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Mostrando postagens de 2011

Escrever é preciso.

Um dias destes uma leitora me escreveu perguntando sobre o vazio no blog. Utilizando das suas palavras, minhas expressões seriam uma libertação das dela. Sim, já fazia dias que não escrevia. Digo, havia dias que não publicava. Escrevo, escrevo, mas não publico. Escrever é só a tentativa de me encontrar. Publicar é abrir minha janela e correr o risco de me perder. Isso eu acho que quem passou umas duas ou três vezes por aqui já entendeu. O problema é quando a janela fechada se torna uma questão de necessidade. Escrever foi um compromisso firmado comigo mesma de que eu ia me mostrar como sou, sem medo de que as pessoas não gostassem do que veriam e sem a menor pretensão de que necessariamente gostassem. Quebrar este compromisso pressupõe falta de coragem. E quando o assunto é a maneira como as pessoas me enxergam o medo não condiz muito comigo. Só eu sou capaz de dizer os caminhos que tenho que internamente percorrer para me encontrar. Só dentro de mim eu entendo tudo aquilo de bom e ru...

Da janela dele.

Fim de tarde e fui resolver umas questões fora do escritório. Saí tranquila, feliz da vida e cruzei com uma turminha de crianças reunida perto do McDonald’s. Meninos da rua. Eram três. Os maiores aparentavam ter em torno de seus nove anos, o menor eu diria que não passava de sete. Não é raro que eles estejam por lá, pedindo umas moedas ou um pouco de atenção. As pessoas costumam dar. Moedas. Atenção não. A meninada costuma se aproximar e fazer uma abordagem rápida, certos de que se não for assim as pessoas se desviam logo com passos ainda mais rápidos do que os deles. Passos rápidos, cabeças baixas. Eu não costumo andar assim e lá ia observando ao meu redor. Ao ensaiar uma aproximação, o menorzinho deles cruzou diretamente com meu olhar e pareceu se assustar. Eu sorri. Ele pareceu se assustar de novo. Mas também sorriu e se aproximou perguntando se eu não daria algo para ele comer. Enquanto eu mexia na minha bolsa pensando se deveria dar dinheiro, comida ou nada, me assentei em uma...

Vintes e poucos anos.

Ela tem seus vinte e poucos anos e entrou correndo em casa. Os olhos cheios de água. Jogou a bolsa no sofá. Se atravessou na cama. Um short jeans velho. A camiseta preferida. O rabo-de-cavalo se desfazendo. O travesseiro foi o ombro para as lágrimas. Aquelas que desceram fácil fazendo lembrar sua primeira infância, quando o choro era freqüente. No rádio a música dizia que se eles não tivessem feito tudo tão depressa podiam ter vivido um amor Grand’ Hotel. Já faz tempo que ela não chorava assim. Desta vez, o coração dela foi partido. Ela tem seus vinte e poucos anos e cresceu cercada de pessoas que acreditavam que ela era de cristal e quebrava fácil. Cresceu com seu castelo cercado de muros altos. Era o castelo de uma princesa. Ela morava no lugar mais seguro, no alto da torre. Por isso se tornou o tipo de garota que acreditava nas pessoas. Em boa intenção. Em promessas cumpridas. Acreditava que sempre seria o centro do mundo daqueles a quem dedicou algum tipo de amor. Acreditou tamb...

Me basto, às vezes.

Quem me conhece é bem capaz de compreender quantas coisas eu teria a escrever em dias como estes. E teria mesmo. Certamente se houvesse um limite de caracteres eu os ultrapassaria. Mas não vou. Não quero. Prefiro meu silêncio, falar sobre coisas simples. Especialmente hoje, um dia diferentemente difícil, por coincidência ou não recebi mais convites do que costumam aparecer em quintas-feiras. Shopping com as amigas, japonês, chopperia, bar, boate, ver filme sem legenda na casa do melhor amigo, ligação de duas flores da minha vida. E, então, logo eu que não sei dizer não a quem eu gosto, disse. Disse um não silencioso, diferente de quando os tenho que dar cheios de pesar. E eu também não sei se tantos convites foram um sinal para que me lembrasse de quanto carinho as pessoas tem pela minha vida. Ou apenas a sensação delas de que não seria um bom dia para eu estar sozinha. Depois de pensar onde é que eu deveria estar defini que por hoje minha companhia me bastaria. Saber que não est...

Ciclos hormonais.

