Pular para o conteúdo principal

Naquele altar.

E quando eu te vi naquele altar perdi o ar. Tudo girou. Tive vontade de vomitar. Meu coração parou. Tudo isso por três infinitos segundos. Você estava no altar e não era eu indo na sua direção. Teria pensado que ainda era amor. Mas acho que foi um ataque epilético do coração. É que amor não tira o ar, mas enche os pulmões com uma respiração profunda, tipo suspiro. Amor não faz tudo girar, mas altera a velocidade da rotação da terra. Amor não dá vontade de vomitar, mas dá fome de amanhã, apetite do para sempre. Amor definitivamente não faz o coração parar, mas disparar, em um ritmo bonito e suave de alguma trilha sonora antiga que nos dizia que o amor aparece mesmo onde ninguém ousaria supor.

E quanto eu te vi naquele altar eu entendi que não é mais amor. Aí eu quis saber. Será que já foi? Será que fui livrada como em outras tantas vezes? Será que a gente aconteceu predestinado desde o início a não ser? Será que aquilo de achar que determinávamos o que aconteceria era tudo pegadinha do que já estava destinado a não acontecer? Será que seu abraço fazia parte de todos aqueles que eu teria que experimentar até encontrar o dele e ter certeza que era o certo? Mas a verdade é que eu não me sinto exatamente livrada de você. Desejei muitas coisas para nós dois. Em alguma medida elas aconteceram. Teve muita vida, seguida de mortes e renascimento e encontros e desencontros e perguntas. Perguntas sem resposta, perguntas que a gente não teve tempo ou vontade ou coragem de responder. Mas não fui livrada. Te perdi, ou talvez você tenha me perdido primeiro; não que a ordem altere o resultado.

E quando eu te vi naquele altar desejei que você fosse feliz como eu desejei um dia que nós fossemos juntos. Você me parecia mesmo feliz, sabia? E eu fiquei feliz também. Me lembro quanto foi ruim quando você disse ter se tornado um solitário depois de mim. Porque eu não achava que eu fosse capaz de ser a mulher que você esperava. Mas eu também achei que você não ia ser capaz de encontrar outra mulher como eu. E agora você escolheu alguém. E eu sinto alívio. E espero que ela te escreva cartas como as minhas, que divida músicas e poesia com você, que perca o sono de madrugada, quando você também está acordado para falar de estrelas ou impossibilidades, que te beije na chuva, que entenda seus silêncios e recuos, que vibre com seus retornos imprevisíveis e que te ache um cara tão sensacionalmente confuso e incrível quanto eu achei.

E quando eu te vi naquele altar eu soube e entendi que não era mesmo para ser eu. Te entendi melhor por ter ido embora, mesmo achando que exagerou na quantidade de vezes. Continuei sem entender seus sim’s, suas permanências, suas voltas, mas entendi suas partidas, suas fugas, seus não’s, uns seguidos dos outros até o último que nunca acabou. 

Ainda lembro a primeira vez que te vi, que te olhei. E agora provavelmente vou lembrar da última, naquele altar. Provavelmente ainda vamos nos encontrar por aí, no shopping, no supermercado, em um restaurante qualquer. Mas esta, ah, esta foi sim a última vez; quando eu te vi naquele altar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Para beijar na chuva.

Pela ordem natural este post deveria ser aquele sobre minha viagem, sobre minha partida, sobre minha chegada.  Mas não tenho sido muito adepta da ordem natural ou estaria em uma outra vida, sonhando com um bando de coisas que eu nem acredito que existem. Por isso o fim de ano chegou primeiro e com ele meu post da virada, que tem se tornado uma tradição para mim. Algo como o Especial de Natal do Roberto Carlos ou o Show da Virada do Faustão. Post de final de ano, então, tem todo fim de ano. A única condição aqui é que as sensações sejam novas e desde já fica meu pedido para que o universo renove meus desejos e que eles sejam mesmo diferentes a cada ano, e sejam alimentados por expectativas diferentes, sensações diferentes e sonhos diferentes. E que haja, por isso, inspiração para que eu escreva a cada virada de ano e muitas vezes entre uma virada e outra, porque se isso não significa muito para as pessoas, para mim, significa sempre que eu estou viva. E só por este motivo e...

Estrela no teto.

O quarto do meu irmão virou o quarto de computador. Foi melhor assim. Mudar as coisas de lugar diminui a estranheza de não tê-lo mais aqui. O armário, aos poucos, foi esvaziado e dele, guarda apenas uma ou outra camiseta preferida. A cama mudou de lugar. O computador veio para cá. Um mural de fotos, uns livros, outra cor na parede. Pronto. Algumas mudanças. Necessárias. Algo aqui, algo ali foi mantido igual. Melhor assim também. A mudança desconstrói umas sensações que não são boas para se viver todo dia. E os detalhes preservados mantêm aquelas sensações sem as quais não seríamos capazes de viver. Cada qual com sua função: a mudança e os detalhes. Hoje estava aqui, esperando baixar um arquivo e dei uma espreguiçadinha, estiquei, balancei os cabelos e olhei pra cima. Tudo automático, coisa que se faz todo dia. No teto deste quarto em que já estive por tantos anos, vi, pequenininha, esquecidinha, já pintada da cor nova do teto, uma estrelinha. Sim, uma estrelinha. Lembra daqueles adesi...

Vi, vivi ou inventei!

Eu nunca expliquei de onde surgiu o nome do blog. Acho até que deveria ter sido a primeira coisa a ser feita quando ele nasceu. Ou nem devia explicar e deixar cada um entender ao seu modo, fazer sua interpretação. Mas vou dizer. Eu estava lendo Martha em um dia qualquer. E quem me conhece sabe da minha adoração por esta mulher. Não sou de muitos ídolos, mas ela é, definitivamente, uma das minhas. Diz tudo que eu quero dizer, pensa tudo que eu penso, escreve tudo que eu quero escrever. Às vezes sinto aflição, porque gostaria de ter, eu, dito antes. Tem um texto dela, chamado A Janela dos Outros, em que ela fala sobre como o ser humano tende a só querer ver o que mostra sua própria janela, como se a visão ou opinião do outro não tivesse mesmo muita importância. Em um momento da crônica, perto do final, ela diz “A sabedoria recomenda que falemos menos, que batamos menos o martelo e que sejamos menos enfáticos”. Conheço poucas pessoas que falem tanto e batam tanto o martelo como eu. Minha...