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Só mais uma de amor.

Ela era dele. Ele não era dela. Não era segredo pra ninguém, no fundo, acho que nem pra ela própria. Aquela morena apaixonada, cheia de sonhos de princesa com um sorriso escancarado e inocente, carregava dezenas de ilusões depositadas sobre aquele com características de sapo, que nunca viraria príncipe. Mas quem iria saber que não?

Ela iria.

Estava calor, tinha biquíni, caipivodka, cerveja, churrasco. E também um celular tocando esquecido em cima da mesa daquele quiosque. O bobo alegre a olhou de dentro da piscina e com um olhar inocente a pediu pra interromper a música do Charlie Brown Jr. que servia de toque pro seu celular, o fazendo parecer mesmo um carinha sempre na área, com escritório na praia.

Ela, prestativa e doce, foi atender. Na tela do celular, a caixa de entrada das mensagens anunciou um contato freqüente, quase infindável, entre ele e uma desconhecida de nome não familiar. Enquanto ele ria e se divertia na piscina, ela variou entre a náusea, ânsia e os enjôos que a separavam de um universo do que não fazia parte. A opção correta era apertar o "xiszinho" lá no cantinho direito e imaginar que aquela estranha não se tratava de ninguém que merecesse atenção naquela tarde feliz de sábado.

Mas só que o botão “Sair” é para os fortes, para os equilibrados, para os sensatos. É para quem tem motivos e amor suficientes para segurar esta onda. Ela não tinha. E não era, nem uma coisa, nem outra, nem outra; nem equilibrada, nem forte, nem amada. Ela era apenas uma louca apaixonada aguardando ansiosa o sapo virar príncipe. E eu já disse que ela ainda não sabia, mas nunca viria a acontecer.

Aquela caixa de entrada guardava detalhes íntimos de um outro casal, formado com a ajuda do par que ela achava ser dela. Achava, mas não era. Detalhes íntimos, carinhos, palavras, ritmos e cores parecidas com as que ele utilizava para encantá-la. Era outra história, construída e vivida ali, à sombra da dela. Ou ela é que teria estado à sombra da outra história? Ela é que teria sido a coadjuvante, o personagem secundário da vida dele?

Ela foi embora. Deixou o copo pela metade, a bolsa de praia, um coração espatifado e os sonhos de viver uma história só dela. Tudo ao som daquela musiquinha antiga tocando na versão em pagode, que ensinava que o amor não precisa de ser uma história com princípio, meio e fim...Ou precisa? Ela nem olhou pra trás. Virou as costas e foi. E o que nunca veio a começar, acabou ali. Daquela tarde de sábado em diante nunca mais ela foi dele, nunca mais ela se permitiu ser aquela menina que viveu uma história-de-não-amor. E foi assim que tudo terminou.

Ela sentia saudades, às vezes.

Me lembro de ouvir dizer, depois deste dia, que ela chorou, escondida, naquele banheiro de higiene duvidosa. Era domingo, era samba e ela não conteve as lágrimas após ouvir dizer da boca do recém conhecido menino de boina, all star e fala mansa que ela era linda e que seus olhos tinham algo diferente que ele não sabia o que era.

Ela sabia. Era o brilho pertencente aos donos de corações partidos.

E lá foi ela, atrás de novos amores.

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