terça-feira, 21 de setembro de 2010

Olhos de diamante.

Dois paredões. Duas estruturas. Firmes. Imponentes. Sempre soberanos. Vivos. Sempre ali. Olhos de diamante. Meus pais. Meu pai. Minha mãe.

Inabaláveis.

Digo, aparentemente, inabaláveis.......................

É difícil aceitar que nossos pais mudam. Que nossos pais são frágeis, falíveis. Que se entristecem. Que se perdem. Que se desestruturam. Que são humanos, e não heróis.

Difícil aceitar que talvez não exista mais o brilho dos olhos de diamante que por tantas vezes foram pousados sobre nós. Tanto amor, tanta alegria completa.

Durante os últimos mais de quatro anos eu neguei o fato de que eles poderiam mudar. Neguei que o fato de eu ter perdido meu irmão iria mudar tanto assim minha vida. Neguei que o fato deles terem perdido o filho também mudaria.

Mudou. Hoje, em meio a dias dos quais eu venho fugindo e situações que eu venho evitando, eu entendi isso. Mudou.

Pode parecer estranho dizer. Mas não é. É simples. Mudou. Muita coisa mudou. Eles mudaram. Talvez ela não seja mais aquela mulher destemida que foi. E que eu quero ser. Talvez ele não seja mais aquele homem leve que também foi. E que eu quero ser.

Eles ainda são incríveis. As pessoas mais incríveis que já conheci. Ela é a mais linda mulher que já houve. Ele o mais completo homem. Mas não são mais os mesmos.

Eles mudaram. Eu devo ter mudado também. Minha casa não é mais a mesma. Era pra onde eu corria, as vezes é onde eu não quero estar. É só as vezes. Mas é o suficiente pra incomodar.

É difícil eles precisarem de mim. Mais difícil é precisar deles quando eles precisam de mim primeiro. Nenhuma vez desde que meu irmão se foi, nenhuma, eu fui aos braços de meus pais chorar de saudade. Nem ao de ninguém mais. E eu vou sempre me recusar a isso.

Talvez por isso a imagem de parede, estrutura e olhos de diamante, inabalável, agora, seja pra eles, a minha. Mas eu estou longe, muito longe de ser tudo isso. Posso ter os olhos de diamante. O resto eu só tento ser. E preciso deles, firmes, inteiros pra fingir que sou.

Vê-los tropeçar, dobrar os joelhos, suplicar, fraquejar não ajuda. Mas é direito deles. Direito concedido pela mesma mão que tirou deles o que de mais importante tinham.

Quando ele estava aqui e meus pais não estavam bem, ele do jeito dele, de irmão mais velho, mas desajeitado, sempre dizia para eu não me preocupar. Que ia passar. E que a gente não precisava de fazer nada pra isso. Porque com pai e mãe era assim. Eles ficariam bem.

Eles mudaram.

Mas no meu mundo, eles não mudariam. No meu mundo, eles são e sempre seriam aquele homem e aquele mulher que me ensinaram a ser o que eu sou hoje e que nada abalaria.

Ainda é difícil que minha vida esteja marcada por uma perda e que meus momentos difíceis ainda tenham este pano de fundo. Eu me nego a viver um minuto sequer de tristeza por não ter meu irmão aqui. Sempre vou negar e resistir bravamente a qualquer sentimento ruim, que definitivamente não faz parte de mim.

Hoje foi apenas um dia difícil. Dia de perceber, constatar. E aceitar.

Dificilmente o que está postado aqui reflete meu estado de espírito do dia. Às vezes demoro meses para publicar. Outras, nem publico. É que senão é me mostrar demais. Mais do que deixar a janela aberta.

Hoje foi diferente. Post escrito agora. Sem correções, sem releituras. Sem tomar fôlego. Sem entender tão bem o sentimento a ponto de ter coragem de publicar. Simplesmente, eu e uma percepção nova.

Eles mudaram. Talvez não sejam mais inabaláveis. Talvez não sejam mais imponentes, inteiros e firmes. Mas ainda têm olhos de diamante.

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