, nas lembranças. E se existem sinais, pra mim este é um deles.

É só uma lembrança. Uma lembrança suave. E até um pouco dolorida. Mas é o que eu tenho de mais valor por hoje.

Uma estrela no teto.




P.s.: O post eu escrevi ontem. Hoje, são 5 anos sem ele! E ainda dói igual. De qualquer forma, é um registro simples e bom para mais este dia 23 de fevereiro.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A-normal.


Ontem mesmo disse que vinha para anunciar se voltasse ao normal. Voltei. Voltei ao meu normal. Aquela louca-desorientada-que-ri-de-tudo-e-ama-todo-mundo, lembram? Vontade de tomar uma garrafa de vinho assentada no chão de uma sala qualquer dando umas risadas de qualquer coisa... Mas vou mesmo trabalhar. Não diria que é exatamente uma boa troca, mas é o que tem para hoje. Só de estar no meu normal já prefiro. Dias como ontem me fazem reflexiva e um pouco mais sábia. Os como hoje também. A idéia é tirar alguma coisa boa de cada sensação, sempre. Normalidade é um entendimento subjetivo e pessoal. E o que chamo de normal em mim é uma loucurinha doce e provocante que insinua muitas coisas e esconde tantas outras. Estou assim. Normal. A-normal. Sã. Louca. Feliz. Aguardando o resto da vida que me aguarda, com o coração cheio de coisas minhas e boas.

E a palavra de hoje é equilíbrio.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ou não?


Sabe aqueles dias que a gente acorda tristinha? Não? Bom, eu sei. Vez ou outra, acordo assim. Esquisita, cansada, sabendo que o dia não vai ser lá nenhuma maravilha. Haja jogo de cintura para manter o equilíbrio emocional e não dar um grito, xingar alguém e sair correndo pra chorar umas lagriminhas suaves assentada na grama de um parque qualquer.

Hoje, sem motivo aparente, passei a noite inteira acordada. Literalmente, inteira. Minha pressão é baixinha, não sou de ter problemas para dormir, mas hoje nada me fez pregar o olho. Desisti. Fingi que noite era dia. Aí li, vi televisão, acendi a luz, rolei na cama, pensei na vida, escrevi umas coisas sem sentido, outras nem tão sem sentido assim, mudei de livro, liguei o ventilador, quis ir pra cama dos meus pais, não fui, fiquei assentada na cama olhando pro nada, desliguei o ventilador, chorei vendo um filme bobo, vi o dia amanhecer! Não sei se chorei de desespero – porque não conseguir dormir dá um certo desespero – ou porque possa haver algo me incomodando que eu não saiba.

Andei muito ocupada nestes últimos dias. Gosto, porque falta tempo para pensar tanto quanto eu penso e aí descanso um pouco. E não gosto, por este mesmo motivo. Pensar tanto quanto eu penso é também um jeito de colocar cada coisa em seu lugar e definir quem manda em que, aqui. E na minha vida, mando eu. Não ela em mim.

Mal eram 9:00 horas e eu liguei em uma repartição pública para pedir uma informação. Ó GOD! De onde que eu tirei a idéia de fazer isso logo hoje? Vontade de mandar um palavrão, para o tal, mas como não pratico este espécie de não-gentileza, me limitei a dizer: "O Sr. é muito mal-educado, obrigada por nada, Marcelo. Tchau!". No pensamento a frase se completou: ("Você devia me tratar com carinho e fazer minha vontade porque hoje eu estou muito tristinha"). Mas também não falei isso e desliguei com um ímpeto de ir até a tal Vara, rasgar todos os processos e ir embora. Okey, eu sei que se ainda quero advogar mais uns anos, é bom que eu consiga me conter um pouco.

Tenho um pouco de preguiça de não acordar legal e não é preguiça de me aguentar. É preguiça do resto. É que hoje em dia parece proibido não estar bem. Sou obrigada a usar meu melhor sorriso, mesmo se eu não quiser. Me deixa, que coisa. Quer algo mais natural do que isso? Do que não estar afim de viver um dia como todos os outros? Tem graça viver, mas hoje eu não estou afim. Tenho o direito, ou não? Tenho o direito de acordar assim, sem ter que ouvir que não tenho problemas suficientes ou que eu deveria procurar um médico.

