Pular para o conteúdo principal

Minutos de silêncio.

Meus pais sempre trabalharam na área de educação. Ganharam a vida assim. E sei que na verdade ganharam muito mais. Sei que professores e quem trabalha assistindo as crianças crescerem é que aprendem de verdade. As crianças aprendem a ler, aprendem os números, aprendem geografia. Mas as lições aprendidas por quem ensina, estas sim, são lições para uma vida inteira. Sei que meus pais são pessoas melhores em razão da carreira que escolheram. E também sei que sempre viverão para isso. De alguma maneira eu os invejo porque minha carreira não tem certas doses de sensações que eles vivem diariamente.

Hoje, foi dia de tragédia. Dia de clima ruim. Dia de chegar no trabalho e assistir a olhares distantes, a um silêncio triste e decepcionado com a notícia que nos deu bom dia. “Crianças foram mortas por atirador dentro de escola.” A sala de aula e a escola são lembranças boas. Pelo menos pra mim são. São lembranças das primeiras amizades. Dos primeiros amores. Das primeiras vitórias. Vitórias... O que se viu acontecer hoje dentro daquela escola é a maior derrota do ser humano. É o pior lugar onde se pode estar. É o fundo do poço. Se isso não fosse ruim demais para se dizer do fundo do poço.

Poxa, crianças são o que, seguramente, restou de bom para o mundo. Crianças nos devolvem o que ainda há de inocência dentro de nós. Nos permitem o real, espontâneo, puro. Puras. Crianças são puras. São felizes. E nada é mais gostoso do que a sensação que me remete as risadas soltas dadas pelos pátios e salas de aula. Criança ri de tudo. De nada. Criança ri, sorri, corre, brinca. Criança acredita. Criança alcança. Criança só quer chocolate. Ou colo. Ou dar as mãos. Criança canta. Encanta. Eu me amo o dobro quando consigo ser a criança que eu insisto em ser. É difícil imaginar de onde vem coragem para tirar por um segundo sequer o sorriso da boca de uma criança. Não é coragem, é covarde. Perto de onde trabalho tem uma escola. Toda vez que passo ali só consigo ter esperança. Só consigo acreditar em um futuro bom. Porque acho mesmo que aqueles rostinhos carregam uma responsabilidade enorme consigo.

Eventos como os de hoje partem meu coração. Me tiram as palavras. Elas que normalmente transbordam, em dias como hoje, restam entaladas. Entala a garganta, o coração. Aperta um nó dentro do peito. Como desculpa (que procuro para tudo), só posso tentar crer que este “cara” não freqüentou uma sala de aula. Não aprendeu as palavras, os números. Nem o amor. E ele só deve ter colocado em prática o que aprendeu em algum lugar por aí. Hoje o post não é desabafo, não é necessidade. É só um registro de uma energia muito positiva que de coração eu passei o dia enviando às famílias que eu nem conheço, mas que, definitivamente, devem ter passado pelo pior dia de suas vidas. Muito triste. Qualquer hora ainda vamos compreender um sentido ou uma razão para dias como este.

Sem inspiração, por hoje é só. Minutos de silêncio.

Paz e amor (sem clichê). Paz e amor para o mundo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Para beijar na chuva.

Pela ordem natural este post deveria ser aquele sobre minha viagem, sobre minha partida, sobre minha chegada.  Mas não tenho sido muito adepta da ordem natural ou estaria em uma outra vida, sonhando com um bando de coisas que eu nem acredito que existem. Por isso o fim de ano chegou primeiro e com ele meu post da virada, que tem se tornado uma tradição para mim. Algo como o Especial de Natal do Roberto Carlos ou o Show da Virada do Faustão. Post de final de ano, então, tem todo fim de ano. A única condição aqui é que as sensações sejam novas e desde já fica meu pedido para que o universo renove meus desejos e que eles sejam mesmo diferentes a cada ano, e sejam alimentados por expectativas diferentes, sensações diferentes e sonhos diferentes. E que haja, por isso, inspiração para que eu escreva a cada virada de ano e muitas vezes entre uma virada e outra, porque se isso não significa muito para as pessoas, para mim, significa sempre que eu estou viva. E só por este motivo e...

Carta aberta a Fábio Jr.

« Enquanto não  atravessarmos  a dor da  nossa  própria solidão,  continuaremos  a nos buscar  em outras metades. Para viver a dois, antes,  é necessário ser um. » - Fernando Pessoa. Fábio, você tem ideia do que você fez? Você tem ideia de quantas milhares de pessoas estão infelizes por sua causa? Está bem, eu sei que é um peso muito grande para você carregar, mas você devia ter pensado nisso antes. Eu gostava tanto de você, sabia? Sei lá se você é afinado o bastante, mas como a única coisa que eu entendo de música é que eu gosto quando me faz sentir viva, você serviu. Passei minha infância inteira te ouvindo por milhares de quilômetros no banco de trás do carro e em tardes passadas no quintal. Passei minha adolescência inteira te ouvindo cantando lá na sala durante os jantares que meus pais faziam para os amigos. Passei minha vida adulta inteira acordando com você me perturbando domingos de manhã (muit...

Estrela no teto.

O quarto do meu irmão virou o quarto de computador. Foi melhor assim. Mudar as coisas de lugar diminui a estranheza de não tê-lo mais aqui. O armário, aos poucos, foi esvaziado e dele, guarda apenas uma ou outra camiseta preferida. A cama mudou de lugar. O computador veio para cá. Um mural de fotos, uns livros, outra cor na parede. Pronto. Algumas mudanças. Necessárias. Algo aqui, algo ali foi mantido igual. Melhor assim também. A mudança desconstrói umas sensações que não são boas para se viver todo dia. E os detalhes preservados mantêm aquelas sensações sem as quais não seríamos capazes de viver. Cada qual com sua função: a mudança e os detalhes. Hoje estava aqui, esperando baixar um arquivo e dei uma espreguiçadinha, estiquei, balancei os cabelos e olhei pra cima. Tudo automático, coisa que se faz todo dia. No teto deste quarto em que já estive por tantos anos, vi, pequenininha, esquecidinha, já pintada da cor nova do teto, uma estrelinha. Sim, uma estrelinha. Lembra daqueles adesi...