sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Partir sem ter planos.


Coisa que gosto é poder partir sem ter planos.

Natal. Ano novo. Descanso. Malas. Aeroporto. Passeio na praia. Livros. Biquíni. Chinelo. Nada de internet, ar condicionado ou salto alto. Enfim, férias.

Não, não são férias das pessoas, do trabalho, da rotina. É uma espécie de férias de mim mesma. Pela primeira vez, nos últimos anos, passei uns dias sem a cabeça funcionando, sem a vontade compulsiva de escrever, de resolver, falar, explicar, complicar, organizar. Férias... meu jeito simples de me encontrar em mim mesma.
E não tem preço café da manhã de hotel. Caminhar na praia. Olhar o céu sem hora de acabar. O relógio esquecido na mesa de cabeceira da minha cama feitinha lá na cidade mineira, e não precisar dele para nada. Passeios de mãos dadas. Cheiro de protetor solar. Passar quinze dias sem um check list. Caixas de emails e celular off line. Escrever com coqueiro, céu e sol me olhando neste fim de tarde. Escrever por escrever, sem precisar me esvaziar.

Quem não precisa de férias de si mesmo? Agradeço as minhas. Eu também me canso. Me canso do meu medo, da minha felicidade, das minhas manias, das minhas esquisitices, do meu humor, da minha praticidade, das minhas certezas, da minha paz, da minha inquietação, das minhas falhas, de querer estar sempre certa. Ser eu cansa. E férias me descansam.

Estou off-line. Mente aberta, coração e cabeça funcionando na mesma sintonia. Vivendo pra ser melhor, e só. Ano novo apontando no horizonte.

Já disse, não sou muito afeta a tradições. E o réveillon não passa imune. 10-9-8-7-6-5-4-3-2-1 e...... e..... E... nada. Ainda somos os mesmos, ainda sou eu, ainda é você, na mesma vida, apenas um segundo depois.

Mas, tudo bem, me rendo aos abraços gratuitos que todo mundo distribui neste momento, às risadas sem motivo, à saudade boa daquele abraço que eu não tenho mais, ao barulho das rolhas saltitando dos espumantes, às lágrimas suaves, mas inevitáveis dos meus pais, aos bons desejos, a mente esperando forte e firme tudo que os próximos 365 dias guardam. Poderiam ser 20, 456 ou 1537, mas são 365 e me servem. Me rendo a fechar um ciclo. A me proporcionar a chance de fazer melhor. O que foi feito até hoje, às 11:59 horas, passou. O que vem, pode ser restaurado, ajeitado, conduzido ao nosso modo. Não é isso? É sim. É apenas outra chance. Mas o que mais se pode esperar na vida do que outra chance? Que seja bem aproveitada então.

Renovem as promessas, pense naquilo que você espera para depois dos fogos de artifício. As minhas estão refeitas. Estudar mais. Dormir mais. Menos internet. Não deixar a monografia da pós para o último dia do prazo. Adquirir o novo pacote de depilação a laser. Fazer novos amigos. Rever os velhos. Cultivar os bons. Ser sempre mais doce, mais leve, mais equilibrada. Ser menos louca, sistemática e pensante. Comprar menos. Malhar os doze meses do ano. Diminuir a coca-cola e o Mc Donald’s. Manter o peso. Ver mais vezes o pôr do sol e o nascer também. Ir mais vezes a praças. Não cometer injustiças. Viver do meu jeito, pra ser melhor, e só.

Este momento, este exato segundo, pra mim é mágico. Pensar lá no fundo o que eu preciso de mim e da minha vida pra ser ainda mais feliz e completa. Agradecer. Sorrir. Re-olhar o céu. Missão cumprida. Balanço feito. O mais importante não está escrito, já que com ou sem janela aberta, tenho meus mistérios. Mas está feito. Agora, só ano que vem.

Coisa que gosto é poder partir sem ter planos, melhor ainda é poder voltar quando quero.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

É só um apertinho.


