segunda-feira, 28 de março de 2011

Um jeito de levar a vida.


Sempre se espera muito do outro. Sempre esperam muito de mim. Sou a primeira da fila sempre ali, a me observar. A achar que eu podia ser melhor. É isso que costumar vir à minha cabeça: podia ter me saído melhor. O trabalho, a prova, o conselho. Como filha, amiga, namorada. Como pessoa. Eu acredito nas pessoas, mas o ser humano é muito imperfeito. É mesquinho, egoísta. Sente inveja, luxúria. É fútil, leviano. Eu também sou humana. Também tenho sentimentos com os quais, digo, contra os quais luto constantemente. Sempre esperando ser melhor. Como os outros esperam. Mas e se eu não puder? E se não conseguir? E se minhas imperfeições não permitirem que eu seja tudo aquilo que sonho, quero, preciso ser. Esta imperfeição não é só minha. A aflição também não deveria ser. Quantas vezes você já parou para pensar se é tudo aquilo que finge ser, que acredita ser? Mesmo não sendo. Autoconhecimento é a palavra da minha vida. E assusta. Me conhecer tanto assusta. É que nem sempre ao me olhar assisto o que quero. Tem que ter muito equilíbrio para enxergar que cada um de nós é um ser humano tão falível quanto o colega da mesa ao lado, da cadeira ao lado, da casa ao lado. Quem nunca teve a sensação de estar estragando tudo? De ter colocado tudo a perder? De ter ocupado tempo demais com as coisas ou pessoas erradas? Conheço poucas pessoas preocupadas em se conhecer e se entender. Poucas e, em certa medida, eu diria até que azaradas. Autoconhecimento é o máximo, mas tem um preço. Nem sempre sei se vale. Se olhar no espelho e ver além do corte de cabelo, da cor do batom ou da maquiagem custa caro. Todo olhar é uma janela. Por trás de todo olhar tem uma alma, uma vida. Por trás de toda vida tem um ser imperfeito, com defeitos. Meu espelho me mostra isso. E se olhar bem o seu também vai mostrar. Quem se olha e gosta demais do que vê está olhando sem enxergar, lendo sem interpretar, vivendo sem aprender. Quem me conhece já me ouviu dizer que eu me aceito imperfeita, e me perdoei assim, como Martha às suas impurezas. E me aceito mesmo. Só não nego que por vezes acho o fardo pesado. Não faço tipo. Me mostro o que eu sou. É o que tem para hoje, então toma. Goste ou não. E pago o preço por me aceitar. Por dar a cara a tapa. Por assumir as conseqüências. E é uma droga que quem deposite as maiores expectativas sobre mim ainda seja eu mesma. E que nem sempre possa superá-las. Esperam que eu seja a melhor. E nem sempre eu vou poder ser. Mas é assim que eu vou viver. Pra ser melhor. Porque viver pra ser melhor também é um jeito de levar a vida.

segunda-feira, 21 de março de 2011

(Não) são só palavras.

Eu não escrevo por prazer. Nem porque eu gosto. Quer dizer, não é só por prazer, nem só por gostar. Eu escrevo mesmo porque eu preciso. Porque me encontro, me acho, me coloco, me recoloco. Porque é o caminho mais curto até mim. Escrevo quando tenho algo a dizer. E quando não tenho nada a dizer também. É sempre uma maneira de me encontrar. Tudo que eu sinto vem parar aqui. Bom ou ruim. Doce ou rude. Azeda ou feliz. Pesado ou leve. Em palavras ou em entrelinhas. Em posts ou em ausências. É que não escrevo pelos outros. É por mim. É pra mim. Pelo menos primeiro é assim. Às vezes me dizem: “escreve mais; fala sobre isso ou aquilo; não fica tanto tempo sem postar.” É que eu não posso. Não é uma escolha. Toda ausência tem um sentido. Todas as palavras novas também. Entende? Não é uma opção. É sempre um processo. Escrever é. Publicar, também. É um jeito de me entender, de te entender. De te fazer me entender. Ou des-entender. É uma forma de não dizer. E uma forma de ao mesmo tempo dizer. Eu sou na essência uma mistura de tudo aquilo – e de todos aqueles - que já vivi. Aqui, sempre vai então haver esta minha história contada em fragmentos. Em pedaços pequenos ou imensos do que já passei. Aqui há minha já confessada mistura – que é mistério ou seu oposto - entre o ver, o viver e o inventar. E se é verdade, experiência ou invenção você vai ter que adivinhar. Eu não me entrego. Não tão fácil assim. Não por tão pouco. Quando se encontrar aqui, em mim, nas minhas palavras, questione se se trata mesmo de algo sobre você. Quando não se encontrar, procure melhor, é aí então que você deve estar. Um dia destes me perguntaram porque é que eu escrevo. Dentre meus vários motivos, o principal é que é uma maneira te me ter por perto de mim mesma. Também é uma maneira de me ter por perto de você. Pra quem me quiser tão perto assim.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Só mais uma de amor.

Ela era dele. Ele não era dela. Não era segredo pra ninguém, no fundo, acho que nem pra ela própria. Aquela morena apaixonada, cheia de sonhos de princesa com um sorriso escancarado e inocente, carregava dezenas de ilusões depositadas sobre aquele com características de sapo, que nunca viraria príncipe. Mas quem iria saber que não?

Ela iria.

Estava calor, tinha biquíni, caipivodka, cerveja, churrasco. E também um celular tocando esquecido em cima da mesa daquele quiosque. O bobo alegre a olhou de dentro da piscina e com um olhar inocente a pediu pra interromper a música do Charlie Brown Jr. que servia de toque pro seu celular, o fazendo parecer mesmo um carinha sempre na área, com escritório na praia.

