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Quando a morte conta uma história...

...você deve parar para ler.

É estranho que eu tenha demorado quase um ano para ler o tal livro.

Li as 100 primeiras páginas em meados de maio e parei. Daí, por meses, ele me olhou da mesinha ao lado da minha cama. Acabou chegando de novo até mim. Custei, mas li novamente as tais primeiras páginas. Fez mais sentido. Quis saber onde acabava a história.

Por dias e dias, neste último mês, a tal história foi meu lugar seguro. É engraçado que eu tenha passado meses pra arrumar tempo pra ler e neste momento todo meu tempo livre tenha sido dedicado a ele.

Sarou minha ansiedade, aliviou momentos de inquietação, de não saber. E eu corri praquela história onde eu passei minhas últimas noites inteiras. E lendo eu me sentia em um lugar que é meu, em algum lugar onde eu deveria estar. Cada saukerl e cada saumensch lidos me remeteram imediatamente a alguma coisa que eu não sou. Ou não pude ser. Ou viver.

O livro parece um mau pressentimento. Você vai lendo e sentindo e sendo alertado que algo não vai acabar bem. Mesmo torcendo e procurando sinais de que iria. Apesar do clima desconfortável, a história tem uma simplicidade que me remete à felicidade. E tem várias e várias histórias de amor, no mais amplo sentido da palavra. Amor simples e real.

Ao menos ali, eu sabia que não haveria surpresas, nem como mudar o fim da história. Começo, meio e fim já estavam destinados a ser o que quer que fossem, bom ou ruim. E por isso o livro foi para onde eu corri. Por isso os livros são para onde eu corro.

Aquela é a história de um cumpridor de promessas. De verdadeiras amizades. De relações fraternas. Eternas. De um primeiro amor. De alguém que achou sua fuga nas palavras. E descobriu o poder delas. De gente que se amou por não ter mesmo muito além de si mesmos. E também é a história de uma guerra.

Mas ainda assim por várias noites a história me salvou. Me acalmou. Me fez esquecer tudo que incomodava, que me tirava o controle, o foco. Foi meu lugar preferido. Ruim só ver as páginas passando, a história acabando e pensar pra onde eu iria fugir quando acabasse de ler. Acabou: O livro e talvez a necessidade de fugir.

Mais da metade da história foi lida na Praça da Liberdade. Onde também é um dos meus lugares seguros. Onde eu amo estar. Mesmo com a poluição e o barulho dos carros, lá tem silêncio e ar puro. Lá tem câmera lenta e som de passarinhos. Lá tem eu, na minha melhor versão.

O último quinto do livro eu acabei agora. 00:02 horas, deste 14 de outubro. Chorei de soluçar, perdi o ar. Nem me lembro da última vez que chorei assim. Digo, me lembro sim. E faz tempo. Quis avisar aos saukerls e às saumenschs da minha vida quanto são amados. Quanto são lembrados. Quanto são importantes. E quanto eu não gostaria que nenhum deles fosse embora nunca.

É uma história muito triste. Mas muito muito doce e linda. E se é que é possível deixa uma lembrança feliz. É uma história onde eu ainda queria estar. E me fez aprender, pra nunca mais esquecer, que saukerl e saumensch são um jeito lindo de falar de amor.

Amor, no mais amplo sentido da palavra.

Comentários

  1. Olá...logo de cara 3 coisas em comum:
    -Gabito
    -Direito
    -O livro
    O nome do meu blog é uma digamos "homenagem" ao livro que mudou parte de mim. O Direito minha profissão, e o Blog do Gabito, um vício.
    Passa no meu pra conferir, estou te seguindo e adorei de verdade o conteúdo do que tu escreve. Lindo.
    Beijos
    http://ameninaqueroubavaasimesma.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. comprei esse livro em meados de 2007.
    Li e reli, marquei o que chamou atenção.
    recomendei para muitos.
    emprestei o meu.
    posso dizer que também chorei.
    posso dizer que achei que fosse morrer junto com ela, até mesmo antes dela ir de uma vez.
    posso dizer que talvez parte de mim é a personificação fiel daquela menina.

    Abraços e Apernas.

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