Não gosto de sentir o peito apertado, sem saber porque. Não é aperto de tristeza, que eu desconheço isso. Sou feliz, quase idiota. É um aperto de não saber mesmo. De alguma falta, algo que saiu diferente do que deveria, algum mistério, alguma coisa que não pôde ser. Ou aperto de fim de tarde, de fim de expediente, de fim de ano. Ou aperto de não está cabendo, não serviu, ficou pequeno. Preciso de cumprir meus roteiros, não sei sair dos planos. É que sou muita entrega. Muita entrega pra 53 quilos. Precisaria de menos. Menos entrega, birra, manha. Ou mais. Mais quilos, tamanho ou idade. Sou criança, lembra? Menina, pequena, faço bico, manha, fecho a cara se não gostei. Não sei ouvir não. Não aceito sentir que estou sendo contrariada, que alguma vontade ou desejo meu possam ser negados. Eu sou estranha. Mas me sinto idiotamente feliz e completa quando enxergo que me conheço tanto e me aceito assim. Esquisita, mas inteira. Real. Transparente. Porque, há muito já perdi meus medos de mostrar o que sou e o que penso. E tento viver sem planejar. E se a proposta não parece boa, você não precisa aceitar. Porque também não aceito certas moedas. Em dias destes gosto de me cuidar, e, então é que me gosto mais. É que gosto de quem cuida de mim, mesmo quando este alguém sou eu mesma. Lá vou eu, atrás de uns colos bons.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Só imaginando.

Cenário um: Um pai. Uma mãe. Uma menininha. O pai, agressivo. A mãe, covarde. A mãe vai embora. A filha fica com o pai. O pai tinha uma amante, que tinha uma filha, que era violentada por ele.

Cenário dois: Um pai. Uma mãe. Um menininho. A mãe vai embora. O pai também; é assassinado. Um filho fica com a avó. O outro é preso por assalto a mão armada e com acusações de estupro.

Cenário três: A menininha da primeira história se encontra com o menininho da segunda. Agora eles são: Um pai. Uma mãe. Um menininho que pegou emprestado o nome do pai. O pai, suposto ídolo. Suposto assassino também. A mãe, suposta modelo. Suposta garota de programa.

Cenário quatro: A mãe foi morta. Pelos amigos do papai. O papai foi preso. O menininho ficou sem pai, sem mãe.

Os personagens das histórias têm nome. Nome conhecido. Era pra ser só mais um caso policial, como tantos outros. Mas não foi. No último ano tivemos overdose da tal história. A mídia fez o papel que tantas vezes cumpre muito bem de des-informar e fez do que era para ser um caso de polícia, algo muito próximo de uma trama da novela das 8. Mas isso já é clichê.

Era uma tragédia anunciada. A suposta crueldade e os motivos obscuros chamam a atenção, mas sinceramente não entendi a surpresa. É só mais um caso, entre milhares, ou não? Hoje eles foram pronunciados e serão, logo, submetidos a um júri popular. E eu não consegui sentir um segundo de satisfação com isso, ou de alívio, ou do que chamam de justiça-sendo-feita.

Talvez eles sejam assassinos. Talvez vítimas. Se algum for, de fato, o assassino, será apenas mais um, entre centenas que são diariamente soltos, porque a mídia só tem olhos para o que quer ver. Parei há tempos de ler as notícias do tal caso, porque é angustiante. É que enclausurar este pessoal dentro de quartos apertados, frios e com mal cheiro não satisfaz meus desejos humanos mais íntimos pro mundo. Não mesmo. À princípio, é confortável imaginar que mais um ser que possa me fazer mal estará enjaulado. Mas... não é isso que eu espero pro mundo no qual eu ainda não perdi a esperança de viver.

Não consigo ter raiva do tal moço. Ter raiva do que, de quem? Quem é o culpado do que? Aonde começa o problema? E aonde acaba? Aonde vai parar? Quem são as vítimas? Também tenho culpa por assistir parada ao Estado produzindo assassinos, criando pequenos monstros e loucos. E você também tem.

Aí, seja por questões genéticas, seja por questões sociais eu não consigo achar que o menininho lá de cima que herdou o nome do pai vá ter uma infância ou uma vida feliz e digna... Poxa, é só ele começar a entender as coisas e vai descobrir que a mãe está morta, talvez, pelo pai, que por sua vez está preso; e que ele mora com a avó que abandonou a mãe ou com o avô que a abusou.

