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Mostrando postagens de 2016

Naquele altar.

E quando eu te vi naquele altar perdi o ar. Tudo girou. Tive vontade de vomitar. Meu coração parou. Tudo isso por três infinitos segundos. Você estava no altar e não era eu indo na sua direção. Teria pensado que ainda era amor. Mas acho que foi um ataque epilético do coração. É que amor não tira o ar, mas enche os pulmões com uma respiração profunda, tipo suspiro. Amor não faz tudo girar, mas altera a velocidade da rotação da terra. Amor não dá vontade de vomitar, mas dá fome de amanhã, apetite do para sempre. Amor definitivamente não faz o coração parar, mas disparar, em um ritmo bonito e suave de alguma trilha sonora antiga que nos dizia que o amor aparece mesmo onde ninguém ousaria supor. E quanto eu te vi naquele altar eu entendi que não é mais amor. Aí eu quis saber. Será que já foi? Será que fui livrada como em outras tantas vezes? Será que a gente aconteceu predestinado desde o início a não ser? Será que aquilo de achar que determinávamos o que aconteceria ...

Brownie fit (por favor, não)!

Eu não escolhi a minha intensidade, a personalidade inquieta, o cérebro acelerado, que só descansa diante de uma criança, de pão de queijo, de um bom livro ou de um bom amor. Preciso de entender tudo que eu toco, quero que tudo que eu encoste queime de frio ou calor. Tenho evidentemente uma ânsia para sentir a vida acontecendo em tudo aquilo que me compõe ou cerca. Meus momentos, são vividos sempre - se não como se fossem os últimos - como se fossem os únicos. Intensidade. Tem um preço. Sou normalmente guiada por um tempo que não acompanha o relógio. Durante a minha vida me doei a tudo que eu fiz? Sim. Coloquei o máximo de energia em toda experiência? Sim. Isso muitas vezes nos leva a caminhar mais rápido que nossos passos aguentam, tropeçar e cair? Às vezes. Isso quer dizer que alguma coisa poderia não ter sido feita para evitar as pequenas tragédias da vida? Não necessariamente. A gente entra aí mais ou menos no campo daquele clichê, do qual dificilmente as pessoas esc...

Desculpa, então, Luiz Otávio.

Fim de tarde. Desci para fazer um lanche. O livro de leis em uma mão, o cartão do banco na outra. Assentei nas mesas da rede de sanduíches que fica embaixo do escritório. Juro que eu estava comendo um salgado fit comprado na padaria ali perto, mas as mesinhas me pareceram um bom lugar para assentar. Somos uma geração movida a grandes tragédias. Tanta informação, tanta preocupação, tantos projetos para serem realizados ao mesmo tempo, tantas relações para gerir, tanta satisfação para dar, tantas metas para não se estabelecer e quando forem alcançadas serem dobradas, que a gente só reage na marra. Só nos preocupamos com o meio ambiente quando estamos diante do maior desastre natural ocorrido em nosso país, só nos preocupamos com as nossas mulheres quando há um estupro coletivo realizado por dezenas de “caras”, só nos preocupamos com o terrorismo quando ele acontece em um lugar balado na cidade Luz ou quando um avião com civis é derrubado, só nos preocupamos com imigração quand...

Essa coisa de ser livre.

“E aqueles que eram escravos entenderam errado esta coisa de ser livre”. Ser livre tem a ver com não permitir que o olhar do outro determine a maneira como eu me comporto. Ser livre é não colocar sobre si mesmo um olhar que imputa culpas, ao invés de responsabilidades sobre nossas atitudes. Ser livre é ter coragem de dizer que é amor. Ser livre é não ceder nunca ao “se todo mundo faz assim, deve estar certo”. Ser livre não tem nada a ver com fazer qualquer coisa, mas tem a ver com fazer o que é bom para gente mesmo. Ser livre é não deixar ninguém escolher o que me faz feliz. Ser livre é escolher conscientemente onde colocar minha felicidade. Ser livre é aceitar que desde que minhas escolhas não reflitam negativamente no outro, elas são minhas. Ser livre é escolher ter três filhos. Ser livre é escolher não ter nenhum filho. Ser livre é escolher que o único amor que merece o seu é o dos cachorros. Ser livre é se apaixonar todos os dias. Pela mesma pessoa ou p...

3,2,1... Já!

