Acabei de escrever seu sétimo cartão postal. Eu o segurei nas
mãos, reli, suspirei, apertei contra meu peito e guardei na minha caixa de
cartões postais não enviados. Sim, eu tenho uma caixa só para guardar cartões
postais não enviados. Tá, na verdade é uma caixa só para guardar os cartões
postais não enviados para você. As outras pessoas tiveram o direito de receber
seus cartões postais, ou eu diria até que eu tive o direito de enviá-los.
Parecia legal a ideia quando foi pensada sabia? Um cartão
por mês, na sua caixa de correio. Um amigo bom guardador de segredos teria me
dado seu endereço novo. Os cartão chegariam todo mês, até o último, quando só
então tudo ali escrito faria exatamente sentido. Ou, talvez, finalmente não
faria mais.
Eu sei, pelas suas contas eu estaria no sexto, então.
Ainda é junho. É mas só que o que eu penso nem sempre acompanha o que eu sinto.
Eu pensei em escrever um por mês, mas quem determina isso não é minha cabeça, é
o coração. O sétimo veio antes da hora. E talvez isso também teria sido legal.
Mudar as minhas próximas regras. Dois cartões em um mesmo mês. Talvez um mês
sem cartões.
Parecia legal quando eu pensei. Mas eu pensei isso quando
você ainda era meu quase amor. É, não, acho que eu não te amei. Mas foi quase.
Quase, do verbo poderia ter sido, fiquei muito próximo de, se isso não é amor o
que mais pode ser. É, meu quase mais real. Meu talvez com mais pelinhos
arrepiados, com mais frios na barriga, com mais tensão no menor espaço de tempo
e com maior número de coisas imaginadas não realizadas.
Sabe que quando eu pensei nesta coisa dos cartões eu tinha
medo de ficar pelo caminho? De não chegar ao 18º ou 22º ou aquele que seria o
último? A ideia parecia tão legal. Mas eu não sabia até onde ia. Sempre me
perguntei quanto tempo um quase amor demora para passar. Quanto tempo a gente leva para esquecer o que ainda não aconteceu.
Já te falei de quanto eu odeio o quase? De quando eu odeio
estar errada? De quanto eu me sinto traída quando minha intuição me engana?
Tenho a sensação de já ter te falado, talvez em alguma carta, talvez em alguma
noite nublada, talvez em algum dos cartões postais que eu guardei na minha
caixa de cartões postais não enviados.
Parecia legal quando eu pensei. Mas isso porque você ainda
era meu quase. Depois você virou meu não. E eu não tive coragem de abandonar a
ideia, porque parecia legal. Porque eu tenho o direito sobre ela. Porque o que
eu sinto me pertence. E porque agora eu tenho uma caixa de cartões postais não
enviados e eu não sei o que eu faço com ela, mas ainda não tive coragem de
jogar no lixo.
Parecia legal quando foi pensado. O último cartão teria sido
entregue pessoalmente. Eu estaria parada na frente daquela varanda grande.
Talvez ainda ia ter as malas nas mãos para você saber que aquilo passou estes
anos esperando para acontecer. Talvez eu estaria de boina para dar um ar
parisiense à cena. E talvez eu colocasse uma música para tocar porque você já
estragou algumas músicas que eu amava e aquela seria a chance de corrigir isso.
Talvez eu fizesse uma ligação surpresa e quando você saísse eu ia jogar minhas
coisas no chão e te abraçar. E talvez desta vez não ia estar chovendo. E talvez
o cartão caísse junto e ia voar por ali. Mas talvez isso não faria mais
diferença porque...porque não faria. E talvez a partir dali você não seria mais
meu talvez.
Parecia legal quando foi pensado. Parecia bem legal.