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Mostrando postagens de 2015

Se eu explicar, estraga. [Amém para vida].

Entrei no táxi a caminho do aeroporto e o motorista, segundo baianinho que eu cruzava no dia, não demorou 7 segundos para dizer: “Oxê, é de onde, morena!?” -        -  Uai, quem falô qui eu num sô daqui? Gargalhamos. Ele já tinha me desarmado no “morena”que me dá nó na garganta com a lembrança do moço que deixei na terra dos macarons. Eu quase pedi um abraço. Depois ele me disse que eu tinha jeito firme, voz firme e uma risada que o dizia que eu não era tão firme assim. Respondi: -        -  Depende! Talvez desta vez você tenha errado. Rimos de novo, mas ele ainda duvidou. Tenho estabelecido uma relação estranha diante de pessoas que eu nunca mais vou ver. Mas Sr. Edmundo-fofinho-vontadedemorder-queroumavô e eu em algumas dezenas de minutos nos contamos nossas histórias, falamos de ilusão e de esperança e de otimismo e de egoísmo e de respeito. Mudei de lugar e me assentei exatamente atrás dele. Nos olham...

Para deixar o outro ir.

E foi no caos que encontrei a paz. E foi na contradição que encontrei a resposta. Não gasto minhas palavras. Elas sempre valeram mais para mim que roupas, dinheiros ou carros caros. Elas me pertenceram integralmente e entendo que elas são provavelmente as únicas capazes de se manterem fiéis a mim mesma até o final. Mas sempre fui boa em interpretação de texto, sempre soube achar os duplos sentidos, as entrelinhas. Das palavras, dos textos, das atitudes e das pessoas. Já achei e já devo ter escrito que amar é permanecer. Que o amor é o exercício do ficar, do não desistir, do não ir embora. Que o amor pode tudo, pode escolher a forma e o gosto que amante e amado quiserem. A única coisa que o amor não faz é amar sozinho. O amor só é se ele for de duas pessoas, duas almas, prontas para serem namorados, amigos, pais e filhos, marido e mulher. Sem um contraponto, um par, o outro lado da corda, não se fala de amor. Todo amor que se ama sozinho é não-amor. Se tem assunto que eu não m...

Assalto.

- Olá, Sr. Policial. - Sra., houve uma invasão em seu apartamento. - A porta foi arrombada? - Não. Você deixou a porta aberta e ele entrou. - Pediu licença? - Talvez tenha dado uma espiada rápida, mas acreditamos que entrou sem pedir. - Quando vocês chegaram onde ele estava? - Ele não estava mais por aqui. Só tinha restado um pequeno caos. - Então ele mexeu nas minhas coisas? - Tirou tudo dos armários, das gavetas e espalhou por aí. - Roubou alguma coisa? - Não sabemos dizer. Não sente falta de nada? - Sinto, sinto muita falta. Alguma outra coisa danificada? - Tinha algo espatifado na sala. Parecia um coração, mas não tinha mais conserto. - Alguma pista de porque ele teria vindo aqui? - Acredita-se que há uma epidemia de amores vazios. A senhora tem alguma ideia de quem seja? - Sim. - Quer ajudar com o retrato falado? - Ele tem os olhos loucos pelo mundo. Um sorriso alucinado. E transborda todo o tempo. - Sra., isso talvez não nos ajude muito. ...

Todo mundo quer casar!

Aconteceu nesta manhã. Ela se assentou ao meu lado, fez um sinal com a cabeça, e com os olhos me indicou a revista de noivas em suas mãos, onde a modelo estampava a capa com um penteado esdrúxulo e um vestido gênero bolo de festa ou princesa da Disney a depender dos olhos de quem olha. Aí ela disse: Meu sonho casar assim. Eu: O meu não. Ela: Prefere o coque mais baixo?  O vestido mais rendado? Eu: Eu não quero casar. Ela: Todo mundo quer casar.  (...) Por algum tempo da minha vida eu evitei ou me constrangi com minhas próprias frases como: eu não tenho religião, eu não quero casar, eu não acredito em fidelidade masculina. Evitei, porque de alguma maneira, parece que as pessoas têm tão poucas certezas de suas convicções que ouvir uma opinião diferente incomoda, fere, angustia. E eu sentia culpa por isso, me responsabilizava por incomodar as pessoas.  Ali, diante da afirmação tonta vinda da moça, fiquei tentando imaginar porque a...

Vida sem prorrogação.

Isso mal pode ser chamado de uma despedida de verdade. Eles apenas repetiram pela última vez um ritual que já haviam feito centenas de vezes no tempo em que tiveram suas vidas divididas. Ela se assentou na bancada da cozinha. Pegou seus anéis que colocava ali um segundo depois de entrar no apartamento. Balançou os pés com suas meinhas coloridas que ele gostava tanto, esperando que ele pegasse suas botas. Depois ele ofereceu água. Ela quis. Gelada. Como todas as outras vezes. Ela sempre se dizia que aquela água era a melhor que ela tinha bebido naquele país e ela achava mesmo que fosse. 90% desta história foi vivida naquele apartamento. Eles se conheceram ali mesmo. A primeira vez que se viram e agora a última. Ela se lembra de que no segundo em que o olhou nos olhos pela primeira vez teve certeza que ainda iria amar aquele cara. Ela não sabia que tipo de amor ia ser, nem quanto tempo ia durar. E nem se importava. Mas soube que ele ia ser uma das suas pessoas. Ela só não soube qu...

Uma joaninha e um pouco mais.

Minhas redes sociais normalmente mostram uma parcela muito estreita da minha vida. É só um pouquinho do que transborda, do que não dá para segurar, uns indícios da minha esquisitice e do avesso em que vivo. A maior parte de mim, - e não vou ousar dizer que seja a melhor-, prefiro guardar. Minha vida privada é mais privada que às vezes as pessoas imaginam. Mas a verdade é que apesar do tema de hoje não se enquadrar no tipo de coisa que eu compartilho aqui, a ideia deste post surgiu um bom tempo atrás. Minha opção de fazer um mestrado fora do país em uma língua que eu não conhecia ainda teve como consequências um processo complexo, muitas vezes cheio de dificuldades. Em várias e várias ocasiões me perguntei porque é que eu tinha inventado esta ideia maluca? A experiência é e foi impagável, mas tinha um risco alto e eu sabia. Com isso vem as experiências dos outros se somando à sua própria. Conheci várias pessoas que não conseguiram ter seus mestrados, nesta mesma ci...

Misto-quente com catchup [e saudade].

Você deve estar aí de cima pensando: “Ê, gordinha, se é para fazer um post de aniversário com nome de comida, pelo menos que seja brigadeiro ou bolo”. Te imaginei dizendo isso e senti meu coração se esmagar por 4 segundos com uma falta imensa de nós nos sorrindo enquanto nos olhávamos. Sinto este tipo de falta sabia? De aparentes pequeniníssimos detalhes das nossas vidas. Alguns de um nível exclusivamente meu de esquisitice, mas todos pertencentes intensamente a nós dois. Não sei se você se lembra, (porque não sei se você tem tempo para as coisas daqui, não sei se você é uma alminha, um anjo ou apenas a melhor representação da palavra memória). Mas voltando ao assunto, não sei se você lembra que nos últimos tempos a gente estava com um hábito específico, dentre tantos. Toda tarde enquanto assistíamos televisão quando eu dizia que ia me preparar um lanche você falava que também queria e me pedia para preparar a mesma coisa para você. Dois segundos depois de eu chegar ...