Qual a razão pela qual as pessoas entram em nossas vidas? E por que saem? Me lembro bem daquele início de tarde quando a vi pela primeira vez e parece que foi ontem. Já fazem mais de dois anos. Um dos meus melhores irmãos decidiu ir passar uns tempos fora do país. E isso tem a ver com o assunto de hoje porque além de irmão também é meu chefe. Então, com ele longe alguém precisava fazer o trabalho duro em seu lugar. A escolhida foi ela. Lembro de sua chegada, com um sorriso tímido, adentrando no que se tornou a nossa sala. Me lembro de ter pensado: bonita, simpática e parece boazinha. Logo nas primeiras semanas eu descobri que não a achava nem simpática, nem boazinha. Metida. Imaginei ali que não seríamos amigas. Me enganei feio. Sob todas as óticas aquela que me deu o apelido de esquisitinha me surpreendeu. Okey, eu já cresci e não é para eu me tornar esta manteiga derretida cada vez que se mudar um vizinho do bairro, um colega de trabalho for embora, ou uma amiga tiver que morar fora...

Parte da minha graça.

Me dizem às vezes que eu pareço meio maluquinha. Por vezes, por muitas vezes tento não mostrar isso. Seguro daqui e dali e até que passa. Convenço alguns. Mas é só me conhecer um pouquinho e exala um pouco desta coisa meio biruta. É que parte da minha graça fica mesmo aí. Em uns impulsos, no exagero, na paixão, na luta por viver feliz até quase perder o ar, por dar gargalhadas, altas, quase inconvenientes, por ser um excesso em pessoa, por ter idéias loucas. Eu sou um exagero. Quero crescer assim, sem perder esta parte minha. Sem perder isso meio criança, meio princesa, meio moleca, meio maluca, de pedra, de amor. Quero amar até cansar. Mesmo que isso te canse também. Meu amor só tem graça fora de mim. Não cabe no peito. Amo sem economia. Aprendi em casa e quero usar, quero gastar. Quero que as pessoas entendam, vejam o que há em mim. Mas se não quiserem entender, não precisam também. Sigo nesta onda meio pirada. É uma piração boa. Já ouvi dizer que vicia. Que faz falta depois. Que dá...

Prometo tentar.

Tenho ido a muitos casamentos recentemente. Primeiro eram as festas de quinze anos, depois as formaturas, agora estou na fase dos casamentos. Que sob certa ótica nego um pouco as convenções todo mundo já está cansado de saber. E isso, provavelmente, não vai evitar que eu vá para o altar, com cerimônia, bouquet, vestido, padrinhos. Mas tem algo que me incomoda mais a cada casamento que vou e sempre me faz cochichar no ouvido dele, que normalmente está ao meu lado. Está lá o padre a celebrar a missa e põe cada um dos noivos para dizer, querendo ou não querendo, que: "promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-o e respeitando-o até que a morte os separe." Neste momento, fico com uma vontadezinha lá no fundo de levantar a mão e dizer: "Você me dá um minutinho, seu padre? Preciso de esclarecer isso melhor porque acho que tem algo errado aí." Infelizmente minha mania de querer tudo tão bem explicado, tão em seus devidos lugares, não me permite...

Esquecer para viver.

Eu nunca contei sobre o dia em que soube da morte do meu irmão. Nunca falei sobre isso. Bom, não tinha falado, até então. Estes últimos dias ando meio estranha, meio confusa. Uma grande e louca amiga foi me fazer companhia em casa. Engraçado como algumas pessoas parecem ter o dom de nos libertar de certas coisas. A tal amiga me liberta do que há de pior e melhor em mim. Neste dia não foi diferente. E lá fui eu. Puxar da memória, - de um lugar onde eu nunca mais passei -, as sensações do pior dia da minha vida. Não, não vou revivê-las agora, enquanto escrevo. O que eu posso dizer é que o pior dia da minha vida também representa um marco. O marco que alterou o meu modo de ver, de viver, de amar. Não sou uma pessoa pior, nem melhor que antes em função do que tive que passar, mas sou, definitivamente, alguém que investe nos seres humanos, nos quais passei a depositar uma esperança maior do que antes. Aprendi. Aprendi a amar sem ressalvas, a me jogar de cabeça, a não me arrepender. Aceitei....

De volta para mim.

Entrei no meu blog para me visitar e percebi que há bastante tempo não venho aqui escrever...Hum, que saudade de mim! Foram muitos dias sem estar tão perto assim de mim mesma. Eu me faço falta, sabia? Me senti sozinha estes dias longe. Mas quer saber? Às vezes sou um saco. Tem horas que não suporto minhas chatices, minhas contradições, meus pensamentos, meu modo de falar, meus vestidos curtos, a cor dos meus esmaltes. Tem momentos que não aguento minhas opiniões, meu humor, minhas risadas, minha voz. Ai me afastei. Ir embora, nunca. Estive a me observar, ali, de uma distância suficiente para me socorrer se precisasse. Mas sabe que estar longe também é uma maneira de me compreender, de entender minha vida, o que eu quero, o que eu busco? E só entendendo isso eu sou capaz de escolher minhas pessoas, coisas, lugares, sonhos. Só sabendo aonde eu quero ir dá pra saber por onde terei que passar; ou pelo menos dá para imaginar. Ando com muitas coisas a dizer, mas ou falta ou sobra inspiração ...