Ela, prestativa e doce, foi atender. Na tela do celular, a caixa de entrada das mensagens anunciou um contato freqüente, quase infindável, entre ele e uma desconhecida de nome não familiar. Enquanto ele ria e se divertia na piscina, ela variou entre a náusea, ânsia e os enjôos que a separavam de um universo do que não fazia parte. A opção correta era apertar o "xiszinho" lá no cantinho direito e imaginar que aquela estranha não se tratava de ninguém que merecesse atenção naquela tarde feliz de sábado.

Mas só que o botão “Sair” é para os fortes, para os equilibrados, para os sensatos. É para quem tem motivos e amor suficientes para segurar esta onda. Ela não tinha. E não era, nem uma coisa, nem outra, nem outra; nem equilibrada, nem forte, nem amada. Ela era apenas uma louca apaixonada aguardando ansiosa o sapo virar príncipe. E eu já disse que ela ainda não sabia, mas nunca viria a acontecer.

Aquela caixa de entrada guardava detalhes íntimos de um outro casal, formado com a ajuda do par que ela achava ser dela. Achava, mas não era. Detalhes íntimos, carinhos, palavras, ritmos e cores parecidas com as que ele utilizava para encantá-la. Era outra história, construída e vivida ali, à sombra da dela. Ou ela é que teria estado à sombra da outra história? Ela é que teria sido a coadjuvante, o personagem secundário da vida dele?

Ela foi embora. Deixou o copo pela metade, a bolsa de praia, um coração espatifado e os sonhos de viver uma história só dela. Tudo ao som daquela musiquinha antiga tocando na versão em pagode, que ensinava que o amor não precisa de ser uma história com princípio, meio e fim...Ou precisa? Ela nem olhou pra trás. Virou as costas e foi. E o que nunca veio a começar, acabou ali. Daquela tarde de sábado em diante nunca mais ela foi dele, nunca mais ela se permitiu ser aquela menina que viveu uma história-de-não-amor. E foi assim que tudo terminou.

Ela sentia saudades, às vezes.

Me lembro de ouvir dizer, depois deste dia, que ela chorou, escondida, naquele banheiro de higiene duvidosa. Era domingo, era samba e ela não conteve as lágrimas após ouvir dizer da boca do recém conhecido menino de boina, all star e fala mansa que ela era linda e que seus olhos tinham algo diferente que ele não sabia o que era.

Ela sabia. Era o brilho pertencente aos donos de corações partidos.

E lá foi ela, atrás de novos amores.

terça-feira, 1 de março de 2011

Eu só não aceito.


Que leio três ou quatro livros de cada vez e demoro meses para terminar, a maioria já sabe. Um dos que estava a ler nas férias de fim de ano me irritou e me pôs para pensar. O autor faz uma gracinha e me fez acreditar que um dos personagens principais tinha morrido. E fez isso no fim do que, se não me engano, era o penúltimo capítulo. Eu, que estava ali, na beira da piscina, com meu chapéuzinho para cobrir o rosto de branquela, lendo feliz da vida, sem soltar o livro desde o dia em que cheguei, me deparei com esta informação: Daniel morreu. Levantei, coloquei o livro em cima da mesa e fiquei lá, revoltada, chiliquenta, mal humorada, com o olho cheio de água. Fiquei com raiva do Carlos Ruiz Zafón. Fui nadar, andar de bicicleta, reforçar o protetor, p. da vida. Só conseguia pensar: "Não vou ler a parte que falta. Não aceito".

É que não aceito mesmo. Não aceito finais-não-felizes. Deveria ser obrigatório que livros com histórias tristes tivessem continuação. Assim não ia ser triste o final. Talvez só o meio ou o início. Se a chateação vem no meio do livro também não faz mal. Ainda sobra tempo de ajeitar a vida e mudar o rumo da história. Mas o final-não-feliz atrapalha meus sonhos coloridos e me deixa contrariada, como eu, definitivamente, prefiro nunca estar. Eu só não aceito. E acho que nem nunca vou aceitar. Vivo atrás do final feliz e só paro quando chegar lá. Não me importo com o que acontece no meio do caminho e você também não deveria se importar. Só sossego quando puder viver aquela paixão até o final, quando alcançar a presidência da empresa, quando acordar com meus três filhinhos correndo pela casa. Só paro quando estiver em absoluta paz e não colecionar nenhum desafeto ou inimizade. Só deixo de insistir quando chegar no lugar para onde estou indo, quando puder morrer de tanto amor em mim, quando tiver todo conhecimento que me couber. Só aceito quando a vida me olhar e com todas as cores possíveis me der a certeza de que o final é ali, o mais feliz que possa ser.

Só aceito quando puder ser do meu jeito. E como felicidade é escolha de cada um, meu final feliz é também escolha minha. Eu que defino quando chegar lá. Eu que opto pelas minhas maneiras de alcançar o final. Eu só não aceito. E não aceitei daquela vez. No fim daquele dia, entendi que eu não podia mudar o destino daquela turma, porque ele, literalmente, já estava escrito. Voltei para história, pensando: "vou encarar, ler e depois procuro um livro com final mais alegre". Estava bem ali, na página seguinte: o final feliz. Eu não precisava de ter esperado o dia todo para descobrir que a felicidade daquele pessoal estava bem debaixo do meu nariz. Mas foi bom assim. É exercício que as pessoas deviam praticar mais. Não aceitar nada que não pareça ser exatamente um bom final feliz. Eu só paro quando estiver no final e quando ele for tão espetacularmente bom quanto possa, em sua totalidade e simplicidade, ser.

Se o final feliz é uma escolha, faça a sua.
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