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Fantasia na vida real.




Eu nunca escrevi sobre a Força do Bem até aqui, apesar de já ter tido inúmeras experiências que teriam valido postagens. Mas sempre pensei que cada um tem algo de si para dar e recebe de volta com base no que oferece. Evitei escrever para não correr o risco de alterar a percepção das pessoas com relação ao tipo de experiência que se pode viver ali, pois é bonito que seja um rol de possibilidades infinitas e lindas, vividas ao modo de cada um.

Ainda me lembro da minha primeira visita e já se vão alguns anos. Me lembro de chegar meio perdida, com uma certa timidez, -sim, eu juro  que em algumas situações sou tímida -, olhar aquele tanto de fantasias espalhadas e não fazer idéia do que exatamente eu estava indo fazer ali. Naquele dia fui uma fada, meio princesa, meio bailarina.

Da segunda visita em diante virei então, e definitivamente, a abelhinha. Era um tempo em que havia muito poucas fantasias fixas e eu poderia ter escolhido uma fantasia de menininha, porque afinal de contas toda mulher quer ser princesa. Mas tenho a sensação de que foi a fantasia que me escolheu e não o contrário. Hoje entendo que ser a abelhinha me concedeu a chance de ser mais boba, de ser meio destrambelhada, de ser doce, mas moleca e alcançar também os meninos que se não vêem tanta graça em princesas, acham a tal abelha bem acessível.

O sorriso tímido virou um montinho de gargalhadas leves e fáceis. O coque apertado virou um penteado solto, - o medo dos piolhos deu lugar a necessidade de sentir aquelas mãozinhas alisando meus cabelos. O toque sutil virou um balde de abraços infinitos. A falta de jeito virou uma atitude segura. Eu me transformei de verdade naquela abelhinha. A Força do Bem se transformou em uma parte do meu mundo, uma parte linda do meu mundo inventado.

A fantasia nos concede um espaço para nos doar em forma apenas do que é bonito na vida. Ficam os defeitos, os arranhões, as cicatrizes e ali sim, eu entrego uma Luísa que existe, mas que mora apenas nos melhores lugares de mim mesma. Ali eu me sinto inteiramente amor. E é um jeito bom de se sentir, não importa a situação.

Tão incrível quanto pareça, por algumas vezes fui questionada sobre expor este trabalho, o que me causa uma desesperança no ser humano que eu me recuso a abraçar. Estamos ai, diariamente, bombardeados com tantas vidas expostas no raio x das redes sociais e recebemos a todo tempo centenas de exemplos, de maus exemplos, de quem expõe preconceito, da era do Lulu, de quem pratica a não gentileza, a falta de educação, a violência.Eu, realmente, me sinto no direito de não ter que justificar o fato de me sentir dando um exemplo bom, algo feito pelo único caminho que eu aprendi em casa, o amor.

Não me sinto melhor que ninguém porque escolhi fazer isso na minha vida, mas me torno uma pessoa melhor a cada minuto em que toco de alguma forma na realidade destas crianças. Sou e somos todos ali humanos, imperfeitos, cheios de defeitos e impurezas, que vamos continuar tendo dentro ou fora do grupo. O que eu sei é que eu não aceito o mundo como ele é e estou brilhando um pontinho de luz para alterar aquilo que não tem um gosto bom. É um jeito de fazer minha parte. É uma forma de fazer diferença. É pelo outro, pelo próximo, por quem precisa, mas quem precisa disso em primeiro lugar sou eu mesma.

Estas últimas visitas são as últimas que vou fazer antes de viajar. E como é difícil deixar isso para trás. É difícil me despedir, saber que não vou ver mais estes olhinhos de inocência por um bom tempo. Saber que muitos deles serão perdidos de vista no percurso. É quase impossível evitar o pensamento de que a vida não vai ser fácil para maioria deles. Não tem o jeito mais fácil de me despedir, não tem como dar o sopro de esperança que queria que tocasse o rostinho de cada um destes pequenos que do pouco que tem na vida, o que menos tem é esperança.

Na última visita dois voluntários passaram o dia pintando o rostinho dos pequenos. E de repente, quando olhei para o lado lá estavam, Ísis e mais quatro pequenas com os rostinhos pintados de abelhinha. Me valeu uma vida, é só o que preciso para sobreviver. Tanta doçura, tanto carinho de quem só quer ser notado e receber algo que é de graça. Ali meu coração se transformou em um vulcãozinho em erupção de amor por saber que elas abriram mão de serem princesas para serem abelhinhas porque certamente nós estávamos falando a mesma língua. E nada é mais incrível na vida do que esta sensação, de falar a língua de alguém e se comunicar pelo sentimento de verdade.

Foram tardes incríveis e momentos inesquecíveis onde pequenas reações tiveram o tamanho do universo. Não poderia deixar de dizer que estar em contato com quem se dispõe a fazer isso acontecer também é parte essencial do processo de fazer o bem. Muitos super heróis, princesas, bichinhos que carregam almas leves por trás da pintura, sempre prontos para dar seu melhor. Uma turma muito especial que me ensinou muita coisa. Uma troca intensa de energia boa que eu quero levar para minha nova vida.

É hora da abelhinha voar para outros lugares. E eu vou sentir uma saudade danada deste pedacinho especial do mundo inventado em que eu vivo e que a Força do Bem me permitiu explorar fazendo fantasia com a vida real.

"Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca."

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