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Para beijar na chuva.


Pela ordem natural este post deveria ser aquele sobre minha viagem, sobre minha partida, sobre minha chegada.  Mas não tenho sido muito adepta da ordem natural ou estaria em uma outra vida, sonhando com um bando de coisas que eu nem acredito que existem.


Por isso o fim de ano chegou primeiro e com ele meu post da virada, que tem se tornado uma tradição para mim. Algo como o Especial de Natal do Roberto Carlos ou o Show da Virada do Faustão. Post de final de ano, então, tem todo fim de ano. A única condição aqui é que as sensações sejam novas e desde já fica meu pedido para que o universo renove meus desejos e que eles sejam mesmo diferentes a cada ano, e sejam alimentados por expectativas diferentes, sensações diferentes e sonhos diferentes.

E que haja, por isso, inspiração para que eu escreva a cada virada de ano e muitas vezes entre uma virada e outra, porque se isso não significa muito para as pessoas, para mim, significa sempre que eu estou viva. E só por este motivo escrevo: para me sentir viva ou por me sentir viva.

Tenho reparado os desejos de final de ano um pouco repetitivos e às vezes, por tantas vezes, que não correspondem àquilo que de fato eu desejo para mim. Eu desejo paz, mas por tantas vezes o que eu quero mesmo é seu oposto, que me aproxime mais de uma inquietação bem viva. Eu desejo muitos amigos, mas por tantas vezes só preciso de um deles, que me faça sentir que eu não preciso de nada além de ser o que eu realmente sou. Eu desejo um bom amor, mas às vezes só preciso mesmo de manter em erupção o amor que sinto por mim mesma. Eu desejo dinheiro, mas tantas vezes é não precisar dele que me faz entender o que de fato importa. Eu desejo tantas coisas, mas às vezes só desejo não precisar de nada disso.

 Então, por isso, meu desejo mais do que nunca é que seja possível a mim, - e a cada uma das pessoas da minha vida -, conseguir entender o que de fato eu desejo, o que motiva minhas vontades, o que impulsa minha vida para frente. É isso que faz diferença na vida, a razão pela qual me levanto da cama todos os dias com esta sensação querendo explodir do meu peito.

Então, vou fazer diferente. Hoje se eu pudesse desejar algo concreto para o ano que chega, seria, então, uma sensação. Das simples e incríveis. A sensação do beijo na chuva.

Beijos na chuva fazem o mundo girar em uma velocidade diferente.
Beijos na chuva mudam a frequência sonora do mundo e é como se toda a música que existe estivesse por ali naquela hora.
Beijos na chuva fazem o universo girar em torno do beijo e não o contrário.
Beijos na chuva anunciam um encontro de almas.
Beijos na chuva são uma não-despedida.
Beijos na chuva fazem duas pessoas se esquentar apenas no calor que sai uma da outra.
Beijos na chuva são um anúncio do que está por vir.
Beijos na chuva só saem de donos de bocas dispostos a se aventurar em outra vida.
Beijos na chuva têm cheiro de baunilha e liberdade.
Beijos na chuva tem textura de pés descalços.

Eu desejo, então, que o ano que vem traga muitos beijos na chuva. E se 2014 os trouxer, desejo que 2015 não os leve. E se 2014 os trouxer, dê as mãos com doçura e caminhe lado a lado com quem te deu tudo aquilo que hoje eu de coração te desejo. Dedos cruzados: para beijar na chuva.




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