sexta-feira, 15 de julho de 2011

Me basto, às vezes.



Quem me conhece é bem capaz de compreender quantas coisas eu teria a escrever em dias como estes. E teria mesmo. Certamente se houvesse um limite de caracteres eu os ultrapassaria. Mas não vou. Não quero. Prefiro meu silêncio, falar sobre coisas simples.


Especialmente hoje, um dia diferentemente difícil, por coincidência ou não recebi mais convites do que costumam aparecer em quintas-feiras. Shopping com as amigas, japonês, chopperia, bar, boate, ver filme sem legenda na casa do melhor amigo, ligação de duas flores da minha vida. E, então, logo eu que não sei dizer não a quem eu gosto, disse. Disse um não silencioso, diferente de quando os tenho que dar cheios de pesar. E eu também não sei se tantos convites foram um sinal para que me lembrasse de quanto carinho as pessoas tem pela minha vida. Ou apenas a sensação delas de que não seria um bom dia para eu estar sozinha. Depois de pensar onde é que eu deveria estar defini que por hoje minha companhia me bastaria. Saber que não estou sozinha por hoje me bastou. Por hoje.


Dizem que todos os dias de nossas vidas devemos fazer coisas que nos façam sentir bem. Eu fiz. Resolvi passear comigo mesma. Em plena quinta-feira comi uma promoção-do-cheddar-com-coca-comum-batata-frita-e-molho-barbecue; lendo o livrinho indicado aqui ao lado, com roteiro apropriado ao momento. Depois ao invés de voltar de táxi como eu faria na situação atual (meus pais estão viajando e eu não dirijo), resolvi pegar um ônibus. E quer saber? Não estou enlouquecendo, mas eu não queria descer. Não queria que acabasse o trajeto, porque o barulho do motor me embalou e cochichou baixinho no meu ouvido que tudo sempre acaba bem e que a vida é boa demais para nos permitirmos tantos incômodos. Daí eu cheguei sozinha em casa, não tem ninguém por aqui hoje além das minhas coisas, da minha vida. Meus pais viajaram e foram de coração partido acreditando que eu precisava deles neste momento. Se enganaram. Eu nunca precisei tanto de que eles não estivessem por aqui.


E cá estou. Meus livrinhos aqui ao lado. Meus sapatos perto da porta da sala. Eu. O barulhinho destas teclas ecoando pela casa afora. Um pilha de dez comédias românticas que eu não tive coragem de assistir sozinha. Não ainda. Talvez amanhã. Silêncio. Até consigo pensar que faltam umas risadas, umas vozes, uns amores, amigos e vinhos. Peguei o telefone. Ia arrumar companhia para acabar com esta calmaria. Depois mudei de idéia. Fiquei a pensar que ninguém mais pode me ser uma companhia tão boa quanto eu mesma. Não vou entrar nesta de me arrepender de não estar distraindo minha cabeça por aí. Ou mesmo por aqui. Melhor lugar para os meus pensamentos é em mim. Tentei acabar um email que não saiu. Pensei. Dormi fora da hora e acordei querendo respostas que estão dentro de mim. Ainda acredito que as terei em tempo e lugar certos. Agradeci a Deus por me dar sabedoria, paciência e serenidade. E tive a ousadia de pedir um pouco mais ainda.


Há dias em que me basto. Há outros que não. Que nos próximos minhas companhias sejam capazes de me lembrar que a vida é hoje. E não há tempo para parar no tempo. Seguindo em frente, um dia de cada vez.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Ciclos hormonais.

Qual a razão pela qual as pessoas entram em nossas vidas? E por que saem? Me lembro bem daquele início de tarde quando a vi pela primeira vez e parece que foi ontem. Já fazem mais de dois anos. Um dos meus melhores irmãos decidiu ir passar uns tempos fora do país. E isso tem a ver com o assunto de hoje porque além de irmão também é meu chefe. Então, com ele longe alguém precisava fazer o trabalho duro em seu lugar. A escolhida foi ela. Lembro de sua chegada, com um sorriso tímido, adentrando no que se tornou a nossa sala. Me lembro de ter pensado: bonita, simpática e parece boazinha. Logo nas primeiras semanas eu descobri que não a achava nem simpática, nem boazinha. Metida. Imaginei ali que não seríamos amigas. Me enganei feio.

