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Do que aprendi com eles.

Dia dos professores. E minha homenagem para eles vai através das duas pessoas mais importantes na minha vida. Meus pais são envolvidos com educação desde seus primeiros anos de trabalho. Não trabalham mais dentro da sala de aula, mas construíram tudo que tem investindo nisso com muito amor, ensinando aquilo que aprenderam nas especializações e na vida. Independente do belo trabalho que os vejo realizar, sinto que aquilo que de mais importante ficou na história foi o que me ensinaram e que por outras vias também alcançou a centenas de pessoas. É aquilo que ultrapassa a grade curricular e permitiu que eu fosse hoje Dra. Luísa, Xú, Lú, Luli, Magrela, Morena, Pequena, Xulispa, Da minha janela. Professores são almas livres, pessoas que não envelhecem, que não param no tempo, que estão dispostos a doar o que sabem, a dividir o melhor de si mesmos, a passar a vida tentando ensinar a própria vida para jovens para quem o céu é o limite.
 
Comigo também foi assim. Cresci dentro da minha casa e aprendi tudo que sei ali. Desaprendi muita coisa na rua, é verdade. Mas o que há de bom, veio de dentro. Educada por eles pude muito. Pude ser mais conteúdo do que imagem. Pude entender como acertar. E me perdoar pelos enganos, que não foram muitos, mas existiram. E existindo me ensinaram a ser honesta comigo mesma. Meus pais me ensinaram o valor do amor. O prazer da liberdade. E como ela só tem graça quando se tem para onde voltar. E como ela dói se for mal usada. Meus pais me ensinaram a me levantar do chão após cair em queda dura com a morte do meu irmão. Meus pais me ensinaram que eu posso ser quem eu quiser. Que as pessoas podem ser quem são. E que só temos o direito de gostar ou não gostar de quem conhecemos de verdade. E precisamos nos dar o direito de conhecer a fundo cada um que cruza nosso caminho. E entender que nada é por acaso, nem a passagem das pessoas por nossas vidas, nem a permanência delas. Meus pais me ensinaram a ser uma risada ambulante, uma gargalhada fácil, um sorriso doce. Meus pais me ensinaram o prazer das palavras, escritas, ditas e lidas. E também me ensinaram o valor do silêncio. Meus pais me ensinaram a dar valor ao beijo sincero, ao carinho bem dado, ao querer bem das pessoas. Meus pais me ensinaram a resgatar sempre aquilo que a vida vai tirando de nós, como a inocência. E buscar aquilo que há de melhor em mim. E me ensinaram a me amar mais. E amar tanto o outro quanto eu gostaria de ser amada. E me ensinaram paciência. E me ensinaram a ser e fazer tudo diferente do que eu aprendi sem perder o norte para onde minha bússola aponta. Meus pais me ensinaram o prazer de viajar; de fazer as malas, rodar o mundo. E o prazer de voltar para casa. Meus pais me ensinaram que tenho que ter todos os desejos dentro do peito. Me ensinaram a boa música (também amo pagode e sertanejo). E me ensinaram a gostar do que e de quem me faz sentir viva, mesmo que os outros não achem aquilo necessariamente bom. E me ensinaram a entregar para as pessoas o que eu tenho de melhor.

E se eles não me ensinaram tudo isso, eles certamente me ensinaram como aprender. Pelo caminho mais duro ou mais fácil, mais curto ou mais longo, mais sofrido ou mais simples. Mas me apontaram a direção. E me permitiram ser o que eu escolhi ser.

Meus pais me ensinaram a aprender com os erros deles também. E aprendi entendendo que pais são meio heróis, mas também são meio humanos. E vão errar, talvez nos magoar, talvez ser magoados. Mas são aqueles que vão sempre estar lá. Nos sorrir com doçura. Prometer que tudo sempre vai ficar bem de um jeito que dá para acreditar. Nos ensinar a ser doces, além de tudo. Fortes, além de tudo. Filhos, além de tudo. Alunos, além de tudo. Para nunca perder o jeito de aprender. Para nunca deixar de saber que a vida sempre tem o que ensinar.

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