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Encontros.



O que eu procuro tanto? Em que busca incessante mergulho todos os dias a fim de realizar este encontro? É possível chegar no lugar certo, quando não se sabe para onde está indo? Isto significa que nunca vou encontrar o que procuro ou que qualquer lugar vai servir?
O que eu sei é que preciso primeiro me sentir viva. Quando algum sinal de amor me causa alguma sensação que percorre todas as terminações nervosas do meu corpo, me faz sentir o coração bater quando descanso minha mão sobre meu peito, me faz sentir arrepiar aqueles pelinhos invisíveis, - pronto, estou viva -, está aí meu ponto de partida.

Depois eu penso. Tenho que sentir primeiro. E se eu sinto, eu vou. Aí eu vou mesmo. Às vezes em alta velocidade, às vezes caminhando tão devagar que dá para duvidar se vou chegar. Mas se estou dentro, estou, porque aí dá para fazer. Certo? Mais ou menos.


É aqui meu desacerto. Se não depende só de mim e do destino vão haver outras barreiras. Meu querer, minha mola propulsora, o que me motiva... meu, meu, meu, percebe?  É tudo meu e só meu. E o que é do outro eu não toco, eu não altero, eu não escrevo. Minha biografia só inclui meus passos, meu ponto de vista, minhas vontades. No outro mora o que eu não sei, o que eu não posso pegar, o que eu só imagino.

Por isso nunca tive tanto apreço por mim, por fazer aquilo que dependa só de mim. A viagem, o percurso, o caminho, o objetivo. A ida. A fuga. O caminho contrário. Os planos que parecem grandes demais e por isso não tive coragem de dividir com ninguém ainda. Mas tudo vai vir à tona, tudo vira verdade, porque depende só de mim.
Os encontros. O que faz sentido na vida senão os encontros? Mas só nos encontros interiores a liberdade é integral. E minha liberdade reside exatamente ai. Só aí. Só aonde me sinto sob controle consigo me sentir livre, só consigo me sentir livre onde o incerto é obra apenas do destino e da atuação orquestrada que ele faz com nossos caminhos.

E outro alguém terá condições de me conceder esta tal liberdade? De me levar a um lugar seguro, onde o tempo, a sintonia, a cadência conduzam duas almas a um único encontro?
Meu tempo é meu, não é seu, não é de ninguém mais. E ele não espera. Minha espera é apressada. Meu encontro tem que ser agora, porque amanhã é o hoje de ontem e voltamos sempre para uma vida que  só acontece no agora. É por isso que minha solidão parece nata e parece um bom lugar para morar.

Confortável, seguro? Reação, sintoma? Equipamento de proteção? Talvez. Mas não há lugar melhor que este. Fica tudo organizado por aqui. E quando está bagunçado sobra mesmo é para eu arrumar. É partindo daqui que mesmo sem saber para onde ir, chego sempre em bons lugares. E encontro minha paz. E é preciso paz para poder sorrir. E me encontro, então.


Muita gente aí fora me acha estranha, diferente. Estranha não sei se é a melhor palavra. Diferente, talvez.  Talvez sim, eu esteja no tempo errado, fazendo o caminho inverso. E depende sempre da ótica de quem olha, mas talvez, sim, eu ache que está tudo fora de lugar.

Fato: ou estou eu fora, ou o resto está.
E meus sonhos, minhas hipóteses, minhas utopias, meus ideais de completude talvez pareçam exatamente incompletos para alguns. Para mim é oposto. Preenche, direciona, ocupa. Ocupa meus melhores vazios. Não é só liberdade, é independência, é algo mais próximo daquilo que a Martha disse, sobre estar onde quero, porque quero, com quem eu quero. E isso só pode ser feito integralmente quando não depende do outro.
Eu pareço não ser tão clara, às vezes. Tenho isso de sugerir que o melhor não está escrito. Às vezes não está mesmo. Às vezes está nas entrelinhas. Às vezes está mais claro que o sol que cobriu meus papéis, livros e processos, quando entrou na minha janela , - desta vez sem metáforas -, neste feriado me dizendo mil coisas. 

Complicando. Descomplicando. Explicando. Não sou um segredo, sou uma confissão. Não sou um segredo, sou um mistério. Não sou um segredo, sou aquela senha que já vem de fábrica com o cadeado vagabundo. Não sou um segredo, sou uma resposta.


Só quando eu aceito, eu me encontro. Só quando me encontro, o que está a flor da pele transborda. Só quando eu transbordo, fica para trás. Só neste momento dá para não aceitar menos do que eu mereço, nem me contentar com pouco. 


Só neste exato momento a vida acontece do meu jeito. E quando eu não preciso mais de ninguém os verdadeiros encontros e desencontros acontecem. Então, eu encontro meu lugar, meu lar. Então, alguém bate na porta e às vezes, por tantas vezes, é tarde demais para eu atender. Porque depois de certa hora, janelas e portas são trancadas com chave. Quem está dentro não sai. E quem está fora a este tempo não entra mais.

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