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Enquanto eu quiser.



Alguns meses depois e aqui estou: voltei.

Madrugada de segunda-feira, uma semana por começar, após um fim de semana equilibrado e leve. Desliguei o telefone (e sabemos que ligações de madrugada são as melhores, sem máscaras, filtros e escudo), fechei os olhos e eles se abriram de novo. O sono sumiu.

Minha terapeuta (sim, eu me rendi à terapia, mas isso é assunto para outro post)... Como eu ia dizendo, minha terapeuta disse que insônias são um sinal do corpo dizendo que dormir não é a prioridade quando há coisas mais importantes para se resolver. Corpo em risco não dorme. Corpo, cabeça ou coração feridos não querem dormir. Corpo se fere quando a saúde e alimentação não vão bem; cabeça se fere quando estamos em turbulência ou mudança; coração se fere... bom, coração não se fere, mas às vezes é ferido de contra-paixão, de não-amizade, de des-amor, no sentido mais amplo que se possa dar a paixão, amizade e amor.

Na verdade o momento exato em que acendi as luzes e vim para o caderno foi outro. Depois de perder o sono, assentei no chão do quarto, ao lado do interruptor onde meu telefone recarregava a bateria. Fiquei ali uns minutos acessando uma ou outra rede social e gastando as últimas vidas do joguinho dos doces, até que me peguei no melhor escuro do mundo, com a cabeça apoiada sobre meus joelhos, sentindo o cheirinho de baunilha do meu creme, de olhos fechados, ouvindo a musiquinha do domingo When I was your Man na voz doce do Bruno Mars.

Ali eu entendi que eu queria voltar a escrever. Ali eu entendi que voltei a precisar mais das palavras do que elas precisam às vezes do tempo que concedo a elas. Enquanto eu estive ausente muitas pessoas me perguntaram se eu não estava sentindo falta de escrever. Na verdade eu nunca paro de escrever, paro em alguns momentos de publicar.

Publicar é sempre, ao menos em tese, me mostrar demais. É deixar a janela aberta. Realidade ou ficção o que eu publico são verdades minhas. E com verdade não se brinca. Há muito envolvido por trás de cada palavra. Cada coisa dita guarda por trás de si um milhão de outras não ditas. E quem tem olhos para ver, enxerga bem aí.

Eu sou da janela aberta, do sol batendo forte no meu mundo, de vento batendo no rosto, das gotinhas de água que ficam na garrafa de vinho rosê refletindo brilhantes quando a luz do dia bate sobre elas. Mas me dê as sombras da luz das velas, pernas frias de fora sob um bom cobertor, o silêncio do vinho tinto e meu computador e este também é meu lugar.

Meus melhores companheiros na vida são as palavras e o silêncio. Mas eles, como sol e lua, não se encontram nunca. Um só vive na morte do outro. E só dentro de mim eles podem existir ao mesmo tempo, quando eu sou melhor, quando me calo mesmo tendo muito a dizer.

Sempre fui de verbos, de explicar, de entender e perguntar. Mas também sou de calar o mais importante, de não dizer aquilo que aprendi que não se deve explicar, porque o destinatário não vai mesmo entender. A verdade é que aqui não fico submetida a nada. Posso não ser coisa alguma, posso ser qualquer coisa, mas posso ser, principalmente, o que eu quiser ou bem entender.

De volta; enquanto eu quiser.

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