terça-feira, 22 de setembro de 2009

A sensação é a mesma...

A sensação é a mesma. A de que não era pra ser assim. Mas é.!

Era para ser só mais um final de semana... Fins de semana vem cheios de sensações boas...É como se fosse mais uma etapinha cumprida. Tarefas, prazos, metas. Encerram-se. Para começar tudo outra vez na segunda-feira.

Sábado foi um dia importante. Comemorando a vitória de um grande amigo. E aí vem o domingo. 13 de setembro de 2009. De céu azul, de vento gostoso, de café da manhã com a família e com o amor, de paz no coração, de, de.. de notícia ruim...

E lá vamos nós. Era para ser só mais um domingo, mas não foi.

E a semana começou mais carregada e pesada do que deveria.

Parque da Colina na manhã de segunda-feira. Estar ali ao lado de grandes amigos, sentindo uma dor que eu sei qual é me faz reviver um milhão de sensações ruins. E hoje eu não vou falar das minhas perdas, mas das impressões que eu tenho em dias assim..

Então...é isso aí..funciona mais ou menos assim... mais uma despedida...ou melhor, mais uma despedida não feita...

Quando se vai alguém a gente logo pensa: “eu nem bem me despedi”... ainda bem que não..despedidas são tristes demais para serem desejadas...a maior dificuldade da morte e a melhor facilidade dela, é que é surpresa...

Poxa..imagina se não fosse..imagina viver sabendo a hora do final? Que graça ia ter, que desespero, que agonia..viver em contagem regressiva..

A todos nós foram concedidas duas prerrogativas..

Uma delas, a certeza...

Eta..CERTEZA.. palavrinha que só a morte dá significado completo...A morte é única coisa certa na vida. Certeza. Eternidade. Pra sempre. Só há garantia de que nossa partida para outro plano é definitiva. Nada mais. Nenhuma outra certeza, nenhuma outra garantia..a não ser esta...

A outra prerrogativa é a SURPRESA, o não saber.. mesmo tendo certeza, mesmo sendo tão seguro de que ela vem.. o não saber é essencial..

A vida é agora, a vida é hoje..vivida sem hora pra acabar, sem previsão de final, no improviso, no de repente... Se a gente soubesse a hora da morte não ia ter graça a vida... É que planejar, prometer, programar é viver...E viver é a única coisa até agora que dá sentido a esta tal morte.

Morte... falar dela é normalmente um tabu.. porque sempre dá a sensação de que se desfez a ordem natural da coisas... Causa sensações ruins, normalmente um desconforto, um constrangimento, um não saber bem o que dizer. Não entendo. Ou entendo até. Eu aprendi à duras penas, que a vida não é aqui.. a gente devia chorar quando as pessoas nascem e sorrir quando elas vão embora.

Enquanto a gente não enxergar isso aqui como uma passagem, vai doer..

TÁ!...eu acredito no que estou escrevendo.. o discurso é legal, no fundo todo mundo sabe disso...mas na prática.. poxa...na prática a gente só quer quem a gente ama perto... e quer, quer um querer maior que a gente mesmo, quer uma vontade do tamanho do infinito que esmaga o coração e quer...

Mas na vida a gente não tem o quer..a gente tem o que precisa.. e quem sabe das nossas necessidades mais íntimas e profundas é só Ele, Deus.

Aí não adianta revoltar, indignar..não há lágrimas derramadas que desviem os fatos do caminho que Deus traçou... e Ele não nos desejou a dor..mas nos predestinou ao crescimento, ao amadurecimento, à evolução...

Mas só quem perde é que sabe... se despedaça algo sólido e concreto demais. Questionamos nossa fé, nossa força. Buscamos respostas para perguntas que não tem. Encontramos respostas para perguntas que jamais fizemos. Não há opção, não há livre escolha. O caminho é a reconstrução. De si mesmo. Descobre-se sua própria fé, sua própria religião.

E a perda jamais será entendida, mas será aceita.

A volta para casa é silenciosa, esquisita. Na segunda-feira eu sai do Parque da Colina e fui para o trabalho. Deixei solidariedade, uma dor compartilhada, um vazio no peito, um nós na garganta, carinho a todos. Minha vida continuou dali. A vida da família, não! A porta que se fecha nas costas deles, nunca mais se abre igual.

É mais ou menos isso.. Minhas impressões sobre este dia. Não é minha visão mais completa, não é sequer minha visão mais racional e transparente, que em outra ocasião eu ainda espero dividir. Mas com certeza é minha descrição mais fiel do cenário daquele início de semana.

E também dói em mim.

...............

A verdade é que a morte é uma piada.

E não parece justa.

Foi Pedro Bial quem muito bem disse:

“MORRER. Como assim? A troco de que? Morrer é um chiste.
Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas...Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas...A apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem vindo... Mas antes de viver tudo? Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça.”

Estes dias, eu uso para pensar, para reavaliar...para me confirmar em busca dos meus propósitos..de ser diariamente uma pessoa melhor..

