Dia destes e em um momento familiar em uma noite comum na Paris
de todo dia, estávamos eu e o casal com que eu moro, (que cumpre para mim o
papel ora de irmãos, ora de primos, ora de amigos, ora de pais) assentadinhos na
sala, cada um ocupado de uma outra tarefa, como um livro, um tablet ou
computador.
Distraídos como estávamos, um casal se beijava ali na TV,
calorosa e apaixonadamente. Na vida real, cada um continuava se ocupando com o
que estava fazendo. A cena era de “Plus Belle la Vie”, a tradicional novela
francesa, que está no ar há cerca de dez anos e passa em torno das oito da
noite, no horário daqui, claro. Ah, o beijo era entre duas mulheres.
E acreditem, a vida continuou. Ninguém parou para debater o beijo, aliás, o milionésimo beijo gay da novela. Acabou o capítulo daquela noite e mudamos para novela brasileira. Ali, a curtos (mas nem por isso não importantes) passos para uma sociedade engessada como a brasileira, o autor tenta incluir algumas relações homossexuais, para dar um ar de vida comum (é, foi o tempo em que o que se pretendia era polemizar, agora o que se quer é apenas retratar a vida de todo dia). Mas no Brasil os passos ainda são curtos demais. Um beijo homossexual nas telas brasileiras ainda parece uma utopia (ou parecia até o momento em que o post chegar ao final).
Há quase vinte anos estamos tentando. E as desculpas usadas para evitá-lo são ridículas (na falta de uma palavra melhor, só consegui esta). A mais frequente e nem por isso menos horrível costuma ser o “mau exemplo”, - (tive uma pequena convulsão) - , principalmente para as crianças”. A quem se quer enganar? É segredo para alguém que as crianças, como os animais, nascem naturais, sem preconceitos, sem amarras e lidam com sua própria natureza muito melhor do que adultos. Crianças não se chocam com desejos, com vontades. Só sentem. Só querem. Só intuem. Puramente e lindamente. Os incomodados, contaminados, preconceituosos e atrasados são os adultos. E como são.
E acreditem, a vida continuou. Ninguém parou para debater o beijo, aliás, o milionésimo beijo gay da novela. Acabou o capítulo daquela noite e mudamos para novela brasileira. Ali, a curtos (mas nem por isso não importantes) passos para uma sociedade engessada como a brasileira, o autor tenta incluir algumas relações homossexuais, para dar um ar de vida comum (é, foi o tempo em que o que se pretendia era polemizar, agora o que se quer é apenas retratar a vida de todo dia). Mas no Brasil os passos ainda são curtos demais. Um beijo homossexual nas telas brasileiras ainda parece uma utopia (ou parecia até o momento em que o post chegar ao final).
Há quase vinte anos estamos tentando. E as desculpas usadas para evitá-lo são ridículas (na falta de uma palavra melhor, só consegui esta). A mais frequente e nem por isso menos horrível costuma ser o “mau exemplo”, - (tive uma pequena convulsão) - , principalmente para as crianças”. A quem se quer enganar? É segredo para alguém que as crianças, como os animais, nascem naturais, sem preconceitos, sem amarras e lidam com sua própria natureza muito melhor do que adultos. Crianças não se chocam com desejos, com vontades. Só sentem. Só querem. Só intuem. Puramente e lindamente. Os incomodados, contaminados, preconceituosos e atrasados são os adultos. E como são.
Mas, ah, o exemplo!!!!!!!! É, também acho um péssimo exemplo um beijo de língua bem gay na novela, entre o casal mais
honestamente apaixonado ali, com suas diferenças e defeitos (Felix dá-vontade-de-ser-melhor-amiga-dele e Nico fofuxinho dá-vontade-de-apertar-e-colocar-no-colo). É,
os outros têm razão, não não, beijos entre homens não. Acho mesmo que deveríamos
incentivar mais os outros ótimos exemplos que são dados nesta novela linda.
Como jogar crianças em caçambas, roubar o bebê de outro casal, casar por
interesse, roubar todo o dinheiro do marido que você envenenou até ficar cego,
deixar seu bebê desnutrido enquanto você tenta matar o mesmo marido cego, o
amante, enterra a tia no jardim, amarra a médica no quintal e derruba uma
velhinha manca. Ah, o exemplo! Nossas novelas brasileiras que inspiram nossas
crianças a serem melhores. Realmente beijos gays, bem gays, cheios de purpurina
ou não, com sexo depois ou não, com tudo aquilo que se tem direito são um
péssimo exemplo. #ironia.
Não consigo achar normal e não querer gritar. Não consigo entender quem não consegue enxergar do que estamos tratando aqui. Pelo AMOR à vida (e não foi um trocadilho como nome da novela, mas só não pedi pelo AMOR de Deus, porque ele não tem absolutamente nada a ver com isso)! Como pode? Mas é isso. Enquanto não formos, junto com outras sociedades super evoluídas como o Paquistão ou a Nigéria, #ironiadenovo, capazes de lidar com o outro, diferente ou não, da mesma cor, com os mesmos desejos, com os mesmos valores, ou não, seremos uma sociedade assim, que me envergonha. E o “assim” mereceria outros tantos posts.
