quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Se eu explicar, estraga. [Amém para vida].


Entrei no táxi a caminho do aeroporto e o motorista, segundo baianinho que eu cruzava no dia, não demorou 7 segundos para dizer: “Oxê, é de onde, morena!?”

-       - Uai, quem falô qui eu num sô daqui?

Gargalhamos.

Ele já tinha me desarmado no “morena”que me dá nó na garganta com a lembrança do moço que deixei na terra dos macarons. Eu quase pedi um abraço. Depois ele me disse que eu tinha jeito firme, voz firme e uma risada que o dizia que eu não era tão firme assim. Respondi:

-       - Depende! Talvez desta vez você tenha errado.

Rimos de novo, mas ele ainda duvidou.

Tenho estabelecido uma relação estranha diante de pessoas que eu nunca mais vou ver. Mas Sr. Edmundo-fofinho-vontadedemorder-queroumavô e eu em algumas dezenas de minutos nos contamos nossas histórias, falamos de ilusão e de esperança e de otimismo e de egoísmo e de respeito.

Mudei de lugar e me assentei exatamente atrás dele. Nos olhamos pelo retrovisor em momentos cruciais de nossa conversa solta.

Mas só que no meio do caminho, eu percebi que Sr. Edmundo estava dando uma volta enorme para chegar ao aeroporto, por um caminho bem diferente do que meu GPS me indicava. Sim, minha mania de colocar o GPS para ir de qualquer lugar para qualquer lugar. Eu fiquei imediatamente chateada, porque razões meio evidentes, mas decidi que só ia falar sobre aquilo depois que estivéssemos chegado ao aeroporto.

Afinal de contas eu ainda ia ter que ficar no carro mais um bom tempo com ele. Neste meio tempo ele começou a me indicar algumas coisas no caminho. Um monumento aqui, um parque ali, umas ruas fofas. Falou sobre a história da cidade e sobre sua ligação com estes lugares. Eu me distrai, curti uns cantos da cidade que eu não conhecia e continuei curtindo a voz mansa e arrastada dele.

Quando a gente parou no desembarque do aeroporto, eu fiquei ali 14 segundos, olhando aquele taxímetro e pensando no que fazer e antes que eu dissesse qualquer coisa ele me disse um valor em torno de 30 reais abaixo do que estava marcado. Perguntado, ele me respondeu como quem não diz qualquer coisa enorme, que tinha dado uma voltinha de cortesia para me mostrar melhor a cidade.

Eu desci do carro, não fui para fila do check-in. Assentei em uma das cadeiras de espera, sorri sozinha e curti esta sensação melhor do mundo que eu acho que definitivamente se eu explicar, estraga.


Amém para vida.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Para deixar o outro ir.


E foi no caos que encontrei a paz. E foi na contradição que encontrei a resposta. Não gasto minhas palavras. Elas sempre valeram mais para mim que roupas, dinheiros ou carros caros. Elas me pertenceram integralmente e entendo que elas são provavelmente as únicas capazes de se manterem fiéis a mim mesma até o final. Mas sempre fui boa em interpretação de texto, sempre soube achar os duplos sentidos, as entrelinhas. Das palavras, dos textos, das atitudes e das pessoas.

Já achei e já devo ter escrito que amar é permanecer. Que o amor é o exercício do ficar, do não desistir, do não ir embora. Que o amor pode tudo, pode escolher a forma e o gosto que amante e amado quiserem.

A única coisa que o amor não faz é amar sozinho. O amor só é se ele for de duas pessoas, duas almas, prontas para serem namorados, amigos, pais e filhos, marido e mulher. Sem um contraponto, um par, o outro lado da corda, não se fala de amor.

Todo amor que se ama sozinho é não-amor. Se tem assunto que eu não me atrevo a definir é o assunto de amar. Mas eu só sei que existe amor falsificado, amor fantasiado, amor que já perdeu a validade, amor que se vestiu de amor, mas era qualquer outra coisa.

Deixar alguém ir embora também é amor. Pode ser uma prova bem viva e real dele. Às vezes na ânsia de fazer o outro feliz perdemos a capacidade de ler a necessidade do outro. E às vezes tudo que o outro precisa é do espaço reconfortante da nossa ausência.

Quando for preciso, torne-se um nada para aquela pessoa que você ama. Desapareça, vire pó. Ouça o que eu outro tenha a dizer e vá, se ele não te pede para ficar.

Só quando eu entendi que de alguma maneira o fato de estar eu na vida de certo alguém o atrapalhava, eu percebi que este amor não pertencia mais a nós dois. Ele agora era só meu.


Hoje, transformando seu caos em sossego, transformando sua angústia em alívio, transformando sua confusão em tédio, transformando sua pergunta em uma resposta, transformando sua dúvida em uma solução e transformando sua existência em algo mais chato, eu passo o texto para o discurso direto apenas para dizer: Vá! Vá como quem não vai mais voltar. Vá como quem nunca se importou. Vá como quem nunca precisou de ficar. Vá, procurar aquilo que você não sabe mais onde está. E se alguma coisa nesta história ainda me pertencer e se eu puder te fazer um último pedido, vá, para nunca, nunca, esquecer que o motivo de eu te deixar ir agora é simplesmente porque eu realmente amo você.

E o amor, só o amor de verdade, deixa o outro ir, mesmo quando bom mesmo é se ele escolhesse ficar. 
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