Meus objetivos enquanto SER..enquanto SER HUMANA vêm sendo realizados..tudo a partir da morte, da perda...Reflitamos. Sobre o que vale a pena...sobre o que merece nosso tempo, nosso investimento.. sobre o que fazer diariamente para ser um ser humano melhor, para ver o mundo melhor, para fazer alguém mais feliz. Sobre o valor que tem se dado as pessoas, sobre o carinho dispensado a elas, sobre a doçura na suas palavras.

Quando se perde alguém, se vai um pedaço de nós mesmos. Daí o caminho é a reconstrução, a mudança de paradigmas. As coisas nunca mais serão as mesmas, mas serão eternamente e diferentemente especiais. Sim. Especiais. A vida de quem fica estará marcada por antes e depois de uma perda. Nada mais vai ser igual, mas isso não quer dizer que as coisas não serão boas.

Sempre há uma missão a ser cumprida, sempre há algo a ser feito, sempre estamos destinados ou pré-destinados a fazer alguma coisa, a mudar o que não é certo. E quando cada um se deitar a cabeça no travesseiro e pensar que a missão está cumprida, chegada estará a sua hora.

“A vida da gente não é medida em distância e sim em largura. Não importa viver 80 anos sem nada, o que vale, são os 20, 30 bem vividos, com a vida cheia, larga..” Foi o Cast. que me disse isso quando meu irmão se foi. E sabe, mesmo sem entender isso muito bem na época, hoje eu garanto que funciona, que é verdade, que minha vida é mais leve do que sempre foi, que eu entendo que a vida do meu irmão valeu por uma vida inteira. Com certeza a do Pedro também.

Eu sei...que serão muitos planos não concretizados, muitos sonhos não realizados... eu sei que serão muitas promessas não cumpridas, e que muitos momentos farão menos sentido sem ele. Mas eu digo e repito, com segurança, que ele nunca esteve tão presente nesses momentos, como a partir de agora.

A morte ainda é a melhor forma de alcançar a vida eterna.

São estas minhas impressões...por hoje, são...

Beijos a todos.

E a sensação ainda é a mesma. A de que não era pra ser assim. Mas é.!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Como vim parar aqui?


Segunda-feira, 07 de setembro. Feriado, 18:40, fim de festinha não rara aqui em casa. Um grande amigo da família foi quem me disse: "Sabe aquela carta que você escreveu pro seu irmão?! É ela que eu leio quando me faltam forças, fica na minha gaveta. Já li mil vezes."

Eu também.

Sexta-feira, 11 de setembro. 11:30. Fiz uma coisa que há muitos anos não fazia. Desde criança. Fui com minha mãe para o trabalho dela. Fiquei lá. Vendo as coisas, observando as pessoas e achando tudo novo e diferente.

Deu muita saudade. De muitas coisas, de muitas fases. Resolvi ler a tal carta, o tal email.

Li. Entalei. Passei aperto para segurar as lágrimas. Parei de ler. Recomecei. Percebi que ainda é igual. Que as coisas que eu sinto falta e escrevo hoje em dia para mim mesma são praticamente as mesmas. Ainda é a mesma sensação de não saber bem o que dizer. Mas também percebi que minhas forças, meus sentimentos se renovam diariamente. Fomos almoçar. No Xodó da Praça da Liberdade... Sabores da infância. Risadas com Ela, minha mãe. Mais saudades.

Sexta-feira, mesmo 11 de setembro, 23:30. Cheguei da academia com os hormônios da felicidade transbordando. Assentei com meus pais lá no quintal como em quase todas as sextas. Mais momentos bons. Mais saudades. Mais sensações.

Seguinte: 11 de setembro costuma mexer comigo. Me lembro ainda daqueeele outro 11 de setembro. Adolescente, fazendo trabalho de escola na casa de uns colegas e lá estava aquela imagem. Um avião. Duas torres ao chão. Desespero. Fumaça. Centenas de pessoas mortas. Fico sensível a certas cenas.

Essa é uma. Um milhão de outras, diariamente. Eu sempre penso no que dizer, no que escrever, na vontade de dividir com as pessoas um sentimento, uma sensação, uma indignação. Elaboro, escrevo, às vezes envio, às vezes não.

As vezes meses depois me pego relendo meus "enviados" ou meus "rascunhos". Queria que os outros também relessem, também lembrassem, também soubessem do que está vivo em mim, das minhas impressões e sensações sobre a vida.

Sexta-feira, 11 de setembro, 23:49. Boa noite pro meu lindo. Boa noite pra papi e mami. Boa noite pra Thor e Lilico. Boa noite pro irmão. Pensamento passeia por todos que eu amo. E cá estou eu.

Finalmente. Querendo/permitindo que vocês espiem da minha janela.

Se eu não puder me dividir com as pessoas não faz sentido.

Sempre com muito a dizer.
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