sábado, 20 de novembro de 2010

Dias bons de ser feliz.

Seria mais uma sábado qualquer. Mas amanheceu um dia desses que fazem gosto levantar da cama. Abrir todas as janelas da casa. Ficar olhando pro céu e deixar o vento passar. Sem pensar em muita coisa. Dia bom de ser feliz. Calor. Passei o dia estudando, de frente para o computador. Mas a vista da janela lateral me lembrou a cada segundo de sentir aquela sensação boa de dias lindos. Vontade de colocar um vestido curto. Esvoaçante. E sair por aí distribuindo uns sorrisos gratuitos.

Sozinha em casa. Hora de dar a comida dos meus bebês. Dei, troquei água. Liguei a mangueira para molhar o jardim de papai. Molhei. O dia lindo ao meu redor. Thor e Lilico brincando por ali. Um andando atrás de mim e me observando com um olharzinho de quem me ama; o outro com meu chinelo tentando me fazer brincar de pega-pega que ele adora.

Eu, de short jeans, camiseta e chinelo (só em um pé, o outro na boca do Thor) e a água gelada caindo nos meus pés. Sem raciocinar muito o que estava fazendo me molhei também. Short, cabelo, blusa. Um banho de mangueira. E ri. Ri sozinha. E só pra mim. Mas quase dava para ouvir.

Imediatamente me transportei para um tempo ao qual não pertenço mais. Uns poucos anos de idade. Um andar inseguro. Uns dentes a menos na boca. Uma magreza de parecer quebrar. Uma infância colorida. O primeiro Lilico. Neste mesmo quintal. Eu, meu irmão e meus pais. E as muitas tardes de mangueira. De molhar a roupa. Biquíni pra que? Sempre foi mais divertido assim. Biquíni, piscina são chatos. O legal era a mangueira.

Mangueira pra fazer chuva de mentira. Mangueira pra gritar e rir alto com a água gelada. Para ficar descalço. Para esquecer a gripe e o frio. Mangueira para congelar um momento único onde nós nos pertencíamos tanto. Hoje, mangueira pra desorganizar a chatice do dia a dia. Onde meu cabelo, roupa, unhas e sorrisos são matematicamente pensados para estar sempre em seus devidos lugares.

Mangueira desconstrói. Desconstroí a responsabilidade que está a me chamar, a autocrítica que eu carrego por onde vou, os pensamentos que não cabem mais em mim. Me devolve a sensação de anos atrás. Onde não, não tinha um computador cheio de coisas pra fazer, sempre me esperando. Onde tudo que a gente precisava era ficar ali. Até cansar, até o dedo enrugar, até não suportar o frio, enrolar na toalha e ir pro banho quente.

É o meu quintal. Que eu já mencionei em outros posts. O quintal onde tem guardadas minhas melhores memórias.

A vontade urgente é pegar os filhos que ainda não tenho e colocá-los exatamente neste lugar. Eu prometo que eles terão quintal e tardes de mangueira. Na próxima tarde de sol, eu roubo a sobrinha na casa dela e trago pra cá, pra garantir que ela tenha boas lembranças da infância e de tardes como esta.

Hoje, de alguma forma, eu estive lá. Onde éramos só nós. Felizes. Descalços. Sorridentes. Excitados. Risonhos. E molhados.

Post escrito com a janela lateral me mostrando o dia lindo indo embora. E anunciando que a noite hoje também vai ser uma linda noite de lua cheia. A noite me traz outras lembranças. Ficam para qualquer outro dia destes. Por hoje, me bastam as tardes de mangueira.

Dia bom de ser feliz.

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