Caberá só a mim entender.

Eu sempre achei que fosse a dor que me fizesse escrever. Hoje entendo que escrevo quando compreendo bem aquilo que sinto. Quando consigo entender realmente porque determinadas coisas me fazem tão bem e outras tão mal. Agora entendo porque preciso de liberdade e porque minha liberdade só faz sentido se eu tenho para onde voltar. Agora entendo que meus sonhos não são à toa, mas sim o passaporte para me levar aonde eu desejar. Agora entendo que posso esperar o que eu quiser das pessoas, pois se não receber em troca o que espero o problema é inteiramente meu. Agora entendo que mesmo que alguém prometa que as coisas nunca mudarão entre nós, isso não é necessariamente verdade. Agora entendo como seria necessário aprender a tirar as pessoas da minha vida, mesmo que eu talvez nunca venha a aprender. Agora entendo quanto preciso de me entender. Pra aceitar tudo isso e outras tantas coisas em mim. Entendi que minha inspiração é sinônimo de compreensão, de entendimento, de conhecimento. E que nin...

Meus gostos IV...

Gosto de almoçar sozinha, de sobremesa de maracujá com chocolate, de paz no coração. Gosto, mais ainda, de fazer aquilo que gosto em boa companhia.

Minutos de silêncio.

Meus pais sempre trabalharam na área de educação. Ganharam a vida assim. E sei que na verdade ganharam muito mais. Sei que professores e quem trabalha assistindo as crianças crescerem é que aprendem de verdade. As crianças aprendem a ler, aprendem os números, aprendem geografia. Mas as lições aprendidas por quem ensina, estas sim, são lições para uma vida inteira. Sei que meus pais são pessoas melhores em razão da carreira que escolheram. E também sei que sempre viverão para isso. De alguma maneira eu os invejo porque minha carreira não tem certas doses de sensações que eles vivem diariamente. Hoje, foi dia de tragédia. Dia de clima ruim. Dia de chegar no trabalho e assistir a olhares distantes, a um silêncio triste e decepcionado com a notícia que nos deu bom dia. “Crianças foram mortas por atirador dentro de escola.” A sala de aula e a escola são lembranças boas. Pelo menos pra mim são. São lembranças das primeiras amizades. Dos primeiros amores. Das primeiras vitórias. Vitórias......

Um jeito de levar a vida.

Sempre se espera muito do outro. Sempre esperam muito de mim. Sou a primeira da fila sempre ali, a me observar. A achar que eu podia ser melhor. É isso que costumar vir à minha cabeça: podia ter me saído melhor. O trabalho, a prova, o conselho. Como filha, amiga, namorada. Como pessoa. Eu acredito nas pessoas, mas o ser humano é muito imperfeito. É mesquinho, egoísta. Sente inveja, luxúria. É fútil, leviano. Eu também sou humana. Também tenho sentimentos com os quais, digo, contra os quais luto constantemente. Sempre esperando ser melhor. Como os outros esperam. Mas e se eu não puder? E se não conseguir? E se minhas imperfeições não permitirem que eu seja tudo aquilo que sonho, quero, preciso ser. Esta imperfeição não é só minha. A aflição também não deveria ser. Quantas vezes você já parou para pensar se é tudo aquilo que finge ser, que acredita ser? Mesmo não sendo. Autoconhecimento é a palavra da minha vida. E assusta. Me conhecer tanto assusta. É que nem sempre ao me olhar assisto...

(Não) são só palavras.

Eu não escrevo por prazer. Nem porque eu gosto. Quer dizer, não é só por prazer, nem só por gostar. Eu escrevo mesmo porque eu preciso. Porque me encontro, me acho, me coloco, me recoloco. Porque é o caminho mais curto até mim. Escrevo quando tenho algo a dizer. E quando não tenho nada a dizer também. É sempre uma maneira de me encontrar. Tudo que eu sinto vem parar aqui. Bom ou ruim. Doce ou rude. Azeda ou feliz. Pesado ou leve. Em palavras ou em entrelinhas. Em posts ou em ausências. É que não escrevo pelos outros. É por mim. É pra mim. Pelo menos primeiro é assim. Às vezes me dizem: “escreve mais; fala sobre isso ou aquilo; não fica tanto tempo sem postar.” É que eu não posso. Não é uma escolha. Toda ausência tem um sentido. Todas as palavras novas também. Entende? Não é uma opção. É sempre um processo. Escrever é. Publicar, também. É um jeito de me entender, de te entender. De te fazer me entender. Ou des-entender. É uma forma de não dizer. E uma forma de ao mesmo tempo dizer. Eu s...