Me entristece saber que eu tenho cama, comida, emprego, colo de mãe e pai, conforto, estrutura, instrução, educação, alegria, motivos pra achar que eu sou a pessoa mais feliz que já houve, boas lembranças na memória. E que este menininho, representante de milhares de outros menininhos viverá certamente em traumas. Talvez uma vida parecida demais com a de seu pai ou de sua mãe pra imaginarmos que coisas boas possam acontecer pra ele.

Peço desculpas a mim mesma, por neste momento, estar pessimista e desesperançosa. A realidade que o suposto assassino e a suposta prostituta viveram é muito diferente da minha para que eu possa fazer um julgamento disso tudo, sem parecer uma louca cheia de compaixão com a vida alheia ou uma mulher indefesa e amedrontada diante da realidade.

Não quero eximir ninguém e isso também não caberia a mim, que sou pessoalmente e diariamente atingida pelo medo. Só realmente queria que este rapaz fosse inocente. Por nada. Apenas porque eu realmente gostaria que ele tivesse aproveitado a oportunidade de ser algo que a vida não oportunizou que ele fosse. A vida disse que ele não seria nada e até aqui ele tinha conseguido sozinho, o que foi predestinado a não alcançar: um futuro bom. E perdeu isso fazendo exatamente o que ele foi criado para fazer. Não estou e nem vou analisar como um ser que se denomina humano tem a coragem de fazer determinadas coisas, e eu nem sei, e não sei mesmo se ele fez. Mas gostaria que não.

Mas mesmo assim não é justo. Nada nesta história me parece justo.
Macarrão, Bola, Coxinha. Como eu posso exigir de gente com nome de comida ou de coisa, gente sem endereço, rumo e sobrenome que respeitem o próximo.

Como pedir algo a alguém que viu ainda adolescente os melhores amigos morrerem de tiro, ou de droga, a mãe apanhar do pai, o irmão ser preso, o pai morrer de dívida ou de desgosto...? Como pedir ou exigir qualquer coisa de alguém assim? Como pedir amor, compaixão ou respeito? Como exigir carinho, solidariedade ou responsabilidade? Como pedir amor à vida pra alguém que não conheceu. Nem o amor, nem a vida.

Infelizmente, não dá. E não vai dar ainda por muito tempo. Somos obrigados a fingir que não é com a gente, que ninguém perguntou, porque é o único jeito de viver nossas vidas. A gente se esconde por trás de muros altos e eles sobrevivem nos morros, ou atrás das grades. Mas cada amanhecer é tão triste pra eles, quanto pra nós, sob diferentes pontos de vista.

Eu queria que o tal Bruno, (e poderia ser Pedro, Felipe, João, Henrique), fosse inocente. ... E ainda quero. Fico aguardando dias melhores. Por enquanto, só imaginando.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um sonho bom!

Sempre fico a pensar no que os sonhos representam. Às vezes acho que são uma modo de fazer algo que gostaríamos de ter feito e não tivemos possibilidade ou coragem. Às vezes acho que são um modo de realizar ou viver algo que não gostaríamos, mas pelo que devemos passar, pra experimentar sensações, testar nossos medos, nossa moral, nossas vontades. Às vezes acho que nem uma coisa, nem outra, que não querem dizer nada, que é só diversão do inconsciente, da alma, pra sair da mesmice dos nossos pensamentos ou da nossa rotina.

Eu nunca sonhei com meu irmão. Sempre pedia pra isso acontecer só quando fosse a hora. Digo, nunca tinha sonhado. Até esta noite.

O sonho: Uma festinha lá em casa. (não rara). Os amigos todos lá. Meus pais. Os meninos. Os vizinhos de muro e de rua. Churrasco, pinga (argh), vodka, água de côco, suco de laranja, os amendoins da minha mãe. Eu resolvi tomar conta do som, o que normalmente não é autorizado, uma vez que meu gosto musical é considerado duvidoso. Coloquei uma música do Alexandre Pires no Repeat: "Quem é você? Você é o grande amor da minha viiiiida"... Depois de duas horas tocando a mesma música, ele se aproximou do som, fingiu que me xingou e desligou. Eu dei um grito lá de longe e corri pra ele: "Não tira minha músiiiiiiica!" Ele me olhou. Sorriu. Doce. Bravo-de-mentira. Me chamou de baranga. E me passou os braços em volta do pescoço, como ele sempre fez. E, então, a gente riu. Um pro outro.

