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Desculpas antes que o ano vire.



Fim do ano e sempre me despeço por estes dias. Natal, virada de ano. Natural que as pessoas agradeçam e renovem os pedidos para os próximos 365 dias que neste momento se parecem centenas de oportunidades de fazer tudo diferente. Neste ano não vou seguir o protocolo, não vou renovar os pedidos um a um porque 2012 me mostrou que nossos planos, nossas intenções não tem muita vontade própria. O destino se desenha como quer e nossa luta é para se desviar aqui e ali do que não parece o ideal. Também não vou agradecer, ainda que eu tivesse motivos para isso, porque gratidão é atitude, é referência, é coerência e não um amontoado de palavras soltas e sem sentido.

Para fugir do clichê hoje eu vou fazer diferente e vou me desculpar enquanto é tempo e antes do ano virar, vou me desculpar comigo e com vocês. Peço sinceras desculpas por desrespeitar meu destino, por ter desacatado o que eu senti por mais de uma vez, por ter encerrado tanto vida, por ter alterado o curso da minha história, negligenciado meus instintos e eliminado chances quando eram um mero pressentimento.

Peço sinceras desculpas por quando fui frágil, por não ter segurado lágrimas na sua frente, em público e no escuro do meu quarto. Peço sinceras desculpas por ter chamado minha covardia de coragem, por tomar decisões importantes em dez segundos, por não dizer minha decepção quando você me fez ser algo que não mora em mim.

Peço sinceras desculpas por não ter assumido certas responsabilidades, por não saber a hora de parar, por não ter aprendido a dizer não, por estar vulnerável por paixão. Peço desculpas por ter negligenciado meu sentimento, o seu, o dele. Peço desculpas por não ter te dado a chance de viver em mim.

Peço desculpas se te julguei mal, se te julguei por uma atitude isolada, se te julguei simplesmente. Peço desculpas por me oferecer corpo, quando tinha um sorriso tão sincero para te oferecer. Peço desculpas por não ter te dito que também moram sentimentos ruins em mim, que eu te achei egoísta, frio, leviano e senti raiva. Peço desculpas pela raiva que eu senti.

Peço desculpas por não ter associado música alguma à você, mas não quis estragar músicas que eu gostasse. Peço desculpas por não ter atendido sua ligação naquela madrugada mesmo imaginando que você se doía e se sentia sozinho. E por ter desejado que seu plano não se realizasse por não fazer parte dele.

Peço desculpas por sentir que fiz menos do que eu pude. Desculpas por querer receber aquilo que você nem tinha para dar. Desculpas por colocar em você uma expectativa que nem em mim eu aceito que depositem. Desculpas muito sinceras por ter tentado esquecer você e desculpas por não ter conseguido. Desculpas por não ter dito mais vezes o que eu sentia. E desculpas pelas vezes que eu disse.

Peço desculpas por ter usado as entrelinhas e na sequência sido tão assustadoramente clara. Peço desculpas por não ter tempo de deixar subentendido e precisar gritar o que eu sinto e quero. Peço desculpas por ter o ego do tamanho do mundo e não ter sido treinada ao não. Peço desculpas por não ter te abraçado tanto e por ter estado conectada por tempo demais ao seu lado.

Peço desculpas por não saber o jeito certo de te pedir para mim. Por te deixar ir embora. Por deixar a vida seguir sem você. Peço desculpas por guardar em mim tanta vida que era para eu colocar pra fora. Peço desculpas pela falta de habilidade. Peço desculpa por entender sua decisão como medo e a minha como coragem, quando vai ver é tudo ao contrário. Agora, daqui, a vida inteira é que parece ao contrário e parece que ninguém reparou.

Desculpas a mim e a vocês. Desculpas que eu encerro o ano aceitando, me perdoando. Pra viver. Pra seguir em frente. Pra virar a página. Espero que você me desculpe também. Espero que você se desculpe também. Até o ano que vem.

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