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Aos pés e corações des-aquecidos.

Dia 12 de junho. Dia dos namorados. Dia lindo, não? Lindo, mas talvez nem tanto.

Para os solteiros, ou melhor, para boa parte deles o dia não parece ter nada de tão lindo assim. É que assistir a 237 ações de marketing contendo corações vermelho-sangue, banners de “o-fotógrafo-captou-o-segundo-que-antecede-o-beijo” e dezenas de postagens nas redes de relacionamentos da dobradinha flores&bombons estampando os perfis pode parecer bem sem graça para quem não tem um par para chamar de seu.

Ter alguém para esquentar o pé e o coração neste dia frio parece proposta boa demais para não se aderir. Mas por si só me soa meio como propaganda enganosa. Primeiro, os pés vão continuar frios porque até onde sei é plena terça-feira útil e ninguém vai se enfiar de dupla, com filme e pipoca debaixo das cobertas no meio do expediente. Segundo, flores e bombons com data marcada não são lenha para aquelas fogueiras que soltam suas últimas faíscas diante dos ciúmes exagerados, implicâncias sem motivos, rotinas tediosas, asperezas e gritos, amores ruins.

Quem tem pé e coração aquecido tem pé e coração aquecido o ano inteiro. E sei que está cheio de dupla por aí que não tem nem um, nem outro. Acreditem, solteirinhos do meu coração, metade da felicidade estampada em cada esquina e perfil de site de relacionamento não retrata muito bem o que está ali por trás, mas isso é assunto para outra hora. Estatisticamente, talvez até mais que metade, aliás. E nem é uma crítica a ninguém. Pode ser que seja eu mesma fazendo isso em algum momento, pode ser até que já tenha feito. É do ser humano; é uma tentativa, uma chance. Nem tudo é o que parece ser. Não estou desmerecendo este dia. Eu, aliás, também já postei minha foto, troquei mensagens de amor e agradeci por ter tido um bom alguém ao meu lado em bons momentos da vida.

Mas, sinceramente, ter alguém por si só não é nada. Não queira simplesmente um par, porque é pedido genérico demais. Queira e aprenda primeiro a felicidade com a melhor companhia que pode existir, que é você mesmo. Antes de pegar a estrada em busca do seu destino pare para fazer a revisão. Troque o óleo, calibre os pneus, dê balanceamento e alinhamento; cuide de si, da sua mente e de seu coração, compre um livro ou uma roupa nova, aprenda a almoçar assentado sozinho em um restaurante lotado, descubra prazeres que morem no seu particular. Tenha um mundo infinito particular.

No dia da consciência negra eu, branquela, não quis mudar de cor. Na Páscoa não quis morrer para renascer outra vez (apesar de que não seria tão má idéia). No dia do médico não quis fazer medicina. E acho que você também não. Então no dia dos namorados, não queira alterar o status de relacionamento.

Nascemos sozinhos, somos essencial e naturalmente sozinhos. Nos agrupamos, primeiramente, por uma questão de sobrevivência, instinto. Uma coisa animal. Ter namorado é uma coisa, sentir amor é outra bem diferente. Precisar de um namorado para ser feliz é garantia de não ser feliz quando encontrar um. Não deveria valer superestimar algo que só tem valor se a tal revisão tiver sido feita. Senão, o pneu vai furar ou o motor vai fundir.

Ter alguém é gostoso, mas não garante a felicidade de ninguém. Não ter ninguém é sinônimo de que se está sozinho, não solitário. É simples ou deveria ser. Mais que isso é ilusão, menos que isso é desilusão.

É totalmente impossível ser feliz sozinho.

Feliz dia dos namorados aos solteiros.

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