segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Amanheceu nublado.


Amanheceu nublado. E era segunda-feira. Devia haver uma regra como: segundas-feiras são expressamente proibidas de amanhecer cinzentas. Especialmente algumas. Especialmente aquela.

A história é nova, com cara de velha. A morena com sorriso fácil, cor de neve e olho apertado se permitiu outra vez. Tanto tempo depois. Ela é do tipo que se nega a iniciar qualquer romance sem ficção, músicas, flores ou cartas. É que ela acredita que todo casal tem que ter um lugar, uma música, um livro para chamar de seu, para quando tudo estiver indo por água abaixo haver onde se segurar ou se apoiar.

Desta vez a história-de-não-amor, nem chegou a virar verdade, nem foi antes batizada e isso é tudo de que ela pode ser chamada agora. Se é que houve algum lugar para dizer que era deles foi aquele bar com ares de fresco, mas bem calorento na rua dos bares da capital mineira. Foi lá que eles se conheceram, foi lá que a primeira intuição surgiu. E olhando agora, de fora, parece que foi tudo que eles foram. Uma intuição, uma hipótese, um anúncio, que podia virar verdade ou não. Mas distraída, como ela fica no começo de histórias assim, não percebeu que a intuição estava mais para um mau pressentimento.

E naquele domingo lá foi ela para a linha de partida, esquecendo que às vezes ela se confunde com a de chegada. E era para ser um domingo comum. Mas porque ela gosta de fazer histórias tristes virarem poesia, o destino às vezes dá um empurrão a mais. E foi por ali mesmo, onde tudo começou que tudo terminou também. E o dono daquelas janelas verdes pegou em outras mãos, olhou para outros olhos, entrou em outra vida e deixou a dela para trás. Ela se quebrou de novo. Tinha prometido a si mesma se proteger, mas não deu para ser. Confundiu o escudo com a espada e acertou a si mesma.

Ela ficou cega. Estava em paz, encontrada, estava de cabelos longos, segura, estava de blush rosa, esta convicta, estava de saia curta e estava feliz com a vida. Mas ficou cega, a visão embaçou. Ela se partiu. E quando já achava que nem tem mais idade para isso, nem tempo para isso, nem tanto assim de si para dar de graça. E por mais esta vez seus olhos se tornaram uma confissão. E um estranho qualquer enxergou algo diferente em seu olhar e quis saber o que era aquilo. Ela negou o número do seu celular e uma explicação. Ela não disse para aquele cara que tinha acabado de conhecer que era o brilho de quem acabou de perder, que só olhares de donos de corações partidos possuem.

E foi de dentro de mais um banheiro com a higiene comprometida de um lugar onde ela não pretende estar novamente, que ela ouviu de longe, em uma voz nem tão afinada, a ironia das coincidências cantada naquela música, explicando tão bem que algumas idéias não têm mesmo a menor pretensão de acontecer. 


Ela acordou e quis não sair da cama do quarto de hóspede da casa daquela que foi a sua companhia naquela madrugada sem cor. E se ela perdeu alguma coisa naquela noite, ganhou uma boa companheira de sonhos, idéias e sensações. Ela não queria levantar, mas teve. Sua vida estava acontecendo ali afora e ela tinha que voltar para lá. E voltou. Amanheceu nublado. E era segunda-feira.


Qualquer semelhança com a realidade
 pode não ser nada além de mera coincidência.
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