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Mostrando postagens de março, 2011

Um jeito de levar a vida.

Sempre se espera muito do outro. Sempre esperam muito de mim. Sou a primeira da fila sempre ali, a me observar. A achar que eu podia ser melhor. É isso que costumar vir à minha cabeça: podia ter me saído melhor. O trabalho, a prova, o conselho. Como filha, amiga, namorada. Como pessoa. Eu acredito nas pessoas, mas o ser humano é muito imperfeito. É mesquinho, egoísta. Sente inveja, luxúria. É fútil, leviano. Eu também sou humana. Também tenho sentimentos com os quais, digo, contra os quais luto constantemente. Sempre esperando ser melhor. Como os outros esperam. Mas e se eu não puder? E se não conseguir? E se minhas imperfeições não permitirem que eu seja tudo aquilo que sonho, quero, preciso ser. Esta imperfeição não é só minha. A aflição também não deveria ser. Quantas vezes você já parou para pensar se é tudo aquilo que finge ser, que acredita ser? Mesmo não sendo. Autoconhecimento é a palavra da minha vida. E assusta. Me conhecer tanto assusta. É que nem sempre ao me olhar assisto...

(Não) são só palavras.

Eu não escrevo por prazer. Nem porque eu gosto. Quer dizer, não é só por prazer, nem só por gostar. Eu escrevo mesmo porque eu preciso. Porque me encontro, me acho, me coloco, me recoloco. Porque é o caminho mais curto até mim. Escrevo quando tenho algo a dizer. E quando não tenho nada a dizer também. É sempre uma maneira de me encontrar. Tudo que eu sinto vem parar aqui. Bom ou ruim. Doce ou rude. Azeda ou feliz. Pesado ou leve. Em palavras ou em entrelinhas. Em posts ou em ausências. É que não escrevo pelos outros. É por mim. É pra mim. Pelo menos primeiro é assim. Às vezes me dizem: “escreve mais; fala sobre isso ou aquilo; não fica tanto tempo sem postar.” É que eu não posso. Não é uma escolha. Toda ausência tem um sentido. Todas as palavras novas também. Entende? Não é uma opção. É sempre um processo. Escrever é. Publicar, também. É um jeito de me entender, de te entender. De te fazer me entender. Ou des-entender. É uma forma de não dizer. E uma forma de ao mesmo tempo dizer. Eu s...

Só mais uma de amor.

Ela era dele. Ele não era dela. Não era segredo pra ninguém, no fundo, acho que nem pra ela própria. Aquela morena apaixonada, cheia de sonhos de princesa com um sorriso escancarado e inocente, carregava dezenas de ilusões depositadas sobre aquele com características de sapo, que nunca viraria príncipe. Mas quem iria saber que não? Ela iria. Estava calor, tinha biquíni, caipivodka, cerveja, churrasco. E também um celular tocando esquecido em cima da mesa daquele quiosque. O bobo alegre a olhou de dentro da piscina e com um olhar inocente a pediu pra interromper a música do Charlie Brown Jr. que servia de toque pro seu celular, o fazendo parecer mesmo um carinha sempre na área, com escritório na praia. Ela, prestativa e doce, foi atender. Na tela do celular, a caixa de entrada das mensagens anunciou um contato freqüente, quase infindável, entre ele e uma desconhecida de nome não familiar. Enquanto ele ria e se divertia na piscina, ela variou entre a náusea, ânsia e os enjôos que a separ...

Eu só não aceito.

Que leio três ou quatro livros de cada vez e demoro meses para terminar, a maioria já sabe. Um dos que estava a ler nas férias de fim de ano me irritou e me pôs para pensar. O autor faz uma gracinha e me fez acreditar que um dos personagens principais tinha morrido. E fez isso no fim do que, se não me engano, era o penúltimo capítulo. Eu, que estava ali, na beira da piscina, com meu chapéuzinho para cobrir o rosto de branquela, lendo feliz da vida, sem soltar o livro desde o dia em que cheguei, me deparei com esta informação: Daniel morreu. Levantei, coloquei o livro em cima da mesa e fiquei lá, revoltada, chiliquenta, mal humorada, com o olho cheio de água. Fiquei com raiva do Carlos Ruiz Zafón. Fui nadar, andar de bicicleta, reforçar o protetor, p. da vida. Só conseguia pensar: "Não vou ler a parte que falta. Não aceito". É que não aceito mesmo. Não aceito finais-não-felizes. Deveria ser obrigatório que livros com histórias tristes tivessem continuação. Assim não i...