segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Não dê nome à sua felicidade.

E quem vai entender os desejos mais íntimos, profundos e até obscuros de um ser humano? Já fui aquela que muitas vezes não compreendendo o outro, apontou o dedo para algo que não me pareceu uma conduta adequada. Já vai tempo que não sou assim. Quem pode julgar coisas feitas com o coração, se de fato são feitas com ele? Quando compreendi que cada um sabe os limites da sua felicidade interrompi este tipo de avaliação sobre o agir de cada um. Dei ao outro o direito de ser feliz ao seu modo, sem ter que assistir meu olhar ou meu apontar pesando sobre ele. E me dei este mesmo direito. E por isso também não aceito olhares ou dedos a me apontar. Entendi que detesto mesmo as convenções. Vivo algumas, mas porque quero, não porque as pessoas esperam que eu viva. Dão nomes iguais a contextos diferentes. Namoro. Batizado. Casamento. São vivências e relações tão diferentes umas das outras, que não aceito bem que tenham o mesmo nome. Se eu namoro, meu namoro não parte das mesmas premissas que o seu. E, portanto, provavelmente, não seria necessário que nos levasse ao mesmo lugar. Isso é assunto pra aquele outro post que nunca saiu. Mas pra mim isso engessa os desejos, as manifestações de liberdade. Quem é você? Quem sou eu? O que me satisfaz? E a você? Não dê nome à sua felicidade. O nome da minha felicidade não pode ser o mesmo da sua. Eu quero ter uma satisfação só minha. E quero escolher o nome dela. Não quero que você diga o que é bom pra minha vida. Porque, com licença, só eu sei. É difícil ter convenções assombrando nossas vidas, nossas atitudes. Talvez elas sejam freios sociais, mas não se lutou sempre e tanto por liberdade? Precisamos mesmo é de uma Princesa Isabel das convenções. Que venha alguém, então, e dê a todos uma carta de alforria para que cada um possa escolher o modo como quer viver. Felicidade é tão simples. Mas não é simples tê-la controlada e vigiada por olhos de quem provavelmente ainda acha que a satisfação está ligada a atender ao que as pessoas esperam de nós. É difícil dizer o que nos faz efetivamente feliz. Mais difícil é ser feliz ao nosso modo, abrindo mão daquilo que as pessoas escolheram pra nós. Isso também é assunto pra outra hora, mas propaganda de margarina definitivamente não atende as minhas necessidades urgentes de uma vida feliz. Talvez em outro momento me baste. Por hora, preciso de um pouco mais da experiência que é viver. Mais fundo, mais sentir, mais intensidade ao que é simples e ao que não é também. Isso pra mim é viver.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Eu que preciso.

Vocês não precisam entender quando digo que não sei tirar as pessoas da minha vida; ou que choro vendo jornal nacional, propaganda da pedigree e comédia romântica; ou que acredito em amizade entre homens e mulheres e que ex-namorados deveriam se tornar nossos melhores amigos. Vocês não precisam entender que eu seja irritantemente otimista, acredito em contos-de-fada e em histórias de príncipe e princesa; ou que eu sou uma alma controlada por um grande sonho; ou que gosto de sorrir pra estranhos na rua. Não, não precisam. Nem precisam entender que às vezes sou moderna e às vezes careta. Vocês não precisam mesmo entender que minha vida é um sonho azul, bom de viver, das cores do mundo, de todas as cores que há em mim, em você e ao redor. Vocês não precisam entender que eu não enxergo maldade nas pessoas, que eu acredito nelas; ou que eu tenho ciúmes de quem já passou pela minha vida. Vocês não precisam entender minhas manias, e que sou sistemática. Não precisam entender que preciso falar tanto, e deixar tudo tão explicado. Nem que me calo exatamente diante das situações que me exigiriam mais palavras. Não. Não precisam entender minha paixão por hipopótamos, por biscoito água-e- sal com gelatina ou por realities shows. Vocês não precisam entender meus extremos, e como uma única pessoa pode ser tão racional em alguns momentos, e tão emocional em outros; ou que tenho opiniões tão formadas, mas as troco como troco de roupa. E não precisam entender que adivinho coisas que ninguém me conta; ou que converso com meus cães como se eles pudessem entender e acredito que eles realmente entendem; ou que não tenho vergonha de brincar como criança. Ou que preciso do blog, mesmo se for pra ninguém ler; ou que nunca me acho magra o suficiente; ou que preciso tanto das pessoas, mesmo precisando cada vez menos dela; ou que aceito tanto minhas imperfeições. Não, eu juro que não precisam. Não precisam entender meu gosto por pagode, por tirar fotos e por fazer novos amigos. Também não precisam entender que quando estou ocupada deixo meu MSN ligado, e quando desocupo fico off-line; ou que adoro mensagens de texto. Nem que rabisco coisas estranhas quando estou ao telefone; ou que gosto de coca-comum-com-gelo-e-sem-gás; ou que tenho carteira e não sei dirigir. E que tenho tantos medos e tanta coragem. E que sou tão frágil e tão forte. E que gosto de convencer as pessoas. Vocês não precisam entender que fico meses com o mesmo livro na cabeceira. Vocês não precisam entender meus olhos. E nem o que eu quis dizer com este post, tampouco com o que não está escrito.