Ou não?

Ou enlouqueci mesmo e sou obrigada a ser todos os 365 dias do ano a louca-desorientada-que-ri-de-tudo e que nunca vai estar caidinha, amuadinha, querendo colo e paparicos?

Com todo respeito, mas se sua resposta for sim, louco é você! Eu entendo minhas tristezas, ou pelo menos, tento entender. Pior é você aí, que finge não as ter, finge não as entender ou as esconde tão bem a ponto de acreditar que de fato não as tem. Guardar tristeza faz um mal danado. Tudo bem, também não gosto de quem se faz de vítima, potencializa problemas, é pessimista ou mal-humorado. Mas gosto menos ainda de quem disfarça tristeza com sorriso amarelo achando que engana alguém além de si mesmo.

Bom, o resumo da história é que o dia nasceu com cara de que não seria um bom dia. Digo "seria" porque não acredito neste tipo de pré-disposição, então vou fazer minha parte. Dias assim são bons para focar na energia. E, então, por vezes eles acabam sendo melhores do que o esperado. Pessoas boas costumam aparecer. Resultados bons costumam surpreender. Sentimentos bons costumam se fortalecer. Mas é como sempre digo, a alegria é dentro. E a tristeza também. Com motivo ou sem. Independente do ao redor. Tem dia de ser feliz e dia de não ser. E isso é um direito do ser humano: direito de ser humana.

Então, aí vou eu, pronta para ficar quietinha, caladinha. Pronta para olhar com olhos de quem quer atenção e carinho; de mãe, dele, do amigo, da chefe, da esquisitinha da mesa da frente, também conhecida como uma das maiores confidentes da história, da amiga morando em Santos, de pai, do Thor e do Lilico. Vou, pronta pra aceitar que hoje não estou legal e que isso é essencial para vida fluir. Com hora e lugar para que tudo seja mesmo como tem que ser.

Amanhã, já deve ter passado e eu vou ler este post pensando em como eu sou fofinha quando estou tristinha. Aí, anuncio que voltei ao "normal". Como se isso fosse anormal. E não é.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

meus gostos III...


Gosto... de quem me ganha.
Não gosto...de quem me perde.


segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Não dê nome à sua felicidade.

E quem vai entender os desejos mais íntimos, profundos e até obscuros de um ser humano? Já fui aquela que muitas vezes não compreendendo o outro, apontou o dedo para algo que não me pareceu uma conduta adequada. Já vai tempo que não sou assim. Quem pode julgar coisas feitas com o coração, se de fato são feitas com ele? Quando compreendi que cada um sabe os limites da sua felicidade interrompi este tipo de avaliação sobre o agir de cada um. Dei ao outro o direito de ser feliz ao seu modo, sem ter que assistir meu olhar ou meu apontar pesando sobre ele. E me dei este mesmo direito. E por isso também não aceito olhares ou dedos a me apontar. Entendi que detesto mesmo as convenções. Vivo algumas, mas porque quero, não porque as pessoas esperam que eu viva. Dão nomes iguais a contextos diferentes. Namoro. Batizado. Casamento. São vivências e relações tão diferentes umas das outras, que não aceito bem que tenham o mesmo nome. Se eu namoro, meu namoro não parte das mesmas premissas que o seu. E, portanto, provavelmente, não seria necessário que nos levasse ao mesmo lugar. Isso é assunto pra aquele outro post que nunca saiu. Mas pra mim isso engessa os desejos, as manifestações de liberdade. Quem é você? Quem sou eu? O que me satisfaz? E a você? Não dê nome à sua felicidade. O nome da minha felicidade não pode ser o mesmo da sua. Eu quero ter uma satisfação só minha. E quero escolher o nome dela. Não quero que você diga o que é bom pra minha vida. Porque, com licença, só eu sei. É difícil ter convenções assombrando nossas vidas, nossas atitudes. Talvez elas sejam freios sociais, mas não se lutou sempre e tanto por liberdade? Precisamos mesmo é de uma Princesa Isabel das convenções. Que venha alguém, então, e dê a todos uma carta de alforria para que cada um possa escolher o modo como quer viver. Felicidade é tão simples. Mas não é simples tê-la controlada e vigiada por olhos de quem provavelmente ainda acha que a satisfação está ligada a atender ao que as pessoas esperam de nós. É difícil dizer o que nos faz efetivamente feliz. Mais difícil é ser feliz ao nosso modo, abrindo mão daquilo que as pessoas escolheram pra nós. Isso também é assunto pra outra hora, mas propaganda de margarina definitivamente não atende as minhas necessidades urgentes de uma vida feliz. Talvez em outro momento me baste. Por hora, preciso de um pouco mais da experiência que é viver. Mais fundo, mais sentir, mais intensidade ao que é simples e ao que não é também. Isso pra mim é viver.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Eu que preciso.

