
Me lembro do amigo que me levou para casa, com uma expressão de dor que resisti a enxergar, enquanto tentava me prometer, - sem conseguir -, que meu irmão estava bem. Existe uma carta pronta para ele, há cinco anos, que nunca foi entregue. Ele é a pessoa que eu sempre quero ver quando duvido que as coisas possam ficar bem na minha vida. É que sua lembrança me dá segurança, segurança de que, pior do que está não vai ficar. Me lembro também do olhar do meu pai, que me deu a notícia sem ter que dizer sequer uma palavra. Me lembro de nesta hora sucumbir à dor e ir para o chão. Me lembro da primeira ligação que recebi, daquele loiro tatuado. E da primeira que fiz, para uma velha amiga Milú. Me lembro de enviar uma mensagem para um amigo, sem nunca ter tido resposta. Me lembro da voz da mãe da Ana. Me lembro da minha prima Dani me deitando no colo, mexendo nos meus cabelos e me pedindo para dormir um pouco. Me lembro da expressão do Thiago ao chegar da faculdade. Me lembro dos gritos da minha avó. Me lembro do meu amigo Dani chegando quando todos já haviam ido embora e de não querer sair dos seus braços. Me lembro de procurar na voz das pessoas um conforto que não cheguei a ter. Me lembro de acordar sem ter conseguido dormir, na cama dos meus pais, com o choro deles me dizendo que não tinha sido um sonho ruim. Me lembro de outras tantas coisas e, principalmente, das pessoas, dos olhares, de todo amor (e dor) que havia ali.
Me lembro de coisas que prefiro esquecer. E esqueço. Esqueço para poder viver.
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