Não, vocês não precisam entender nada disso.
Eu que preciso.
Vocês precisam só entender, - e pra isso eu vou roubar umas palavras do Gabriel Nunes -, que eu "às vezes preciso de ser meio maluquinha". Tentar me compreender não é mesmo uma boa opção. E apesar de não ser necessário me entender, é preciso me amar, me aceitar, me querer por perto, me achar linda. E é só.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A dor do outro.

Quem me conhece sabe bem quanto eu rejeito determinados assuntos. Sabe bem quanto afasto e fujo de certas sensações que me afetam de um modo tão ruim a ponto de eu querer evitá-las.

Sou menina medrosa, mulher corajosa. Cheia de coragem abri minha janela, cheia de coragem me mostro mais que seria necessário, permito que as pessoas saibam mais sobre mim do que precisariam de saber, entrego meus mistérios. E com isso, crio outros tantos... Porque também tenho medos, também tenho incertezas sobre minhas verdades, questiono meus dogmas, duvido da minha realidade, não escrevo a melhor parte.

Falo sobre a morte do meu irmão, falo sobre religião, política e relacionamentos. Falo sobre já ter tido o coração partido e falo dos meus sonhos. Falo da minha família, do mundo encantado em que vivo. Falo sobre desejo, vontade e sexualidade. Falo sobre fidelidade, amizade e simplicidade. Falo sobre indignação, diferença e futilidades.

Mas difícil é falar sobre um medo que é do outro. Sobre algo que eu não experimentei e que parece tão distante de mim que eu preferiria negar, fingir que não existe.

Hoje, o assunto não sou eu. Hoje, faz uma semana que eu criei coragem para assistir às notícias sobre o estrago que as chuvas vêm causando. E, sinceramente, preferia não estar vendo. Mas não deu pra fingir que não estava acontecendo, apesar de me saber fraca porque é isso que eu gostaria de ter feito. Não olhar, pra não doer.

O fato é que enxergar esta dor nas pessoas e imaginar o que elas vem passando me desnorteia um pouco. Cada imagem parte meu coração em mil pedaços e me faz sentir uma dor que não é minha. Cada história contada, cada olhar cheio de sonhos destruídos, vidas esvaziadas, dor de perder quem se ama.

Da minha casa, do sofá da minha casa, é muito confortável olhar pro lado e ver meus pais, meus cães, saber que minhas fotos, cartas e roupas estão no meu armário, que tem água e comida na cozinha e que meu acordar amanhã trás mais uma manhã de paz, muito trabalho e uma felicidade simples, mas plena.

Eu não vou entrar na discussão técnica sobre o cenário, nem discutir os causadores, os problemas, o que poderia ter sido feito pra evitar. Não. Hoje o post é só um jeito de desafogar o vazio que assistir televisão tem me causado.

E será que eu tenho o direito de me sentir angustiada por eles? Será que eu, aqui feliz, sem um problema sequer nesta minha doce vida tenho o direito de me sentir tão triste com uma dor que não é minha? É solidário ou egoísta? É humano ou é confortável? Afinal de contas estou aqui, na minha vida. E vida é o que eles perderam. Casa, pessoas, coisas, fotos. Tudo. E nenhum de nós é capaz de mensurar o que estas pessoas devem estar sentindo.

Cada ser humano tem seu porto seguro! E ao perdê-lo? O que resta, o que sobra? Para algumas pessoas resta apenas a ausência e o sentido passa a ser somente uma busca. Uma busca muito triste e incessante por corpos, para que se ainda for possível garantir dignidade a alguém, que seja aos mortos. Ou pelo menos é nisso que se procura acreditar.

Ainda assim, tem gente lá, por força ou estado de choque, aparentemente, com mais força no olhar, com mais estrutura para suportar esta situação do que nós, do que eu.

Eu vou voltar pra mim vida. Vou lá, trabalhar, respirar, comer, sorrir, abraçar, viver. E o que me ocupa é uma espécie de culpa. E pareça estranho como soa na minha cabeça, mas eu preciso dizer. É uma culpa por estar tão feliz, por não poder, ainda que quisesse, compartilhar um sentimento que é deles. Assistir a tudo me garante uma felicidade intensa. Me garante valorizar bem mais a zona de conforto em que vivo.

É felicidade, satisfação, pena, culpa, solidariedade, compaixão. É intenso. É sufocante.

Nestas horas, vale agradecer pelo que há aqui. E pedir a Deus pelo que há lá.
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