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Um pouquinho, só mais um pouquinho.


A história nem é recente. Já acontece no mundo desde os primórdios da humanidade. É mais ou menos o tal do disse-me-disse. Faz um tempinho e uma mocinha que eu não conheço, com quem não tenho amigos em comum e com quem nunca troquei uma única palavra resolveu sem ser consultada dar a alguém muito próximo de mim seu depoimento a meu respeito.

É, esta estranha desconhecida de nome esquisito, quis dar uma opinião pessoal ao meu respeito para uma pessoa com quem convivo há cerca de oito anos, quase um terço da minha inteira existência. Sem ser perguntada, ela quis opinar e opinou. Um depoimento pessoal e de natureza, a meu ver, negativa.

E por razões muito óbvias é claro que alguém que eu não conheço, que nunca olhou nos meus olhos, com quem nunca troquei nenhuma palavra, não merecia um post no meu blog, mas cá entre nós, aqui também tem espaço para as porcarias da humanidade e eu não posso querer viver sempre no mundo que eu inventei, sob pena de meu mundo inventado ser de mentira, e não é. Até nas histórias mais lindas, temos os vilões, a madrasta, o lobo-mau, então, não seria diferente aqui.

O depoimento da mocinha tinha conteúdo irrelevante, mas me remeteu a uma velha história. Me remeteu a minha já distante adolescência, quando conheci, - e acho que é quando de fato a maioria de nós conhece, - os seres humanos na sua pior versão. É o momento triste quando temos que deixar a ingenuidade de lado e entender que pela vida afora tem gente que vai ser ruim, apenas pelo prazer de ser, ou vai te fazer coisas ruins apenas pelo prazer de fazer.

A gente conhece a maldade, mas então o tempo passa e percebemos que aqueles seres tinham uma desculpa. Eram adolescentes, sem muito o que fazer, tendo seu primeiro contato com o pior que existe em si, testando sua habilidade de fazer mal a outro alguém, meio inconsequentes, sem muita capacidade de entender os efeitos disso para o outro. Depois que a gente cresce, a desculpa acaba. Quem é ruim, é ruim e pronto. Agora, sem desculpas.

Mas foi lá atrás, ainda menina, ainda com um pouco da ingenuidade que a vida não tinha levado inteira, que uma lição veio a tona para nunca mais ser esquecida: não interessa quanto bem você faz a quem está a sua volta, não interessa, porque na vida, definitivamente, a gente não colhe só o que planta. Não mesmo. Não interessa quanto você se esforce, alguém sempre vai ter algum motivo obscuro para não querer tanto seu bem assim, não interessa quanto esforço você coloque nesta coisa de viver.

Agora, no auge dos meus vinte e oito anos e lidando, à princípio, com pessoas com grau intelectual similar ao meu, ainda me surpreendo com algumas coisas. Para mim, ainda é curioso como as pessoas são bobas, como se preocupam com o que é pequeno demais, com o que não soma pontos na hora de acertar as contas no final. Ainda é curioso como as pessoas são irresponsáveis. Mas no meu mundo este tipo de pessoa se torna invisível.

Eu escolhi a forma como eu ia viver ainda muito jovem. Quando eu ainda não conseguia racionalizar minha escolha, mas escolhi, meio por intuição como eu ia me relacionar com o outro, com os outros, com os seres humanos (ou nem tão humanos assim) à  minha volta. E escolhi.

Para ganhar o coração de alguém não tive nunca que ser nada além de real. Nunca tive que ser nada além do que eu realmente sou para ser amada. E ser real representa ter uma história, um passado, uma trajetória, ter cometido erros e acertos, repetir alguns erros e não ter vergonha deles, que passam a nos conduzir para mais perto da excelência. Nos conduzem a um lugar onde o mínimo de desacertos são cometidos e nossas escolhas são motivadas pelas razões corretas.

