quinta-feira, 26 de maio de 2011

Esquecer para viver.

Eu nunca contei sobre o dia em que soube da morte do meu irmão. Nunca falei sobre isso. Bom, não tinha falado, até então. Estes últimos dias ando meio estranha, meio confusa. Uma grande e louca amiga foi me fazer companhia em casa. Engraçado como algumas pessoas parecem ter o dom de nos libertar de certas coisas. A tal amiga me liberta do que há de pior e melhor em mim. Neste dia não foi diferente. E lá fui eu. Puxar da memória, - de um lugar onde eu nunca mais passei -, as sensações do pior dia da minha vida. Não, não vou revivê-las agora, enquanto escrevo. O que eu posso dizer é que o pior dia da minha vida também representa um marco. O marco que alterou o meu modo de ver, de viver, de amar. Não sou uma pessoa pior, nem melhor que antes em função do que tive que passar, mas sou, definitivamente, alguém que investe nos seres humanos, nos quais passei a depositar uma esperança maior do que antes. Aprendi. Aprendi a amar sem ressalvas, a me jogar de cabeça, a não me arrepender. Aceitei. Aceitei minhas fraquezas, meus defeitos, meus erros. Amei. Amei até o final, sem hora de acabar, uma vida inteira em um segundo. Não é fácil entender como dias como aquele se processam na mente. Mas são momentos que nunca mais se quer lembrar e que também não se quer esquecer.

Me lembro do amigo que me levou para casa,
com uma expressão de dor que resisti a enxergar, enquanto tentava me prometer, - sem conseguir -, que meu irmão estava bem. Existe uma carta pronta para ele, há cinco anos, que nunca foi entregue. Ele é a pessoa que eu sempre quero ver quando duvido que as coisas possam ficar bem na minha vida. É que sua lembrança me dá segurança, segurança de que, pior do que está não vai ficar. Me lembro também do olhar do meu pai, que me deu a notícia sem ter que dizer sequer uma palavra. Me lembro de nesta hora sucumbir à dor e ir para o chão. Me lembro da primeira ligação que recebi, daquele loiro tatuado. E da primeira que fiz, para uma velha amiga Milú. Me lembro de enviar uma mensagem para um amigo, sem nunca ter tido resposta. Me lembro da voz da mãe da Ana. Me lembro da minha prima Dani me deitando no colo, mexendo nos meus cabelos e me pedindo para dormir um pouco. Me lembro da expressão do Thiago ao chegar da faculdade. Me lembro dos gritos da minha avó. Me lembro do meu amigo Dani chegando quando todos já haviam ido embora e de não querer sair dos seus braços. Me lembro de procurar na voz das pessoas um conforto que não cheguei a ter. Me lembro de acordar sem ter conseguido dormir, na cama dos meus pais, com o choro deles me dizendo que não tinha sido um sonho ruim. Me lembro de outras tantas coisas e, principalmente, das pessoas, dos olhares, de todo amor (e dor) que havia ali.


Me lembro de coisas que prefiro esquecer. E esqueço. Esqueço para poder viver.

terça-feira, 10 de maio de 2011

De volta para mim.

Entrei no meu blog para me visitar e percebi que há bastante tempo não venho aqui escrever...Hum, que saudade de mim! Foram muitos dias sem estar tão perto assim de mim mesma. Eu me faço falta, sabia? Me senti sozinha estes dias longe. Mas quer saber? Às vezes sou um saco. Tem horas que não suporto minhas chatices, minhas contradições, meus pensamentos, meu modo de falar, meus vestidos curtos, a cor dos meus esmaltes. Tem momentos que não aguento minhas opiniões, meu humor, minhas risadas, minha voz. Ai me afastei. Ir embora, nunca. Estive a me observar, ali, de uma distância suficiente para me socorrer se precisasse. Mas sabe que estar longe também é uma maneira de me compreender, de entender minha vida, o que eu quero, o que eu busco? E só entendendo isso eu sou capaz de escolher minhas pessoas, coisas, lugares, sonhos. Só sabendo aonde eu quero ir dá pra saber por onde terei que passar; ou pelo menos dá para imaginar. Ando com muitas coisas a dizer, mas ou falta ou sobra inspiração e aí não saiu, não fluiu, não foi desta vez. Vai ficar para outra hora, minhas opiniões vão ficar para outra hora. Por agora vim dizer a quem interesse saber que ainda sou viva, que trabalho enobrece, que academia faz mais bem para a cabeça do que para o corpo, que determinadas condutas a meu favor só eu mesma posso tomar, que viver na minha concepção é algo bem além do que ensina a biologia. Vim dizer que certas coisas ou pessoas têm que ser sim retiradas das nossas vidas. Mesmo que for da minha, mesmo de mim, que digo que não sei fazer isso. Mesmo sentindo, mesmo me perdendo. Não faz mal, aguardo o segundo seguinte para me reencontrar. Coisas e pessoas se vêm e se vão e é algo que tenho que aceitar. Não dá para lutar sempre contra as mesmas coisas. Não pela vida inteira. Ao menos se houver me servido para algo, valeu. Se a roupa me deixou bonita, se a amiga me fez dar umas risadas, se o cara me deu uns frios na barriga, se o livro me ensinou uma palavra nova: então, valeu! Se é a hora de jogar fora, as roupas, os livros ou as pessoas, que seja! Sempre melhor pensar assim. Sempre melhor acreditar nisso. Mas só quero para mim o que me faça muito bem. Tão bem que eu não consiga evitar. Estou estranha hoje. Mas estou feliz. Estranha, porque o post pareceu seco, pareceu enxutinho demais para ser eu escrevendo. É que estive fora este dias, lembra? Mas agora estou de volta. De volta para mim.
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