Hoje por um segundo eu pensei em esquecer você. Você e qualquer lembrança sua. Eu também quis chorar, mas não consegui. Quase uma homenagem as tantas vezes que em você esperou que eu chorasse e eu fiquei ali imóvel a te olhar, quase que como só para contrariar. Mas é. Eu quase te esqueci, mas não esqueci não. Primeiro, porque junto com você iriam muitas descobertas, o universo infinito das palavras ganhando significado, nossos lugares, notas musicais e as manhãs mais felizes da minha vida passadas juntos descobrindo um jeito só nosso de amar. Segundo, porque você está aqui, gravado no meu corpo, mas não só. Você está nas minhas roupas, nos meus livros, na minha poesia, nos meus sonhos. Você faz parte da pessoa em que eu me transformei e eu não quero deixar de ser. Eu ainda sonho você e você ainda parece de verdade. Mas é bem verdade que a única coisa que parece real por aqui nessa manhã estranha é o número de zeros que compõem a distância que nos separa em metros. O mundo dá vol...

Nem ruim, nem bom.

Essa noite eu sonhei com você. Já tinha mais de um mês e foi a primeira vez. A primeira vez desde que você não está mais aqui. Sei lá. Não foi nem ruim, nem bom. Não, não é saudade. Eu não sinto saudade de você. A gente sente saudade de quem deixou coisas para trás. Você não deixou muita coisa por aqui. A gente sente saudade quando a presença é mais forte que a ausência. Quando ficou mais coisa do que foi. É verdade que ficou uma lista de filmes e séries a serem vistos juntos. Ficaram uns lugares para ir e umas viagens para fazer. Ficaram umas noites de amor para viver e umas posições para testar. Mas é bem verdade que isso não dá saudade nenhuma. São só filmes que eu não tenho interesse de assistir, séries que eu não quero acompanhar. São só músicas que eu não quero mais escutar. São só lugares que eu não quero ir. É isso. Na verdade você só deixou para trás coisas a não serem feitas. Sua presença aqui não me disse nada. Ficou uma sensação, um vazio de alguém que esteve aqui sem es...

Por muitas estrelas no teto.

Ei, Caqui!  Sabe que por mais de uma vez eu ouvi as pessoas dizerem com um certo tom de ironia a respeito da minha maneira de olhar o mundo? Algo do tipo “lá vai a Luísa e o mundinho dela”. O que estas pessoas não souberam é que de fato eu tenho um mundo inventado e que se para elas pareceu alguma coisa irreal é porque deve mesmo ser. O que elas não souberam é que eu sinto maior orgulho de mim porque criar um mundo para gente mesmo exige muita coragem e dá maior trabalho. O que elas não souberam é que eu inventei este mundo para me proteger, mas aqui eu acabo por ser imune a muito mais coisas do que poderia imaginar. O que elas não souberam é que o fato delas não entenderem um mundo inteiro só me faz ter mais vontade de viver de um jeito diferente da maioria das pessoas que eu conheço. O que elas não souberam é que insistir naquilo em que eu acredito e colocar minha felicidade só na minha própria conta é uma experiência sem preço.   Mas o mais impor...

Para os que vão tarde.

Minhas últimas viagens antes de voltar ao Brasil me trouxeram, dentre tantos prazeres, o de conhecer pessoas i ncríveis. Estas pessoas não vão ser meus melhores amigos, nem futuros namorados, também não vão estar na minha vida para sempre, mas de algum modo vão fazer sempre parte dela de alguma maneira. E essas pessoas serão certamente lembradas em dias quaisquer em momentos significativos.  Em umas das ilhas da Grécia para onde eu fui sozinha, no barquinho de doze pessoas que nos levava ao lugar mais lindo que eu já conheci na vida, tinha uma brasileirinha. Carol. Carol como a maioria das Carol´s que me cercam era doce. Tinha a fala mansa. Não alterava o tom da voz para falar. E me achou com o olhar, ao se aproximar dizendo: você é a outra brasileira do grupo? Sim, eu era.  As pessoas que a gente conhece quando está sozinho, viajando por algum lugar que fique a mais que dois meios de transporte de casa, vêm com um selo. É o selo de zona segura. Eu e Carol não pre...

Valentine's day.

Eu não lembro mais da roupa que você estava, que poderia ser aquela camisa azul que eu gostava ou aquela verde surrada. Nem lembro do número daquele portão de embarque que poderia ser o 2C ou o 17A. Eu não lembro mais do seu cheiro, que poderia ser aquele perfume importado ou aquele que veio com a pele. Eu não lembro do olhar que você fez, mas poderia ser aquele de quem não se abala ou o outro que segura as lágrimas. Eu não lembro da sua expressão, mas poderia ser aquela séria ou aquele sorriso difícil que eu aprendi a merecer. Eu não lembro do livro que você estava lendo e ficou na cabeceira, mas poderia ser aquele clássico romântico ou aquele outro sobre atividades físicas. Eu não lembro o último lugar que você me tocou, mas poderia ser a curvinha no fim das costas ou a nuca com a mão pesada dizendo que não era para eu ir ainda. Eu não lembro de muitos detalhes, mas poderia lembrar como se fosse agora do que eu sentia sabendo que você era meu. Talvez, só talvez, um d...