Vocês não precisam entender quando digo que não sei tirar as pessoas da minha vida; ou que choro vendo jornal nacional, propaganda da pedigree e comédia romântica; ou que acredito em amizade entre homens e mulheres e que ex-namorados deveriam se tornar nossos melhores amigos. Vocês não precisam entender que eu seja irritantemente otimista, acredito em contos-de-fada e em histórias de príncipe e princesa; ou que eu sou uma alma controlada por um grande sonho; ou que gosto de sorrir pra estranhos na rua. Não, não precisam. Nem precisam entender que às vezes sou moderna e às vezes careta. Vocês não precisam mesmo entender que minha vida é um sonho azul, bom de viver, das cores do mundo, de todas as cores que há em mim, em você e ao redor. Vocês não precisam entender que eu não enxergo maldade nas pessoas, que eu acredito nelas; ou que eu tenho ciúmes de quem já passou pela minha vida. Vocês não precisam entender minhas manias, e que sou sistemática. Não precisam entender que preciso falar tanto, e deixar tudo tão explicado. Nem que me calo exatamente diante das situações que me exigiriam mais palavras. Não. Não precisam entender minha paixão por hipopótamos, por biscoito água-e- sal com gelatina ou por realities shows. Vocês não precisam entender meus extremos, e como uma única pessoa pode ser tão racional em alguns momentos, e tão emocional em outros; ou que tenho opiniões tão formadas, mas as troco como troco de roupa. E não precisam entender que adivinho coisas que ninguém me conta; ou que converso com meus cães como se eles pudessem entender e acredito que eles realmente entendem; ou que não tenho vergonha de brincar como criança. Ou que preciso do blog, mesmo se for pra ninguém ler; ou que nunca me acho magra o suficiente; ou que preciso tanto das pessoas, mesmo precisando cada vez menos dela; ou que aceito tanto minhas imperfeições. Não, eu juro que não precisam. Não precisam entender meu gosto por pagode, por tirar fotos e por fazer novos amigos. Também não precisam entender que quando estou ocupada deixo meu MSN ligado, e quando desocupo fico off-line; ou que adoro mensagens de texto. Nem que rabisco coisas estranhas quando estou ao telefone; ou que gosto de coca-comum-com-gelo-e-sem-gás; ou que tenho carteira e não sei dirigir. E que tenho tantos medos e tanta coragem. E que sou tão frágil e tão forte. E que gosto de convencer as pessoas. Vocês não precisam entender que fico meses com o mesmo livro na cabeceira. Vocês não precisam entender meus olhos. E nem o que eu quis dizer com este post, tampouco com o que não está escrito.

Não, vocês não precisam entender nada disso.
Eu que preciso.
Vocês precisam só entender, - e pra isso eu vou roubar umas palavras do Gabriel Nunes -, que eu "às vezes preciso de ser meio maluquinha". Tentar me compreender não é mesmo uma boa opção. E apesar de não ser necessário me entender, é preciso me amar, me aceitar, me querer por perto, me achar linda. E é só.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A dor do outro.