A minha história vem nos meus ombros. Sou mulher, sou moleca, sou responsável. Sou princesa de rua, tenho pé no chão e asa nas costas, faço o que me dá na telha. Sou menina, filha orgulhosa, amiga leal, apaixonada por mim mesma, pela vida e por tudo que tem peso de pluma.

Mas assumi conscientemente as consequências das minhas atitudes por toda minha vida.

Aceitar que não existe a tal lei da compensação é difícil. Em tese se faço o bem, se digo o bem, se sinto o bem, era para eu receber tudo de volta. Era, mas se fosse assim tão fácil, não era vida, era morto, era morte. No caminho muitas vezes a gente recebe o que não encomendou, na caixa de correio aparece embrulho cheio daquilo que não mandamos trazer.

Mas cada um escolhe o jeito de fazer sua própria vida. E eu escolhi. Escolhi não desqualificar ninguém para tentar me qualificar. Escolhi não plantar maldades para tentar tornar piores histórias que eram melhores que as minhas. Escolhi não atacar quem eu não conheço e quem nunca me fez nada (e descobri que quem faz isso quer tirar o foco de si mesmo). Escolhi nunca entrar na vida de ninguém tentando ocupar o espaço que já foi de outra pessoa, mas sempre pretendendo um novo, só meu, com minha cara, meu formato e meu cheiro.

E, então, entendi que não importa como eu viva, algumas pessoas simplesmente vão escolher viver do pior jeito, distribuindo o que tem de ruim em si. Todos somos uma mistura de bom e ruim, mas escolher o que você transmite ao outro é opção de cada um. Eu fui muito mais honestamente gostada quando deixei de ser um personagem para agradar os outros e passei a fazer minhas escolhas para agradar primeiro a mim . Tive que desistir da unanimidade para isso, porque nem sempre dá para agradar a todos fazendo assim.

Mas o contrário também aconteceu. Se o bem que eu me propus a fazer era pensado para mim, o mesmo aconteceu com o mal. Daí em diante tudo que eu fiz na minha vida afetou em um primeiro momento quase que exclusivamente só a mim. Os frutos do bem e do mal foram colhidos um a um e destinados aquilo que se propuseram: a me tornar uma pessoa mais leve ou a me tornar uma pessoa melhor, ora pelo acerto, ora pelo erro.

Só fui honestamente gostada quando fui eu mesma e quando qualidades e defeitos, efeitos e defeitos que eu não tenho medo de mostrar foram capazes de ocupar os sonhos de alguma alma distraída, que me enxergou do jeito que eu sou e gostou do que viu.

Hoje eu vim escrever para lembrar a mim mesma que não interessa o que venha, pessoas invisíveis não tiram minha esperança em torno das pessoas que posso enxergar. Talvez quando passarem a parar de gastar tanta energia com algo que não trás nenhum retorno afetivo, então vão entender que se de um lado, às vezes coisas ruins aconteçam para pessoas boas, o contrário é mais coerente, porque toda maldade será no devido tempo castigada.

Felicidade incomoda, eu sei. Mas nunca vou esconder a minha por gente que eu nem posso enxergar. Sou um colete a prova de balas, não posso ser atravessada, mas apesar disso, me arranho. E todo arranhão, toda cicatriz fica aqui, me lembrando de reafirmar o compromisso que eu fiz com o meu caminho, de distribuir meu melhor, de modelar minha versão original e de mostrar sempre a versão mais real de mim mesma, porque para mim só faz sentido ser gostada assim.

É clichê, mas é verdade, se quiser ainda assim falar de mim, me chame, sei coisas terríveis a meu próprio respeito.

Mais amor, é só o que eu desejo, mais amor, por favor. Um pouquinho, só mais um pouquinho. A educação é para quem recebeu, mas ficar calado é uma opção democrática e serve para qualquer um. O que vier de ruim para mim, o que esmagar meu coração por até três segundos, eu devolvo em dobro, em forma de sorriso fácil, cartão postal ou borboletas. 


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