Pular para o conteúdo principal

Partir sem ter planos.


Coisa que gosto é poder partir sem ter planos.

Natal. Ano novo. Descanso. Malas. Aeroporto. Passeio na praia. Livros. Biquíni. Chinelo. Nada de internet, ar condicionado ou salto alto. Enfim, férias.

Não, não são férias das pessoas, do trabalho, da rotina. É uma espécie de férias de mim mesma. Pela primeira vez, nos últimos anos, passei uns dias sem a cabeça funcionando, sem a vontade compulsiva de escrever, de resolver, falar, explicar, complicar, organizar. Férias... meu jeito simples de me encontrar em mim mesma.
E não tem preço café da manhã de hotel. Caminhar na praia. Olhar o céu sem hora de acabar. O relógio esquecido na mesa de cabeceira da minha cama feitinha lá na cidade mineira, e não precisar dele para nada. Passeios de mãos dadas. Cheiro de protetor solar. Passar quinze dias sem um check list. Caixas de emails e celular off line. Escrever com coqueiro, céu e sol me olhando neste fim de tarde. Escrever por escrever, sem precisar me esvaziar.

Quem não precisa de férias de si mesmo? Agradeço as minhas. Eu também me canso. Me canso do meu medo, da minha felicidade, das minhas manias, das minhas esquisitices, do meu humor, da minha praticidade, das minhas certezas, da minha paz, da minha inquietação, das minhas falhas, de querer estar sempre certa. Ser eu cansa. E férias me descansam.

Estou off-line. Mente aberta, coração e cabeça funcionando na mesma sintonia. Vivendo pra ser melhor, e só. Ano novo apontando no horizonte.

Já disse, não sou muito afeta a tradições. E o réveillon não passa imune. 10-9-8-7-6-5-4-3-2-1 e...... e..... E... nada. Ainda somos os mesmos, ainda sou eu, ainda é você, na mesma vida, apenas um segundo depois.

Mas, tudo bem, me rendo aos abraços gratuitos que todo mundo distribui neste momento, às risadas sem motivo, à saudade boa daquele abraço que eu não tenho mais, ao barulho das rolhas saltitando dos espumantes, às lágrimas suaves, mas inevitáveis dos meus pais, aos bons desejos, a mente esperando forte e firme tudo que os próximos 365 dias guardam. Poderiam ser 20, 456 ou 1537, mas são 365 e me servem. Me rendo a fechar um ciclo. A me proporcionar a chance de fazer melhor. O que foi feito até hoje, às 11:59 horas, passou. O que vem, pode ser restaurado, ajeitado, conduzido ao nosso modo. Não é isso? É sim. É apenas outra chance. Mas o que mais se pode esperar na vida do que outra chance? Que seja bem aproveitada então.

Renovem as promessas, pense naquilo que você espera para depois dos fogos de artifício. As minhas estão refeitas. Estudar mais. Dormir mais. Menos internet. Não deixar a monografia da pós para o último dia do prazo. Adquirir o novo pacote de depilação a laser. Fazer novos amigos. Rever os velhos. Cultivar os bons. Ser sempre mais doce, mais leve, mais equilibrada. Ser menos louca, sistemática e pensante. Comprar menos. Malhar os doze meses do ano. Diminuir a coca-cola e o Mc Donald’s. Manter o peso. Ver mais vezes o pôr do sol e o nascer também. Ir mais vezes a praças. Não cometer injustiças. Viver do meu jeito, pra ser melhor, e só.

Este momento, este exato segundo, pra mim é mágico. Pensar lá no fundo o que eu preciso de mim e da minha vida pra ser ainda mais feliz e completa. Agradecer. Sorrir. Re-olhar o céu. Missão cumprida. Balanço feito. O mais importante não está escrito, já que com ou sem janela aberta, tenho meus mistérios. Mas está feito. Agora, só ano que vem.

Coisa que gosto é poder partir sem ter planos, melhor ainda é poder voltar quando quero.

Comentários

  1. Acho que nunca me encontrei em um texto, tanto quanto neste.
    Adorei suas palavras... E Maria Rita no final, foi o melhor =)

    Belo blog =)

    Voltando sempre!

    Bjos

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Para beijar na chuva.

Pela ordem natural este post deveria ser aquele sobre minha viagem, sobre minha partida, sobre minha chegada.  Mas não tenho sido muito adepta da ordem natural ou estaria em uma outra vida, sonhando com um bando de coisas que eu nem acredito que existem. Por isso o fim de ano chegou primeiro e com ele meu post da virada, que tem se tornado uma tradição para mim. Algo como o Especial de Natal do Roberto Carlos ou o Show da Virada do Faustão. Post de final de ano, então, tem todo fim de ano. A única condição aqui é que as sensações sejam novas e desde já fica meu pedido para que o universo renove meus desejos e que eles sejam mesmo diferentes a cada ano, e sejam alimentados por expectativas diferentes, sensações diferentes e sonhos diferentes. E que haja, por isso, inspiração para que eu escreva a cada virada de ano e muitas vezes entre uma virada e outra, porque se isso não significa muito para as pessoas, para mim, significa sempre que eu estou viva. E só por este motivo e...

Como vim parar aqui?

Segunda-feira, 07 de setembro. Feriado, 18:40, fim de festinha não rara aqui em casa. Um grande amigo da família foi quem me disse: "Sabe aquela carta que você escreveu pro seu irmão?! É ela que eu leio quando me faltam forças, fica na minha gaveta. Já li mil vezes." Eu também. Sexta-feira, 11 de setembro. 11:30. Fiz uma coisa que há muitos anos não fazia. Desde criança. Fui com minha mãe para o trabalho dela. Fiquei lá. Vendo as coisas, observando as pessoas e achando tudo novo e diferente. Deu muita saudade. De muitas coisas, de muitas fases. Resolvi ler a tal carta, o tal email. Li. Entalei. Passei aperto para segurar as lágrimas. Parei de ler. Recomecei. Percebi que ainda é igual. Que as coisas que eu sinto falta e escrevo hoje em dia para mim mesma são praticamente as mesmas. Ainda é a mesma sensação de não saber bem o que dizer. Mas também percebi que minhas forças, meus sentimentos se renovam diariamente. Fomos almoçar. No Xodó da Praça da Liberdade... Sabores da infân...

A sensação é a mesma...

A sensação é a mesma. A de que não era pra ser assim. Mas é.! Era para ser só mais um final de semana... Fins de semana vem cheios de sensações boas...É como se fosse mais uma etapinha cumprida. Tarefas, prazos, metas. Encerram-se. Para começar tudo outra vez na segunda-feira. Sábado foi um dia importante. Comemorando a vitória de um grande amigo. E aí vem o domingo. 13 de setembro de 2009. De céu azul, de vento gostoso, de café da manhã com a família e com o amor, de paz no coração, de, de.. de notícia ruim... E lá vamos nós. Era para ser só mais um domingo, mas não foi. E a semana começou mais carregada e pesada do que deveria. Parque da Colina na manhã de segunda-feira. Estar ali ao lado de grandes amigos, sentindo uma dor que eu sei qual é me faz reviver um milhão de sensações ruins. E hoje eu não vou falar das minhas perdas, mas das impressões que eu tenho em dias assim.. Então...é isso aí..funciona mais ou menos assim... mais uma despedida...ou melhor, mais uma despedida não fei...