Honestamente? Na falta de outro sentimento melhor, tenho é pena de quem tem medo de homossexualidade, de que tem medo da manifestação livre de desejos. Tenho pena de nós, que não conseguimos ensinar às nossas crianças a serem felizes sendo o melhor do que são. Tenho pena mesmo, quase compaixão (quando não é raiva), de uma sociedade que prefere fingir que certas coisas não são como são, ao invés de permitir a si mesma o exercício bonito e livre de algo que nasce com cada um e é produzido antes mesmo do amor, que é o desejo.
Não consigo achar normal e não querer gritar. Não consigo entender quem não consegue enxergar do que estamos tratando aqui. Pelo AMOR à vida (e não foi um trocadilho como nome da novela, mas só não pedi pelo AMOR de Deus, porque ele não tem absolutamente nada a ver com isso)! Como pode? Mas é isso. Enquanto não formos, junto com outras sociedades super evoluídas como o Paquistão ou a Nigéria, #ironiadenovo, capazes de lidar com o outro, diferente ou não, da mesma cor, com os mesmos desejos, com os mesmos valores, ou não, seremos uma sociedade assim, que me envergonha. E o “assim” mereceria outros tantos posts.
Honestamente? Na falta de outro sentimento melhor, tenho é pena de quem tem medo de homossexualidade, de que tem medo da manifestação livre de desejos. Tenho pena de nós, que não conseguimos ensinar às nossas crianças a serem felizes sendo o melhor do que são. Tenho pena mesmo, quase compaixão (quando não é raiva), de uma sociedade que prefere fingir que certas coisas não são como são, ao invés de permitir a si mesma o exercício bonito e livre de algo que nasce com cada um e é produzido antes mesmo do amor, que é o desejo.
Somos todos nós, seres humanos, uma sucessão de desejos e sentimentos, que reprimidos geram crianças e adultos da geração “psiquiatria”, que compra a felicidade embalada nas farmácias, que não consegue seautoconhecer, se autoentender, se autoaceitar.
Antes de eu vir para França, muitas pessoas me disseram que talvez eu não voltasse nunca, e isso é assunto para um outro post. Mas posso dizer com certeza de quem tem o coração disparado muitas vezes ao dia, que aqui sinto por muito mais vezes que meu mundo inventado existe de outras formas na realidade. Ser e deixar ser, viver e deixar viver, amar e deixar amar. Porque na rua, na chuva, na fazenda ou em uma casinha de sapê, aqui o que está na moda ser exatamente aquilo que se é.
Eu, sigo de dedos cruzados, para que antes do que eu desejo os moralistas (e eu nunca achei que uma palavra fosse tão mal usado como “moral”) possam assistir a muitos beijos de amor entre dois homens, um homem e uma mulher, duas mulheres. Porque é disso que as pessoas precisam, de amor e liberdade, caminhando juntos, para que não hajam desejos reprimidos, mal vividos, encubados, estes sim, responsáveis por boa parte daquilo de ruim que se vê por ai.
Torne as pessoas livres e felizes e elas vão entender aonde querem ir. Tire de uma criança a possibilidade de achar que o desejo dela mora no coleguinha do mesmo sexo e não na do sexo oposto, tire de uma menininha a possibilidade de brincar com o carrinho e não com a boneca, tire das crianças a beleza de reagir naturalmente àquilo que o corpo delas pede e crie, então, um adulto que vai ter que passar a vida tentando curar os males que a humanidade lhe causou, sem talvez nunca conseguir.
Hoje, quando acordei, vi nas minhas redes sociais uma multidão gritando em uma só voz: "até que enfim!". E até que enfim mesmo alguém acordou e colocou dois homens apaixonados se beijando na novela. Senti um alívio. Uma alegria. Senti uma vontade de dar um grito. Depois fechei os olhos e torci para que os próximos beijos gays não precisem de mais vinte anos, de um último capítulo e de tanto alarde para acontecer. A próxima novela vem ai e eu espero que desde o primeiro capítulos tenham muitos beijos, paixões e cenas de amor em todas as suas formas.
O silêncio de quem eventualmente não tenha gostado me dá uma luzinha de esperança, de que a partir de agora mais do que antes quem tenha que viver enrustido e reprimido, com vergonha de ser como é, sejam as pessoas que cheias de preconceitos ainda não conseguiram viver e aceitar bem o amor em todas as suas formas. Estarei completa quando assuntos como este não precisem de ser tornar um post.
Um viva a coisa mais linda do mundo que é a liberdade. Uma
vaia para coisa mais triste do mundo que é o preconceito. E um dedo cruzado
para toda forma de amor.
Não, absolutamente, não é só por um beijo.
Não, absolutamente, não é só por um beijo.
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