Quem me conhece sabe bem quanto eu rejeito determinados assuntos. Sabe bem quanto afasto e fujo de certas sensações que me afetam de um modo tão ruim a ponto de eu querer evitá-las.

Sou menina medrosa, mulher corajosa. Cheia de coragem abri minha janela, cheia de coragem me mostro mais que seria necessário, permito que as pessoas saibam mais sobre mim do que precisariam de saber, entrego meus mistérios. E com isso, crio outros tantos... Porque também tenho medos, também tenho incertezas sobre minhas verdades, questiono meus dogmas, duvido da minha realidade, não escrevo a melhor parte.

Falo sobre a morte do meu irmão, falo sobre religião, política e relacionamentos. Falo sobre já ter tido o coração partido e falo dos meus sonhos. Falo da minha família, do mundo encantado em que vivo. Falo sobre desejo, vontade e sexualidade. Falo sobre fidelidade, amizade e simplicidade. Falo sobre indignação, diferença e futilidades.

Mas difícil é falar sobre um medo que é do outro. Sobre algo que eu não experimentei e que parece tão distante de mim que eu preferiria negar, fingir que não existe.

Hoje, o assunto não sou eu. Hoje, faz uma semana que eu criei coragem para assistir às notícias sobre o estrago que as chuvas vêm causando. E, sinceramente, preferia não estar vendo. Mas não deu pra fingir que não estava acontecendo, apesar de me saber fraca porque é isso que eu gostaria de ter feito. Não olhar, pra não doer.

O fato é que enxergar esta dor nas pessoas e imaginar o que elas vem passando me desnorteia um pouco. Cada imagem parte meu coração em mil pedaços e me faz sentir uma dor que não é minha. Cada história contada, cada olhar cheio de sonhos destruídos, vidas esvaziadas, dor de perder quem se ama.

Da minha casa, do sofá da minha casa, é muito confortável olhar pro lado e ver meus pais, meus cães, saber que minhas fotos, cartas e roupas estão no meu armário, que tem água e comida na cozinha e que meu acordar amanhã trás mais uma manhã de paz, muito trabalho e uma felicidade simples, mas plena.

Eu não vou entrar na discussão técnica sobre o cenário, nem discutir os causadores, os problemas, o que poderia ter sido feito pra evitar. Não. Hoje o post é só um jeito de desafogar o vazio que assistir televisão tem me causado.

E será que eu tenho o direito de me sentir angustiada por eles? Será que eu, aqui feliz, sem um problema sequer nesta minha doce vida tenho o direito de me sentir tão triste com uma dor que não é minha? É solidário ou egoísta? É humano ou é confortável? Afinal de contas estou aqui, na minha vida. E vida é o que eles perderam. Casa, pessoas, coisas, fotos. Tudo. E nenhum de nós é capaz de mensurar o que estas pessoas devem estar sentindo.

Cada ser humano tem seu porto seguro! E ao perdê-lo? O que resta, o que sobra? Para algumas pessoas resta apenas a ausência e o sentido passa a ser somente uma busca. Uma busca muito triste e incessante por corpos, para que se ainda for possível garantir dignidade a alguém, que seja aos mortos. Ou pelo menos é nisso que se procura acreditar.

Ainda assim, tem gente lá, por força ou estado de choque, aparentemente, com mais força no olhar, com mais estrutura para suportar esta situação do que nós, do que eu.

Eu vou voltar pra mim vida. Vou lá, trabalhar, respirar, comer, sorrir, abraçar, viver. E o que me ocupa é uma espécie de culpa. E pareça estranho como soa na minha cabeça, mas eu preciso dizer. É uma culpa por estar tão feliz, por não poder, ainda que quisesse, compartilhar um sentimento que é deles. Assistir a tudo me garante uma felicidade intensa. Me garante valorizar bem mais a zona de conforto em que vivo.

É felicidade, satisfação, pena, culpa, solidariedade, compaixão. É intenso. É sufocante.

Nestas horas, vale agradecer pelo que há aqui. E pedir a Deus pelo que há lá.
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