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Brisa leve, bomba atômica.


E foi nesta última semana mesmo que, não pela primeira vez, me perguntaram se o que está escrito aqui é tudo verdade ou não. Difícil responder a esta pergunta. Posso dizer para começar que o que está no blog é real. Existe mesmo. É alguma verdade minha. Mesmo que seja um tipo de verdade inventada. Isso aqui é meu mundo. Onde me organizo, onde me construo, onde me reconstruo. É o modo que eu inventei de me encontrar quando eu me perco. De me refazer quando me quebro. De me reconstruir quando me despedaço. De me mostrar quando estou guardada. De me esconder quando estou exposta demais. É uma deixa, uma entrega, uma dica. É um grito, um pedido, um alívio. É isso tudo e não é nada disso. É um amontoado das verdades mais doloridas e escancaradas que só ficam expostas aos olhos de quem quer ver. Aos olhos de quem sabe ver. E é uma fuga, um jeito de correr sem olhar para trás, de pular sem ter como voltar. O que está gravado não se apaga mais. É meu caminho. Ou uma narrativa distorcida dele. Ou simples. Tão simples que parece dizer algo que não diz. Ou diz o que na verdade parece não dizer. É sem medo. O blog é sem medo. É impensado. É desconexo. Mas faz sentido. É um quebra-cabeça de duas peças. Existe. É real. Tudo que está aqui aconteceu em mim. Não quer dizer que tenha acontecido comigo. Pode ser uma premonição, uma intuição. Pode estar guardado naquela gaveta de tranqueiras de décadas passadas. E pode até ter acontecido ontem mesmo. Ou pode ser só algo que explodiu em mim. Que nasceu e morreu dentro do peito. Feito brisa leve, feito bomba atômica. Mas que ficou por ali. Entre um piscar de olhos, entre um suspiro. Mas é sempre algo em que eu acredite. E para eu acreditar tem que quase dar para pegar. Acreditar. Talvez quando eu tenha criado o blog eu precisasse só disso. De saber que as pessoas podem acreditar em mim. Porque sou real. Porque sou muito mais do que se vê. Mas preciso de ser vista de algum modo. Preciso de um universo meu. De um criar livre. De uma liberdade minha. De algo que ninguém possa me tomar. De um modo que ninguém possa interferir. Ninguém precisa gostar do que lê, ninguém precisa concordar com o que lê, mas as pessoas tem que saber que é verdade. Vista, vivida ou inventada. Mas minha. A regra aqui é só uma: não há regras. Só aqui eu não preciso de saber para onde estou indo. Só aqui eu posso chegar a qualquer lugar. Minhas ausências dizem algo. Minhas palavras dizem mais do que está escrito. Um lugar só meu. Um lugar para onde corro sem precisar sair do lugar. Um mundo mágico capaz de me devolver de imediato a inocência, a ingenuidade, a suavidade que me recuso a perder mesmo quando já se foi. Um curativo para as dores da alma. Um porta-treco para as emoções do coração. Um Ctrl+Alt+Del para um sistema em pane. Um jeito de deixar mais de mim do que uma imagem, uma atitude ou um retrato. Porque ao contrário do que possam dizer palavras nunca serão apenas palavras. Meu atalho, meu caminho mais curto. Minha parte preferida disso ainda é o que ninguém vê. Ou aquilo que só vê quem tem olhos de enxergar. É verdade? É mentira? É real.

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