Acordei pensando: "É, isso, seu atrevido? 4 anos sem sonhar com você e você vem com este sonho bobo?" É verdade que eu havia imaginado alguma outra coisa. Mas acordei em paz. Como se ele ainda fosse parte da minha vida. Pra mim, o que mais importa, são os detalhes. É o que é simples e bom. Então, entendi. Entendi que não haveria maneira melhor de sentir que ele ainda é parte de tudo em mim e na minha vida. E é. E eu senti. Pode ter sido só um sonho. Mas foi real. E foi simples. E bom.

A propósito, não, eu não gosto desta música.
Saudadezinha boa.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Vi, vivi ou inventei!

Eu nunca expliquei de onde surgiu o nome do blog. Acho até que deveria ter sido a primeira coisa a ser feita quando ele nasceu. Ou nem devia explicar e deixar cada um entender ao seu modo, fazer sua interpretação. Mas vou dizer.

Eu estava lendo Martha em um dia qualquer. E quem me conhece sabe da minha adoração por esta mulher. Não sou de muitos ídolos, mas ela é, definitivamente, uma das minhas. Diz tudo que eu quero dizer, pensa tudo que eu penso, escreve tudo que eu quero escrever. Às vezes sinto aflição, porque gostaria de ter, eu, dito antes.

Tem um texto dela, chamado A Janela dos Outros, em que ela fala sobre como o ser humano tende a só querer ver o que mostra sua própria janela, como se a visão ou opinião do outro não tivesse mesmo muita importância.

Em um momento da crônica, perto do final, ela diz “A sabedoria recomenda que falemos menos, que batamos menos o martelo e que sejamos menos enfáticos”. Conheço poucas pessoas que falem tanto e batam tanto o martelo como eu. Minha melhor amiga sempre diz que eu sou enfática e isso vindo de alguém que eu sei que me ama e me admira tanto, pode ser entendido como algo próximo de cabeça dura, mimada, birrenta ou teimosa. Ou tudo ao mesmo tempo.

De alguma forma eu sou mesmo isso. Acredito tanto naquilo em que acredito que sinto necessidade de enfatizar, de frisar, grifar com marca-texto, escrever no post-it, no mural, no blog. Mas, apesar da crença nas coisas que me despertam verdade, não tenho pudor algum de mudar de opinião. Sou a pessoa do outro lado. A longo prazo sou um milhão de contradições. Vou me alternando entre versões distintas. Olhando a janela alheia. Subindo no muro para ponderar os dois lados que toda história tem. Vivo assim. E pra mim, funciona.

Falta isso nas pessoas. Falta baixar a guarda, falta desengatilhar as armas e viver mais leve. Cada um do seu jeito. Cada um levando a vida como acha melhor. Cada um carregando sua própria cruz. Cada um respeitando as escolhas que o outro faz. Cada um aceitando que nenhuma verdade é absoluta e que o centro do universo passa longe de seu próprio umbigo. Sempre digo, quem carrega as responsabilidades pelo que eu faço sou eu. E quem carrega as culpas pelo que você faz é você. Eu assumo de cá. Você assume daí. E pronto. E ponto. Cada macaco no seu galho. Cada um com seus problemas.

Me sinto perdida quando acho que não estão olhando da minha janela, que não estão se pondo no meu lugar, nem tentando entender o que eu sinto e penso. E muitas vezes, sem sequer ouvir o que eu tenho a dizer. Por isso o blog, por isso o nome. Afinal de contas, aqui, fica escancarada a minha janela, a chance de que o outro espie minha alma, minhas opiniões e minha vida.

Assim me sinto com a missão cumprida de que, mesmo se for para não concordar comigo, as pessoas terão antes uma versão escrita, uma opinião concreta, um martelo batido, um ponto de partida. Fica o registro do que há em mim. Janela aberta.

Sempre soube que definições são limitadoras.

Aqui, aceitei correr este risco, lembrando a quem importar saber, que o melhor não está escrito e não está mesmo. Foi só o jeito que eu inventei para não morrer sufocada. Aqui, da minha janela, da janela da minha vida, tem eu. Eu em palavras, eu ao meu modo, eu na minha versão. Eu e a minha verdade. A verdade que eu vivo, vejo ou invento. E nem por isso deixa de ser minha. A janela da minha vida.
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