Pular para o conteúdo principal

Me basto, às vezes.



Quem me conhece é bem capaz de compreender quantas coisas eu teria a escrever em dias como estes. E teria mesmo. Certamente se houvesse um limite de caracteres eu os ultrapassaria. Mas não vou. Não quero. Prefiro meu silêncio, falar sobre coisas simples.


Especialmente hoje, um dia diferentemente difícil, por coincidência ou não recebi mais convites do que costumam aparecer em quintas-feiras. Shopping com as amigas, japonês, chopperia, bar, boate, ver filme sem legenda na casa do melhor amigo, ligação de duas flores da minha vida. E, então, logo eu que não sei dizer não a quem eu gosto, disse. Disse um não silencioso, diferente de quando os tenho que dar cheios de pesar. E eu também não sei se tantos convites foram um sinal para que me lembrasse de quanto carinho as pessoas tem pela minha vida. Ou apenas a sensação delas de que não seria um bom dia para eu estar sozinha. Depois de pensar onde é que eu deveria estar defini que por hoje minha companhia me bastaria. Saber que não estou sozinha por hoje me bastou. Por hoje.


Dizem que todos os dias de nossas vidas devemos fazer coisas que nos façam sentir bem. Eu fiz. Resolvi passear comigo mesma. Em plena quinta-feira comi uma promoção-do-cheddar-com-coca-comum-batata-frita-e-molho-barbecue; lendo o livrinho indicado aqui ao lado, com roteiro apropriado ao momento. Depois ao invés de voltar de táxi como eu faria na situação atual (meus pais estão viajando e eu não dirijo), resolvi pegar um ônibus. E quer saber? Não estou enlouquecendo, mas eu não queria descer. Não queria que acabasse o trajeto, porque o barulho do motor me embalou e cochichou baixinho no meu ouvido que tudo sempre acaba bem e que a vida é boa demais para nos permitirmos tantos incômodos. Daí eu cheguei sozinha em casa, não tem ninguém por aqui hoje além das minhas coisas, da minha vida. Meus pais viajaram e foram de coração partido acreditando que eu precisava deles neste momento. Se enganaram. Eu nunca precisei tanto de que eles não estivessem por aqui.


E cá estou. Meus livrinhos aqui ao lado. Meus sapatos perto da porta da sala. Eu. O barulhinho destas teclas ecoando pela casa afora. Um pilha de dez comédias românticas que eu não tive coragem de assistir sozinha. Não ainda. Talvez amanhã. Silêncio. Até consigo pensar que faltam umas risadas, umas vozes, uns amores, amigos e vinhos. Peguei o telefone. Ia arrumar companhia para acabar com esta calmaria. Depois mudei de idéia. Fiquei a pensar que ninguém mais pode me ser uma companhia tão boa quanto eu mesma. Não vou entrar nesta de me arrepender de não estar distraindo minha cabeça por aí. Ou mesmo por aqui. Melhor lugar para os meus pensamentos é em mim. Tentei acabar um email que não saiu. Pensei. Dormi fora da hora e acordei querendo respostas que estão dentro de mim. Ainda acredito que as terei em tempo e lugar certos. Agradeci a Deus por me dar sabedoria, paciência e serenidade. E tive a ousadia de pedir um pouco mais ainda.


Há dias em que me basto. Há outros que não. Que nos próximos minhas companhias sejam capazes de me lembrar que a vida é hoje. E não há tempo para parar no tempo. Seguindo em frente, um dia de cada vez.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Para beijar na chuva.

Pela ordem natural este post deveria ser aquele sobre minha viagem, sobre minha partida, sobre minha chegada.  Mas não tenho sido muito adepta da ordem natural ou estaria em uma outra vida, sonhando com um bando de coisas que eu nem acredito que existem. Por isso o fim de ano chegou primeiro e com ele meu post da virada, que tem se tornado uma tradição para mim. Algo como o Especial de Natal do Roberto Carlos ou o Show da Virada do Faustão. Post de final de ano, então, tem todo fim de ano. A única condição aqui é que as sensações sejam novas e desde já fica meu pedido para que o universo renove meus desejos e que eles sejam mesmo diferentes a cada ano, e sejam alimentados por expectativas diferentes, sensações diferentes e sonhos diferentes. E que haja, por isso, inspiração para que eu escreva a cada virada de ano e muitas vezes entre uma virada e outra, porque se isso não significa muito para as pessoas, para mim, significa sempre que eu estou viva. E só por este motivo e...

Carta aberta a Fábio Jr.

« Enquanto não  atravessarmos  a dor da  nossa  própria solidão,  continuaremos  a nos buscar  em outras metades. Para viver a dois, antes,  é necessário ser um. » - Fernando Pessoa. Fábio, você tem ideia do que você fez? Você tem ideia de quantas milhares de pessoas estão infelizes por sua causa? Está bem, eu sei que é um peso muito grande para você carregar, mas você devia ter pensado nisso antes. Eu gostava tanto de você, sabia? Sei lá se você é afinado o bastante, mas como a única coisa que eu entendo de música é que eu gosto quando me faz sentir viva, você serviu. Passei minha infância inteira te ouvindo por milhares de quilômetros no banco de trás do carro e em tardes passadas no quintal. Passei minha adolescência inteira te ouvindo cantando lá na sala durante os jantares que meus pais faziam para os amigos. Passei minha vida adulta inteira acordando com você me perturbando domingos de manhã (muit...

Estrela no teto.

O quarto do meu irmão virou o quarto de computador. Foi melhor assim. Mudar as coisas de lugar diminui a estranheza de não tê-lo mais aqui. O armário, aos poucos, foi esvaziado e dele, guarda apenas uma ou outra camiseta preferida. A cama mudou de lugar. O computador veio para cá. Um mural de fotos, uns livros, outra cor na parede. Pronto. Algumas mudanças. Necessárias. Algo aqui, algo ali foi mantido igual. Melhor assim também. A mudança desconstrói umas sensações que não são boas para se viver todo dia. E os detalhes preservados mantêm aquelas sensações sem as quais não seríamos capazes de viver. Cada qual com sua função: a mudança e os detalhes. Hoje estava aqui, esperando baixar um arquivo e dei uma espreguiçadinha, estiquei, balancei os cabelos e olhei pra cima. Tudo automático, coisa que se faz todo dia. No teto deste quarto em que já estive por tantos anos, vi, pequenininha, esquecidinha, já pintada da cor nova do teto, uma estrelinha. Sim, uma estrelinha. Lembra daqueles adesi...