Só mais uma de amor.

Ela era dele. Ele não era dela. Não era segredo pra ninguém, no fundo, acho que nem pra ela própria. Aquela morena apaixonada, cheia de sonhos de princesa com um sorriso escancarado e inocente, carregava dezenas de ilusões depositadas sobre aquele com características de sapo, que nunca viraria príncipe. Mas quem iria saber que não? Ela iria. Estava calor, tinha biquíni, caipivodka, cerveja, churrasco. E também um celular tocando esquecido em cima da mesa daquele quiosque. O bobo alegre a olhou de dentro da piscina e com um olhar inocente a pediu pra interromper a música do Charlie Brown Jr. que servia de toque pro seu celular, o fazendo parecer mesmo um carinha sempre na área, com escritório na praia. Ela, prestativa e doce, foi atender. Na tela do celular, a caixa de entrada das mensagens anunciou um contato freqüente, quase infindável, entre ele e uma desconhecida de nome não familiar. Enquanto ele ria e se divertia na piscina, ela variou entre a náusea, ânsia e os enjôos que a separ...

Eu só não aceito.

Que leio três ou quatro livros de cada vez e demoro meses para terminar, a maioria já sabe. Um dos que estava a ler nas férias de fim de ano me irritou e me pôs para pensar. O autor faz uma gracinha e me fez acreditar que um dos personagens principais tinha morrido. E fez isso no fim do que, se não me engano, era o penúltimo capítulo. Eu, que estava ali, na beira da piscina, com meu chapéuzinho para cobrir o rosto de branquela, lendo feliz da vida, sem soltar o livro desde o dia em que cheguei, me deparei com esta informação: Daniel morreu. Levantei, coloquei o livro em cima da mesa e fiquei lá, revoltada, chiliquenta, mal humorada, com o olho cheio de água. Fiquei com raiva do Carlos Ruiz Zafón. Fui nadar, andar de bicicleta, reforçar o protetor, p. da vida. Só conseguia pensar: "Não vou ler a parte que falta. Não aceito". É que não aceito mesmo. Não aceito finais-não-felizes. Deveria ser obrigatório que livros com histórias tristes tivessem continuação. Assim não i...

Estrela no teto.

O quarto do meu irmão virou o quarto de computador. Foi melhor assim. Mudar as coisas de lugar diminui a estranheza de não tê-lo mais aqui. O armário, aos poucos, foi esvaziado e dele, guarda apenas uma ou outra camiseta preferida. A cama mudou de lugar. O computador veio para cá. Um mural de fotos, uns livros, outra cor na parede. Pronto. Algumas mudanças. Necessárias. Algo aqui, algo ali foi mantido igual. Melhor assim também. A mudança desconstrói umas sensações que não são boas para se viver todo dia. E os detalhes preservados mantêm aquelas sensações sem as quais não seríamos capazes de viver. Cada qual com sua função: a mudança e os detalhes. Hoje estava aqui, esperando baixar um arquivo e dei uma espreguiçadinha, estiquei, balancei os cabelos e olhei pra cima. Tudo automático, coisa que se faz todo dia. No teto deste quarto em que já estive por tantos anos, vi, pequenininha, esquecidinha, já pintada da cor nova do teto, uma estrelinha. Sim, uma estrelinha. Lembra daqueles adesi...

A-normal.

Ontem mesmo disse que vinha para anunciar se voltasse ao normal. Voltei. Voltei ao meu normal. Aquela louca-desorientada-que-ri-de-tudo-e-ama-todo-mundo, lembram? Vontade de tomar uma garrafa de vinho assentada no chão de uma sala qualquer dando umas risadas de qualquer coisa... Mas vou mesmo trabalhar. Não diria que é exatamente uma boa troca, mas é o que tem para hoje. Só de estar no meu normal já prefiro. Dias como ontem me fazem reflexiva e um pouco mais sábia. Os como hoje também. A idéia é tirar alguma coisa boa de cada sensação, sempre. Normalidade é um entendimento subjetivo e pessoal. E o que chamo de normal em mim é uma loucurinha doce e provocante que insinua muitas coisas e esconde tantas outras. Estou assim. Normal. A-normal. Sã. Louca. Feliz. Aguardando o resto da vida que me aguarda, com o coração cheio de coisas minhas e boas. E a palavra de hoje é equilíbrio.

