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Ou não?


Sabe aqueles dias que a gente acorda tristinha? Não? Bom, eu sei. Vez ou outra, acordo assim. Esquisita, cansada, sabendo que o dia não vai ser lá nenhuma maravilha. Haja jogo de cintura para manter o equilíbrio emocional e não dar um grito, xingar alguém e sair correndo pra chorar umas lagriminhas suaves assentada na grama de um parque qualquer.

Hoje, sem motivo aparente, passei a noite inteira acordada. Literalmente, inteira. Minha pressão é baixinha, não sou de ter problemas para dormir, mas hoje nada me fez pregar o olho. Desisti. Fingi que noite era dia. Aí li, vi televisão, acendi a luz, rolei na cama, pensei na vida, escrevi umas coisas sem sentido, outras nem tão sem sentido assim, mudei de livro, liguei o ventilador, quis ir pra cama dos meus pais, não fui, fiquei assentada na cama olhando pro nada, desliguei o ventilador, chorei vendo um filme bobo, vi o dia amanhecer! Não sei se chorei de desespero – porque não conseguir dormir dá um certo desespero – ou porque possa haver algo me incomodando que eu não saiba.

Andei muito ocupada nestes últimos dias. Gosto, porque falta tempo para pensar tanto quanto eu penso e aí descanso um pouco. E não gosto, por este mesmo motivo. Pensar tanto quanto eu penso é também um jeito de colocar cada coisa em seu lugar e definir quem manda em que, aqui. E na minha vida, mando eu. Não ela em mim.

Mal eram 9:00 horas e eu liguei em uma repartição pública para pedir uma informação. Ó GOD! De onde que eu tirei a idéia de fazer isso logo hoje? Vontade de mandar um palavrão, para o tal, mas como não pratico este espécie de não-gentileza, me limitei a dizer: "O Sr. é muito mal-educado, obrigada por nada, Marcelo. Tchau!". No pensamento a frase se completou: ("Você devia me tratar com carinho e fazer minha vontade porque hoje eu estou muito tristinha"). Mas também não falei isso e desliguei com um ímpeto de ir até a tal Vara, rasgar todos os processos e ir embora. Okey, eu sei que se ainda quero advogar mais uns anos, é bom que eu consiga me conter um pouco.

Tenho um pouco de preguiça de não acordar legal e não é preguiça de me aguentar. É preguiça do resto. É que hoje em dia parece proibido não estar bem. Sou obrigada a usar meu melhor sorriso, mesmo se eu não quiser. Me deixa, que coisa. Quer algo mais natural do que isso? Do que não estar afim de viver um dia como todos os outros? Tem graça viver, mas hoje eu não estou afim. Tenho o direito, ou não? Tenho o direito de acordar assim, sem ter que ouvir que não tenho problemas suficientes ou que eu deveria procurar um médico.

Ou não?

Ou enlouqueci mesmo e sou obrigada a ser todos os 365 dias do ano a louca-desorientada-que-ri-de-tudo e que nunca vai estar caidinha, amuadinha, querendo colo e paparicos?

Com todo respeito, mas se sua resposta for sim, louco é você! Eu entendo minhas tristezas, ou pelo menos, tento entender. Pior é você aí, que finge não as ter, finge não as entender ou as esconde tão bem a ponto de acreditar que de fato não as tem. Guardar tristeza faz um mal danado. Tudo bem, também não gosto de quem se faz de vítima, potencializa problemas, é pessimista ou mal-humorado. Mas gosto menos ainda de quem disfarça tristeza com sorriso amarelo achando que engana alguém além de si mesmo.

Bom, o resumo da história é que o dia nasceu com cara de que não seria um bom dia. Digo "seria" porque não acredito neste tipo de pré-disposição, então vou fazer minha parte. Dias assim são bons para focar na energia. E, então, por vezes eles acabam sendo melhores do que o esperado. Pessoas boas costumam aparecer. Resultados bons costumam surpreender. Sentimentos bons costumam se fortalecer. Mas é como sempre digo, a alegria é dentro. E a tristeza também. Com motivo ou sem. Independente do ao redor. Tem dia de ser feliz e dia de não ser. E isso é um direito do ser humano: direito de ser humana.

Então, aí vou eu, pronta para ficar quietinha, caladinha. Pronta para olhar com olhos de quem quer atenção e carinho; de mãe, dele, do amigo, da chefe, da esquisitinha da mesa da frente, também conhecida como uma das maiores confidentes da história, da amiga morando em Santos, de pai, do Thor e do Lilico. Vou, pronta pra aceitar que hoje não estou legal e que isso é essencial para vida fluir. Com hora e lugar para que tudo seja mesmo como tem que ser.

Amanhã, já deve ter passado e eu vou ler este post pensando em como eu sou fofinha quando estou tristinha. Aí, anuncio que voltei ao "normal". Como se isso fosse anormal. E não é.

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