quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Fluidos transcendentais..


Ele me chama de marmota. De magrela. De gordinha. De bicuda. De baranga. Ele chama meu all star de kichute, minha alergia de pereba e minha calça xadrez de roupa de quadrilha. Ele me olha com carinho mesmo quando eu estou insuportavelmente chata de Tpm distribuindo indelicadezas por aí. E me dá bala ou sorvete. Ele arruma meu computador. Meu aumento. Meu humor. Ele me trata como se eu fosse um homenzinho. E me leva pro almoço só dos meninos. Ele divide a sala comigo. E faz piada de tudo que eu falo, faço e visto. Ele é criminalista, mas sempre tem boas teses civilistas. Ele me chama pra ir com ele até o Fórum de Nova Lima, só pela minha companhia. Ele me ensina tudo sobre os homens. Ele me acha linda, mas fala que eu sou “até bonitinha”. Ele é o Dj e anima as festas na minha casa, distribuindo pinga por ali. Ele diz que o Thor é mal educado e o Lilico vira-lata. Ele me espera para almoçar. E paga meus almoços. Ele me conhece como ninguém. E sabe meus segredos. Ele toma conta de mim. Ele tenta fugir dos meus beijos. E faz cara de nojo quando eu dou. Ele herdou o nome, as manias e a gentileza do pai. Ele tem pose de durão, mas tem o melhor coração. Ele tem ciúmes de mim. Ele é impulsivo e ansioso. Ele é sistemático. Ele me liga de madrugada. Ele me faz rir. Ele conserta tudo que há de ruim em mim. Ele tem uma intimidade irritante e exagerada comigo. Ele não ouve meus conselhos. Ele é meu irmão. Ele tem o melhor humor. Ele é conselheiro do Atlético. Ele teve o projeto de mestrado aprovado na Sorbonne.

Ele foi embora hoje.

Último almoço de despedida e ele se foi. Voltamos para o escritório. Um silêncio esquisito de todo mundo. A mesma sensação estranha. O mesmo nó na garganta. Eu, egoísta. Exatamente como eu fui da outra vez. Com direito a birra, manha, dengo, choro. Nesse momento com o olho mareado e o narizinho vermelho, segurando pra não descer lágrima.

Eu, mais uma vez, não vou ao aeroporto. Me dei o direito. Vou entrar para uma reunião e trabalhar.

Não é criancice, infantilidade ou exagero. ........ Tá bom, pode até ser.
Mas mesmo assim não abro mão. Não abro mão de passar meus dias ao lado dele, alguém que me causa tantas sensações boas na vida.Ele não sabe, mas desde que ele voltou não tirei a foto dele na minha carteira. Foi uma forma de garantir que este plano dele daria certo. De torcer caladinha para que saísse tudo como planejado.

Na última sexta a gente passou umas horinhas conversando, sobre a vida, na sala do pai, com um clima bom de sextas-feiras, com a vista bonita que tem ali. No ar, um aperto no peito de sentir que a despedida se aproximava, dizendo que ele não estaria mais ali na minha rotina, naquela sala, como tantas vezes estivemos.

Mesmo tendo torcido tanto pra isso dar certo, hoje fica um vazio. Mesmo falando pra ele todos os dias que eu não iria sentir saudade, eu vou. Só é vazio o que já esteve cheio. Só vou sentir falta, porque a presença foi indescritível.

Boa sorte, Cast. Vai com Deus, se cuida. Prometo cuidar da sua irmã, do seu pai. Prometo não fazer nada de errado. Prometo manter as coisas em ordem. Vai fazer mais falta do que imagina. Não me esquece e te espero na volta com aquela festa (surpresa) que ainda não saiu. A trilha sonora é pra você e você sabe bem porque.

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