Ou não?

Sabe aqueles dias que a gente acorda tristinha? Não? Bom, eu sei. Vez ou outra, acordo assim. Esquisita, cansada, sabendo que o dia não vai ser lá nenhuma maravilha. Haja jogo de cintura para manter o equilíbrio emocional e não dar um grito, xingar alguém e sair correndo pra chorar umas lagriminhas suaves assentada na grama de um parque qualquer. Hoje, sem motivo aparente, passei a noite inteira acordada. Literalmente, inteira. Minha pressão é baixinha, não sou de ter problemas para dormir, mas hoje nada me fez pregar o olho. Desisti. Fingi que noite era dia. Aí li, vi televisão, acendi a luz, rolei na cama, pensei na vida, escrevi umas coisas sem sentido, outras nem tão sem sentido assim, mudei de livro, liguei o ventilador, quis ir pra cama dos meus pais, não fui, fiquei assentada na cama olhando pro nada, desliguei o ventilador, chorei vendo um filme bobo, vi o dia amanhecer! Não sei se chorei de desespero – porque não conseguir dormir dá um certo desespero – ou porque possa haver a...

meus gostos III...

Gosto... de quem me ganha. Não gosto...de quem me perde.

Não dê nome à sua felicidade.

E quem vai entender os desejos mais íntimos, profundos e até obscuros de um ser humano? Já fui aquela que muitas vezes não compreendendo o outro, apontou o dedo para algo que não me pareceu uma conduta adequada. Já vai tempo que não sou assim. Quem pode julgar coisas feitas com o coração, se de fato são feitas com ele? Quando compreendi que cada um sabe os limites da sua felicidade interrompi este tipo de avaliação sobre o agir de cada um. Dei ao outro o direito de ser feliz ao seu modo, sem ter que assistir meu olhar ou meu apontar pesando sobre ele. E me dei este mesmo direito. E por isso também não aceito olhares ou dedos a me apontar. Entendi que detesto mesmo as convenções. Vivo algumas, mas porque quero, não porque as pessoas esperam que eu viva. Dão nomes iguais a contextos diferentes. Namoro. Batizado. Casamento. São vivências e relações tão diferentes umas das outras, que não aceito bem que tenham o mesmo nome. Se eu namoro, meu namoro não parte das mesmas premissas que o seu...

Eu que preciso.

Vocês não precisam entender quando digo que não sei tirar as pessoas da minha vida; ou que choro vendo jornal nacional, propaganda da pedigree e comédia romântica; ou que acredito em amizade entre homens e mulheres e que ex-namorados deveriam se tornar nossos melhores amigos. Vocês não precisam entender que eu seja irritantemente otimista, acredito em contos-de-fada e em histórias de príncipe e princesa; ou que eu sou uma alma controlada por um grande sonho; ou que gosto de sorrir pra estranhos na rua. Não, não precisam. Nem precisam entender que às vezes sou moderna e às vezes careta. Vocês não precisam mesmo entender que minha vida é um sonho azul, bom de viver, das cores do mundo, de todas as cores que há em mim, em você e ao redor. Vocês não precisam entender que eu não enxergo maldade nas pessoas, que eu acredito nelas; ou que eu tenho ciúmes de quem já passou pela minha vida. Vocês não precisam entender minhas manias, e que sou sistemática. Não precisam entender que preciso fala...

A dor do outro.

Quem me conhece sabe bem quanto eu rejeito determinados assuntos. Sabe bem quanto afasto e fujo de certas sensações que me afetam de um modo tão ruim a ponto de eu querer evitá-las. Sou menina medrosa, mulher corajosa. Cheia de coragem abri minha janela, cheia de coragem me mostro mais que seria necessário, permito que as pessoas saibam mais sobre mim do que precisariam de saber, entrego meus mistérios. E com isso, crio outros tantos... Porque também tenho medos, também tenho incertezas sobre minhas verdades, questiono meus dogmas, duvido da minha realidade, não escrevo a melhor parte. Falo sobre a morte do meu irmão, falo sobre religião, política e relacionamentos. Falo sobre já ter tido o coração partido e falo dos meus sonhos. Falo da minha família, do mundo encantado em que vivo. Falo sobre desejo, vontade e sexualidade. Falo sobre fidelidade, amizade e simplicidade. Falo sobre indignação, diferença e futilidades. Mas difícil é falar sobre um medo que é do outro. Sobre algo que eu ...