Sob todas as óticas aquela que me deu o apelido de esquisitinha me surpreendeu. Okey, eu já cresci e não é para eu me tornar esta manteiga derretida cada vez que se mudar um vizinho do bairro, um colega de trabalho for embora, ou uma amiga tiver que morar fora. Afinal de contas, ela não está vai a lugar nenhum, não é? Só está saindo da minha rotina. Mas o problema é este. Eu não gosto que mexam na minha rotina. Ela sabe disso. Não gosto destas mudanças. Poxa, durante dois anos aquela esquisitinha foi a pessoa com que eu passei mais tempo dos meus dias. E a gente dividiu um caminhão de experiências que eu não quero deixar de viver. Foram muitos almoços, foram muitas tardes, foram muitas discussões jurídicas e trocas de conhecimento. Foram muitas risadas, ora abafadas, ora escandalosas. A gente se ensinou umas coisas, sobre o direito e sobre a vida. Compartilhou o que há de pior e melhor em nós. Nos ajudamos, profissionalmente e emocionalmente. Quantas vezes eu corri pra ela. Mesmo sem que ela soubesse. Como eu fui feliz em ter a maior confidente da história ali ao alcance dos meus bracinhos magricelos. Tão perto que quando eu precisei de socorro nem foi necessário gritar. Bastou um cochicho ou um olhar. E ela ouviu mil histórias, as mesmas por mais de uma vez, ouviu minhas contradições, ouviu os sonhos da minha vida mudarem como mudei de roupa. Também trocamos dicas de moda. E de maquiagem. E de manuais de direito. Ela me achou louca e esquisita, mas sei que também me achou equilibrada e doce. E que me amou por tudo isso. E ela agüentou - com uma doçura que acho que nem ela sabe que possui - minhas manias, humores e crises. Primeiro aprendi a gostar dela apesar do que ela é. Depois, gostei dela exatamente em razão do que ela é. Ela mata barata, troca o galão de água, arruma eletrodomésticos, sabe cozinhar, dirige bem, mora sozinha, não sabe se vai casar, nem se vai ter filhos, vai ser promotora, vai fazer doutorado, detesta fazer escolhas, é tão preocupada com a balança quanto eu, acha que pizza emagrece, só lê livros jurídicos, faz dancinhas estranhas, fala um monte de besteiras. Os dias iam passando e eu me perguntando como é que duas pessoas tão diferentes podiam ser tão parecidas no fim da história? Ela: um pé no chão; eu: um pé no céu. Ela: dúvidas; eu: certezas. Ela: criminalista má; eu civilista louca. Ela: razão; eu: emoção. Ela: de gêmeos; eu: de leão. Ela: minha amiga; eu: a dela. E foi assim que hoje, entalada, querendo evitar o abraço de despedida, descobri que nossos pés e gênios trocaram muitas vezes de lugar, sem que nós pudéssemos perceber. Meu pé foi ao chão, o dela ao céu. Minhas certezas viraram dúvidas, as dúvidas dela certezas. Minhas emoções foram racionais; as razões dela emotivas.
Diz a sabedoria popular que quando duas mulheres se tornam muito amigas seus períodos hormonais acontecem ao mesmo tempo. Depois de dividir tortas holandesas, brigadeiros, lanches, sobremesa e sorvetes percebi que nossos desejos não eram coincidências. A gente sobreviveu por pouco, porque - sim -, na última sexta-feira juntas nós descobrimos: agora nossos ciclos menstruais são iguais. Vim registrar minha despedida aqui, pois apesar de saber que ela não concorda com metade do que eu digo, sei também que ela sempre vem ver as coisas estranhas que eu tenho a falar sobre a vida. No fim das contas está respondida a pergunta lá de cima. Deu para entender um pouco porque é que certas pessoas entram em nossas vidas. Só não dá para entender porque é que uma hora elas têm que sair. Vou sentir saudades.
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